sexta-feira, 19 de março de 2021

A minha rinoplastia - parte 7: Q&A e apontamentos finais

Eis o último artigo. Nem acredito que já fez pouco mais de um mês desde que tenho um nariz novo e que consegui finalmente terminar a escrita deste meu testemunho. Ao dia de hoje, sinto-me extremamente bem. Sinto que já não me lembro sequer do meu antigo nariz, e poder respirar sem qualquer interferência é uma dávida, depois do quão aflitivos foram para mim os últimos anos, sem conseguir respirar a cem por cento. Por dentro, está curado, por fora, está mesmo muito bonito. Gosto muito de ver o novo nariz ao espelho, e, de certo modo, parece que esteve sempre ali. Não estranhei a diferença, que, ainda assim, foi alguma. Não parece, mas ainda está inchado, sobretudo na ponta, mas vai continuar a desinchar no decorrer dos próximos tempos, pois o seu aspeto final só fica estabilizado ao fim de 6-12 meses. Mas está muito natural, e o modo como ficou não faz adivinhar sequer que alguma vez tive outro nariz.


O antes e o depois (1 mês pós-cirurgia). Se, de frente, pouco ou nada parece que mudou, de perfil, a diferença é notória.

Por achar que havia algum interesse e espaço para algumas questões quanto à minha experiência, resolvi fazer deste último artigo uma secção de algumas perguntas e respostas, muitas delas colocadas nos últimos dias, por seguidores no Instagram, e que acho que são bastante pertinentes.


Posso alegar que tenho um falso desvio de septo para ter motivo suficiente para fazer uma rinoplastia?

Já tenho ouvido relatos de pessoas que dão a desculpa de que têm falsos desvios de septo para fazerem uma rinoplastia. Ou pessoas que tentam convencer as outras de que têm problemas respiratórios ou estéticos, inexistentes (como narizes tortos ou partidos, que na vedade não estão), numa tentativa de fazer com que a decisão de fazer uma rinoplastia pareça mais válida e justificável aos olhos de terceiros. Porque haveriam de fazer isso? Fazer uma cirurgia plástica, seja ela qual for, não tem de ter a validação ou permissão de mais ninguém, sem ser a nossa. Não tem de partir da vontade de mais ninguém, que não a nossa. Não tem de ser um tabu, uma vergonha ou um escândalo para ninguém, muito menos para as outras pessoas. Não tem que ter nenhuma outra justificação que não a de que vos dará felicidade ou melhor saúde. Fingir desvios e narizes tortos que na realidade não o são, nada faz por vocês e é um comportamento completamente desnecessário. 

O seguro de saúde cobre uma rinoplastia?

Regra geral, a rinoplastia não é paga pelos seguros de saúde, porque se trata de uma cirurgia estética, vista como um capricho. Há relatos de pessoas que conseguiram que o seguro a cobrasse no seu todo ou parcialmente, porque partiram o nariz num acidente, por exemplo, e tiveram de o reconstruir, com uma rinoplastia de reconstrução. As rinoplastias de reconstrução devolvem o aspeto anterior ao do acidente, apenas. Não melhoram o aspecto do nariz nem o embelezam. É um caso diferente em que creio que os seguros podem intervir a vosso favor. Também depende muito do tipo de seguro, das próprias seguradoras, dos acordos que os diferentes hospitais têm com elas, do hospital em si. Como não tenho seguro de saúde, não sei mais quanto a esta questão, e acho por bem informarem-se, junto das seguradoras e dos hospitais, acerca de todas as vossas dúvidas.

Se também tiver realmente  um desvio de septo ou outro problema a nível do nariz, o seguro de saúde já cobre a rinoplastia, ou a parte da septoplastia?

Uma coisa é bem certa: não vão pagar menos por alegarem terem problemas de saúde que, após exames, se vai constatar que não estão lá. E se houverem, de facto, problemas, como foi o meu caso, os seguros apenas podem cobrir a parte funcional da cirurgia desde que nunca tenha havido um historial de intervenções médicas sobre os problemas respiratórios de que se queixam. Como eu andei anos em hospitais, a ser atendida por médicos, a fazer exames, e fui inclusivamente operada ao nariz, antes da rinoseptoplastia, tudo isso é informação para que os seguros de saúde não possam cobrir a situação: Como é sabido, os seguros de saúde apenas cobrem problemas que se manifestem no futuro, e servem para preveni-los; nunca vão cobrir problemas dos quais já se queixam e dos quais têm um rasto médico. Mesmo que quisesse ter-me metido num seguro, de propósito para a rinoplastia (mesmo esta incluíndo a septoplastia), ele não iria cobrir nada dela, por muito que provasse os meus problemas no septo; porque estes contavam já com um grande historial médico. De qualquer forma, nada como informarem-se e tirarem dúvidas sobre os vossos casos particulares.

Porquê a escolha do serviço privado? Não se fazem rinoplastias no público?

A minha preferência por ser atendida num hospital privado prendeu-se, primeiro, com o facto de que tive más experiências com o serviço público, ao longo de mais de uma década; Desde médicos muito pouco profissionais que desfaziam das minhas queixas e que inlcusive troçavam de mim, até um diagnóstico mal indicado que levou a uma operação excusada, que me colocou num dos maiores sofrimentos por que já passei, e que era completamente evitável. Segundo, porque o doutor que escolhi apenas opera de modo particular, o que é, aliás comum aos melhores cirurgiões plásticos. Não quer dizer que não hajam bons profissionais a operar no público: soube do caso de um rapaz que, após ter ficado com o nariz partido devido a uma rixa, foi operado num hospital público, com muito sucesso, onde lhe reconstruiram o nariz, recorrendo a uma rinoplastia de reconstrução, que , como já referi, não se trata da rinoplastia normal, que embeleza o nariz. Mas são casos completamente diferentes e apenas posso falar por experiência sobre o meu.

A turbinoplastia que fizeste em 2010 ainda é tão custosa hoje em dia?

Já se passaram onze anos, e segundo o meu médico, a medicina evouliu muito, nesse periodo de tempo, sobretudo a nível dos procedimentos cirúrgicos e a nível da recuperação. Já ninguém fica uma semana sem respirar, com um tamponamento até à testa, que, a remover, vai parecer que estamos a ser mumificados na época dos faraós. Não quer dizer que ainda não aconteça, ou que hajam casos diferentes em que recuperações mais suaves ainda não sejam possíveis, mas, regra geral, a medicina já permite recuperações mais pacíficas e muito pouco ou nada dolorosas.

Um desvio de septo requer sempre uma operação?

Depende. Há pessoas com desvios de septo óbvios, que fazem inclusive o nariz parecer torto no exterior, mas que não apresentam queixas no seu dia a dia; e há pessoas que, com desvios mais ligeiros e pouco visíveis do exterior, como era o meu caso, se queixam bastante. Os desvios de septo são responsáveis pela sensação de obstrução nasal permanente, pela dificuldade em respirar de uma ou de ambas as narinas, por ressonar à noite, entre outros. Mas cada caso é diferente, e há pessoas que optam por nunca operar os seus desvios, por não as incomodar necessariamente.

A recuperação é muito desconfortável?

Os únicos desconfortos que senti durante a recuperação da rinoseptoplastia foram a sensação constante de fraqueza por estar, primeiro, sob o efeito dos resquícios da anestesia (que foi muito pesada), e depois sob os efeitos da analgesia. Andei toda a semana muito “mocada” e com pouca energia, mas nunca senti dores físicas. Senti um ardor algo incomodativo nas narinas ao segundo dia, mas passou assim que ajustei a medicação. Há quem diga que não necessitou de medicamentos durante o pós-operatório de uma rinoplastia, mas, como em tudo, cada caso é um caso. Como a rinoseptoplastia envolve a correção de um septo desviado, talvez isso tenha requerido mais cuidados pós-operatório, visto ter sido uma intervenção mais invasiva do que a de uma rinoplastia simples. A nível de nódoas negras, tive sorte; as únicas que tive foram uma “olheira” negra, mais pronunciada no olho direito, uma bastante suave e que nem chegou a escurecer, no olho esquerdo, e umas manchas no queixo devido às injecções.  

Quanto custa uma rinoplastia? E com que gastos extra tenho de contar?

A rinoplastia em Portugal varia entre os 4000€ e os 5000€. A septoplastia sem rinoplastia, no privado, ronda os 3000€. Este valor pode variar conforme as clínicas e os hospitais particulares a que se dirijam. Existem outros valores, para rinoplastias de reconstrução, por exemplo, como já exemplifiquei em cima, que dependem muito do hospital ser público ou privado, da situação ser ou não coberta por seguros, etc. Fora a minha cirurgia, tive de pagar pelas análises ao sangue e pelo teste à Covid, bem como uma taxa de segurança do meu hospital, também relativa à Covid, e ainda a consulta de Anestesiologia. Novamente, estes gastos têm valores diferentes consoante o hospital ou a clínica em que optarem por ser atendidos. Se optarem pelo meu médico, pagam a primeira consulta com ele, na sua clínica particular, mas ele não cobra as consultas seguintes, nem as de pós-operatório. No meu caso, tive também despesa de farmácia, com a medicação que tive de fazer na semana de recuperação, mas há quem passe por pós-operatórios mais simples, que não necessitem de muito, para além do paracetamol.

A clínica My Face tem dois consultórios, um em Lisboa e outro em Coimbra.

Qual o preço das injecções de ácido hialurónico?

Na My Face, as injecções de ácido hialurónico têm o valor de 300€ por unidade. No entanto, não sei se os valores diferem consoante o tipo de intervenção, por exemplo, ou as diferentes áreas do rosto, ou problemas, a tratar.

Sentes preconceito por teres feito uma operação estética?

Até agora não senti preconceito sobre mim, nem nunca o senti por outras pessoas que as façam. Nunca entendi o que é que incomoda tanto os outros acerca de algo que alguém tenha feito a si mesmo, para mudar o seu aspeto, seja por que motivo for. Incomoda-me um pouco que, em Portugal, predomine uma cultura do silêncio e tabu quanto às intervenções estéticas, quando, no entanto, e só falando de rinoplastias, são feitas centenas delas, por ano, no nosso país. O médico que me operou faz entre 200 a 300, anualmente. O que me parece que acontece em Portugal é que, grande parte dos portugueses que vão à faca, não querem admitir, perante os outros, que passaram por procedimentos estéticos, e querem depois fazer meio mundo acreditar que aqueles lábios, seios, glúteos ou nariz lhes surgiram magicamente, do dia para a noite, atribuíndo-lhes desculpas pouco credíveis como a prática de exercício ou a boa genética. Não tenho nada contra quem opta por não fazer um show por ter feito uma plástica, ou que opte pela discrição; pelo contrário, subscrevo. Eu própria mantive sempre uma atitude low profile quanto à minha, por me sentir melhor a lidar com ela, assim. Também acho saudável se, por outro lado, a pesssoa faz questão de expôr mais a sua situação. Não acho é que seja propriamente necessário andar a esconder e a negar as estéticas feitas, sobretudo quando a mudança é óbvia.

Há depois em Portugal muita gente que simplesmente demoniza ou desfaz, das plásticas. Fazem-no muitas vezes porque as consideram como luxos que, não estando ao alcançe de todos, são automáticamente escandalosos ou visto como algo ofensivo. Apesar de, até aqui, não ter sentido preconceito nenhum, sinto muitas vezes que, ao falar sobre o que fiz, tenho sempre de enfatizar que foi, de facto, uma rinoseptoplastia, e que foi necessária à minha saúde. E noto que, apesar de ser verdade, há quem pareça ficar a duvidar. Sobretudo pessoas fora do círculo familiar, que não notaram tanto a diferença do antes e do pós-cirurgia, no exterior do meu nariz, e que, sobretudo, não conviveram com a minha realidade médica. Isto porque é tão comum a mentira de septos desviados fantasma, dada para que os outros dêem à pessoa uma espécie de permissão imaginária, que fará com que a sua intenção em se submeter a uma estética seja mais válida ou justificada.

Acho estes comportamentos tristes e típicos de mentalidades pequenas, como muita da que predomina em Portugal. Desde as pessoas que optam por esconder que fizeram plásticas óbvias, (quer por medo de julgamento, quer por intenção de ludibriar os outros em como nada fizeram), às pessoas que apontam o dedo e exigem justificações que não são da sua conta. As pessoas têm de fazer o que quiserem, se assim gostam, se assim o podem, e sobretudo, porque não estão a incomodar o aspecto, a carteira nem a vida de mais ninguém. Aceito que não se normalize a cirurgia plástica, no sentido de a glamorizar, sobretudo por haver casos de pessoas que abusam delas de modo pouco saudável, mas acho que se deve, sim, normalizar falar sobre ela e permitir que, quem a quiser fazer, seja livre de a fazer sem julgamentos alheios.


Termino por aqui este projecto de escrita, que fico feliz de ter podido iniciar e concluir. Espero que de alguma forma ajude quem pretende enveredar pela mesma experiência, que, relembro, será sempre diferente, de pessoa para pessoa. A minha não podia ter sido melhor, e isso deve-se ao profissionalismo do doutor José Carlos Neves, bem como dos profissionais da clínica My Face e da equipa médica do hospital Lusíadas. 

sábado, 13 de março de 2021

A minha rinoplastia – parte 6: A recuperação e a remoção da tala

Segundo me disseram mais tarde, eram 17h40 quando iniciaram a cirurgia, e esta tinha durado duas horas. Acordar da anestesia foi uma experiência pouco suave. Estava altamente pedrada, e demorei muito tempo a ganhar consciência. Sentia um peso atroz na cabeça, que me fazia sempre voltar a perder os sentidos, de cada vez que tentava mover-me. Foi-me estranho porque não me tinha sido tão difícil despertar da operação de há onze anos antes. Pareceu-me estar ainda no bloco operatório, porque reconheci logo as mesmas janelas enormes. Das primeiras coisas que me apercebi foi que já tinha anoitecido. Chamei por uma enfermeira, mas tinha muita dificuldade em falar. Quando finalmente consegui fazê-lo, pedi-lhe ajuda para me levar à casa de banho, em modo completamente zombie, e ao voltar a deitar-me, ainda voltei a adormecer algumas vezes.

Estive nisto até às 21h, hora a que cheguei ao quarto. Percebi que tinha as narinas obstruídas com algum tamponamento interno, mas já sabia de antemão que era algo leve, e percebi, com bastante alívio, que conseguia respirar, ainda que pouco, pelo nariz. Disseram-me que ia ter alta às 23h, mas entre problemas para imprimrir os meus papéis da alta, atender a situação urgente de um bebé ali perto e fazerem-me um "bigodinho" novo, (o da cirurgia já estava um pouco ensopado), só saí do hospital à uma da manhã. Nunca cheguei a ver o doutor nem o enfermeiro. Em casa, não foi fácil dormir com a cabeceira da cama cheia de almofadas, para manter a cabeça na vertical. Apesar de conseguir respirar um pouco pelas narinas, foi pela boca que tive de respirar mais, e acordei algumas vezes durante a noite com alguma tosse, devido à rouquidão da garganta, seca da respiração. Tinha pela frente oito dias de recuperação, antes da remoção da tala na consulta pós-cirurgia, com o doutor.

O enfermeiro da My Face, que se colocou à disposição de estar sempre contactável comigo, ligou-me no dia seguinte para me indicar os cuidados a ter nessa semana:  para além de ter de fazer paracetamol e antibiótico diariamente, para evitar qualquer possível dor, teria de fazer a lavagem das narinas com um produto de limpeza nasal, e ter o máximo de repouso. Também me alertou para o facto de que a cara iria inchar nos 2-3 dias seguintes, que esses seriam os mais desconfortáveis, e que seria perfeitamente normal. Deu-me ordem para remover o “bigodinho” (a compressa cilíndrica aplicada debaixo do nariz no fim da cirurgia para impedir hemorragias), uma vez que já não sangrava, e mandou-me fazer gelo no rosto uma vez por hora, sem nunca tocar na tala. Segundo ele, os pensos que tinha nas narinas iriam ser expulsos naturalmente pelo organismo, ao fim de 24h.

Apesar de nunca ter sentido dores, o segundo dia foi o mais desconfortável para mim. Não só estava super impaciente para que os pensos saíssem, como acordei nessa manhã com um ardor horroroso e inesperado nas narinas. Após ligar ao enfermeiro, este mandou-me diminuir o intervalo da medicação, introduzir um segundo analgésico, e rapidamente o ardor foi passando. O queixo, que estava negro das injecções de ácido hialurónico, começou a recuperar a sensibilidade, apesar de estar muito inchado; o penso de uma das narinas (uma pequena banda retangular parecida com uma pastilha elástica, daquelas fininhas) saiu sozinho durante uma das lavagens, e comecei a respirar um pouco mais. 

Porém, a garganta continuava arranhada de tanto usá-la para respirar, e sentia que não fazia outra coisa senão meter medicação à boca, fazer gelo, limpar o nariz com produto e vegetar na cama, à espera que as horas passassem, todo o santo dia. Sentia-me sempre ligeiramente zonza e a sentir um grande cansaço físico. A anestesia tinha sido muito forte e, se durante os primeiros dias estive sob o efeito atordoado dos seus resquícios, nos dias restantes andei sonolenta devido à analgesia. Não conseguia estar mais de quinze minutos de pé, pois o corpo sentia-se fraco e “pedia” que me deitasse. Tinha andado muito enérgica e ocupada todo o mês, e estar tão parada deixava-me extremamente impaciente. Também comecei a sentir mais o peso da tala, sobre o nariz, e dei por mim a perder disposição para tudo aquilo e a desejar que o tempo não demorasse muito a passar.

 

Quarto dia de recuperação. Isto foi o mais negra/inchada que fiquei. Nada mal, comparando com os muitos casos em que os pacientes ficam com um aspecto meio "desfigurado." Já estava era impaciente ao máximo.

As poucas nódoas negras que tive começaram a escurecer e a desaparecer ao terceiro dia, mas, por sua vez, as bochechas começaram a ficar mais inchadas. Como já esperava isso, não estranhei. O que me incomodou sempre mais, ao longo dos dias, foram as dores de garganta, que persistiam. Pensei que, inconscientemente, a tinha habituado para continuar a fazer a respiração no lugar do nariz, à noite, talvez com medo de forçá-lo. Mas depois senti que tinha, de facto, uma feridinha na garganta – talvez derivada da entubação da cirurgia. O penso da outra narina saiu ao quarto dia, e passei a respirar pelo nariz quase a cem por cento, o que não acontecia na totalidade pelo mero facto de que o interior do nariz estava naturalmente inchado. O sexto dia foi o dia em que me senti melhor. Também foi o dia em que passei a fazer apenas o antibiótico, comecei a sentir-me menos tonta e a recuperar algumas forças.

No dia 22 de Fevereiro, voltei à My Face para a remoção da tala. Não tinha pontos a tirar, porque me tinha sido feita uma rinoplastia fechada, em que o cirurgião faz a operação sem cortar o exterior do nariz nem abri-lo, mas antes modificando-o por via interna. Fiquei entusiasmada com o resultado, que ainda não seria o resultado final. O nariz estava inchadinho, mas estava definitivamente mais elegante. Acima de tudo, fiquei espantada com o quão natural ele parecia. Senti que, de certo modo, sempre ali esteve, pois caía no meu rosto como uma luva. Nem sequer me lembrava já do anterior. O doutor ficou muito satisfeito com o seu trabalho, disse-me para parar com a aplicação de gelo e substituí-la pela aplicação de arnica, para acelerar o desinchaço, no nariz e no queixo. Desaconselhou-me a maquilhagem e o skincare, pelos quais teria de esperar mais uma semana. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

A minha rinoplastia - parte 5: A questão do queixo e o dia da cirurgia

Por esta altura, sinto alguma pressão para despachar estes posts e apressar-me a responder às perguntas que todos querem ver respondidas - nomeadamente a questão do preço, que me parece ser a que mais curiosidade levanta. Estou a planear um post final, que deverei publicar daqui a menos de duas semanas, quando tiver feito precisamente um mês desde que fui operada, onde farei uma espécie de wrap-up com todas as perguntas mais pedidas, bem como uma foto alusiva aos resultados de um mês post-op. Sinto-me mais confortável se organizar a escrita do meu relato, por partes, cada uma com princípio, meio e fim. Culpem restos de Jornalismo por isso, o meu gosto por escrever, a minha nerdiness, mas é este o meu modus operandi.  Peço desculpa se está a parecer demasiado longo, mas é deste modo que prefiro apresentar a minha experiência. So... bear with me.


Uma cirurgia estética não é algo para o qual o comum mortal tenha meios que possa disponibilizar na hora; É um empreendimento que requer organização financeira, tempo e poupança. A pandemia, curiosamente, permitiu-me isso, apesar de tudo; Sem sair de casa, cortando em tudo o que era supérfluo e tendo o privilégio de continuar a trabalhar em teletrabalho, dei por mim a conseguir poupar mais do que o habitual e a conseguir orientar as minhas metas. Em Julho, senti confiança para decidir que queria a rinoseptoplastia e contactei o doutor nesse mês. A minha cirurgia ficou marcada para 15 de Fevereiro de 2021. A 19 de Janeiro tive a minha segunda consulta com o doutor, desta vez na sua clínica particular, My Face Clinic. Todas as minhas consultas subsequentes passariam a ser feitas aí, e já não nos Lusíadas, onde ele agora apenas opera, mas já não atende.

Nessa segunda consulta, voltámos a rever o meu caso, visto terem-se passado 10 meses desde a última conversa. Foi nesse dia que surgiu também outra questão relacionada com o aspecto do meu nariz: não conseguia deixar de notar, na mesma foto de perfil que havia sido retocada da primeira vez, e que me tinha agradado nessa altura, que o nariz continuava a parecer algo grande. Eu sabia que não queria um nariz demasiado pequeno, mas não deixava de sentir que afinal também não era bem aquilo que eu queria. E estava fora de questão dispender uma pequena fortuna para, no fundo, sentir que o nariz me continuava a parecer, de algum modo, demasiado saliente. O doutor achou estranho, pois dentro do “natural” que eu pretendia, não era possível mexer mais no nariz sem que ele se tornasse descaracterizado, e eu até tinha noção disso e concordava com ele. O que ele apontou prontamente como o motivo para o meu ponto de vista - que não era, de todo, infundado - foi o meu queixo, que era ligeiramente recuado e tinha alguma gordurinha, que o tornava pouco definido, ajudando a que o nariz parecesse sempre mais saliente, com ou sem a rinoplastia. 

Sendo o nariz a parte sempre mais protuberante do nosso rosto, ele só vai parecer ainda maior quanto mais recuado for o  queixo, em relação à nossa dentição superior, ou se, por vezes, for pouco definido. Eu tinha esses dois diagnósticos. Então, o que o doutor me sugeriu, foi fazer-me umas injecções de ácido hialurónico, para dar mais alguma definição e conferir a ligeira mas necessária saliência ao queixo, para que este fosse de encontro à transformação do nariz, e ajudasse à obtenção do perfil natural que eu pretendia. Soube logo no momento que queria fazer também isso. Iria sair ligeiramente fora do orçamento para o qual me tinha preparado, mas avançar com a cirurgia para depois não gostar do meu perfil não era obviamente opção. Se ia fazer um investimento daqueles, era para que ficasse bem feito, e nada menos do que isso. 

O médico passou-me análises e uma indicação para fazer o teste à Covid-19, que teria de testar negativo. Ambos seriam feitos nos Lusíadas, dois dias antes da cirurgia. Também me marcou uma consulta de Anestesiologia, que aconteceu via telefone no dia 10 de Fevereiro, e onde fiquei a saber que iria ser operada sob anestesia geral. Dia 13 fui ao Hospital para fazer as análises e o teste à Covid-19, que testou negativo.

Os dias que antecederam o dia da cirurgia passaram descontraidamente, e bastante rápido, de tal modo, que os vivi sem quase pensar em tudo aquilo. Fevereiro foi um mês em que me mantive bastante ocupada e bem-disposta, e onde senti que nem tive bem tempo para absorver e processar a realidade de que iria fazer uma cirurgia. Talvez a maioria das pessoas, no meu lugar, se sentisse nervosa, entusiasmada ou impaciente. No meu caso, vivi um dia de cada vez, sem nunca pensar muito à frente ou antecipar demasiado. É uma tendência que sinto que tem vindo a crescer em mim, e pergunto-me se tem a ver com a idade ou com a mentalidade presentista que a pandemia me ajudou a cultivar no último ano.



Dia da cirurgia: Acordei às 9h do dia 15, já com tudo pronto. Estava em jejum desde a meia noite, como me tinha sido indicado, pelo que apenas tive de vestir a roupa confortável que me mandaram trazer, e sair de casa. A cirurgia estava marcada para as 12h e iria ter alta no dia, pelo que não foi necessário fazer uma mala de hospital. Cheguei aos Lusíadas pouco depois das 10h, fiz o check-in e levaram-me até ao meu quarto por volta das 10h40, onde deveria vestir a bata cirúrgica e aguardar. Meia hora depois, uma enfermeira veio ter comigo, para que assinasse uns últimos papéis do hospital e fez-me algumas perguntas que já me tinham sido colocadas pela anestesista ao telefone, na semana anterior: peso, altura, se fumava, se bebia, se sofria de certas condições. Depois disse-me que a operação afinal iria acontecer um pouco mais tarde, e deu-me dois comprimidos que teria de tomar: um anti-histamínico, para ajudar no processo da operação ao nariz e um calmante, para relaxar. Depois fiquei sozinha no quarto e mantive-me distraída no telemóvel. O calmante parecia não me surtir efeito nenhum, porque durante toda a hora que se seguiu, pelo contrário, só me sentia era enérgica e entusiasmada, como se a realidade de que ia ser operada só me tivesse atingido naquele momento. Às 12h30, porém, comecei a sentir-me sonolenta e aninhei-me para uma sesta.

Fiquei instalada na ala de Pediatria, devido à lotação dos quartos de adultos, presumivelmente devido ao flagelo da Covid-19. O meu quarto tinha ótimas instalações e era muito acolhedor.

Acordei pouco antes das 14h com nova visita da enfermeira. Creio que só tinha vindo ver como eu estava, pois apenas me disse para me deixar estar, e dormir. Sentia frio e pedi-lhe uma manta, porque apenas estava tapada por lençóis e uma coberta muito leve. Ela ligou o ar condicionado, dizendo que seria o suficiente, e voltou a sair. O quarto ficou quentinho num instante e rapidamente voltei a adormecer. Dormi pelo que me pareceu uma eternidade, e cheguei, inclusive, a sonhar. Já era bem de tarde quando duas enfermeiras entraram para me virem buscar para a operação. Foi tudo um pouco apressado e não tive tempo de voltar a pegar no telemóvel e verificar que horas eram; tive de o deixar na cabeceira, e segui, na maca, por entre corredores e elevadores, até ao bloco operatório.

Deixaram-me numa sala ao lado do bloco, onde me ligaram alguns fios no peito e me colocaram o catéter na mão. Havia um relógio muito grande na parede em frente, onde estavam marcadas as 15h40. Passei mais de três quartos de hora dentro daquela sala, e só depois entrei para o bloco, uma sala cheia de janelas grandes, por onde entrava muita luz natural. O sol brilhava lá fora e estava uma tarde linda. Estava na esperança de ver o doutor e o enfermeiro da My Face, que também iria estar presente. Mas à minha volta via apenas enfermeiras, todas mulheres, todas bem dispostas mas ao mesmo tempo, numa grande azáfama. Pareceu-me serem umas cinco ou seis. Estavam todas protegidas da cabeça aos pés, e pareciam-me todas idênticas. A anestesista estava entre elas, mas como a consulta com ela tinha sido ao telefone, não a sabia distinguir das restantes profissionais de saúde, todas de fato e máscara. Sem as lentes de contacto era difícil ver bem rostos e caras, de qualquer modo. 

Deduzi que a anestesista fosse aquela que fez a "small-talk” da praxe, comigo. Reconheci-lhe aquilo que pensei ser um sotaque nortenho, no qual não tinha reparado ao telefone, mas ela corrigiu-me e disse-me que era madeirense. Comecei então a dizer-lhe o quão tinha adorado conhecer a Madeira no ano anterior, mas rapidamente me silenciou e pediu: “ - Agora vamos começar a acalmar. Vem aí a primeira dose. Vais só ficar um bocadinho tonta por enquanto, mas não tenhas medo.” Respondi-lhe descontraidamente que não, não tinha medo nenhum. Mal disse isto, fiquei imediatamente zonza, porém, ainda consciente. Conseguia ouvi-las e vê-las mas já não conseguia falar-lhes. Tinha a noção de que me ia “apagar” em breve, mas não estava nervosa. Já tinha sido anestesiada antes. Lembro-me de ter sentido alguma decepção por perceber que não ia ver o doutor nem o enfermeiro, antes da operação começar. Teria querido muito vê-los. Mas sabia que estava bem entregue; tudo se tinha atrasado, afinal de contas. Devo ter ficado naquele limbo dormente durante meio minuto – o que me pareceu ainda algo demorado – e depois apaguei.

terça-feira, 2 de março de 2021

A minha Rinoplastia – parte 4: A primeira consulta

 No dia da minha primeira consulta, a 3 de Março, levei comigo um relatório que tinha escrito de antemão, com um resumo daquilo que tinha sido o extenso historial relativo aos meus problemas respiratórios, bem como todos os meus exames mais recentes. Quis sobretudo que o médico entendesse que eu não era só mais uma cliente de nariz grande, cheia de complexos, a querer uma rinoplastia puramente estética; queria, primeiro que tudo, respostas para a parte funcional do meu nariz - e uma solução para ela.

Não só o Dr. José Carlos me fez sentir segura e ouvida, não defez das minhas queixas, não me tranquilizou falsamente, argumentando que “não precisava de operar o nariz, uma vez que ele era muito bonito,” ou ainda que devia simplesmente parar com as minhas “queixas infantis.” (Algumas destas estupidezes foram-me ditas durante anos, por outros médicos, no serviço público.) Pelo contrário; depois de examinar o meu nariz, por fora e por dentro, ele tirou algum tempo para me dar uma mini aula sobre como funciona o nosso nariz e o porquê de não conseguir respirar bem da narina direita. Basicamente explicou-me que o nosso nariz é dinâmico, que o seu interior é esponjoso, que ora expande, ora contrai, conforme diversos factores, sendo dois deles a temperatura e a actividade do corpo (sobretudo na ausência dela, como acontece ao dormir). Explicou-me que um desvio era sempre um desvio, e que, por muito que fosse ligeiro ou visivelmente imperceptível no exterior, no caso de algumas pessoas, como eu, poderia ser obstáculo suficiente à normal respiração; enquanto que outras pessoas, com desvios maiores e mesmo exteriormente visíveis podiam viver perfeitamente bem, sem qualquer tipo de dificuldade respiratória. Bottom line: cada caso é um caso.

Antes de sair do consultório com a certeza de que queria seguir em frente com aquilo que seria uma septoplastia promissora, quis conversar com ele sobre a parte estética do meu nariz. O que me disse sobre a aparência do meu nariz foi: “Sendo honesto consigo, não tem um nariz feio. Tem, na verdade, um nariz que não discorda com o resto dos seus traços. Se é um nariz sem problemas estéticos? - Não.”

E concordou comigo naquilo que eu já sabia que não gostava assim tanto nele: era, de facto, um nariz projectado, com uma ponte muito elevada (aquilo a que chamamos a “cana” do nariz), a começar muito perto da testa, curvando para fora e descaíndo para baixo. Tinha uma bossa pelo caminho e as narinas eram grandes.

Sem qualquer compromisso, dirigiu-me a uma sala ao lado da do seu gabinete, onde entrei num pequeno estúdio de fotografia e onde me tirou algumas fotos ao nariz, de vários ângulos. Na hora, mostrou-mas no seu tablet e começou a alterá-las digitalmente à minha frente. Ambos conversámos sobre o que seria feito, caso optasse também pela cirurgia estética. Era muito importante que ambos estivessemos em concordância quanto à minha visão de um nariz melhorado. No entanto, não basta termos uma ideia mental. Não há dois narizes iguais e o nariz tem sempre de harmonizar bem com o rosto. Desengane-se aquela malta que acha que pode pedir o nariz igual ao desta ou daquela celebridade, porque isso simplesmente não é possível. Ele vai sempre ter de combinar com as vossas restantes feições, que são únicas para cada pessoa.

O médico retoca digitalmente as fotos do nariz do paciente, consoante os seus pedidos, até à obtenção de um resultado em que ambos estejam de acordo.

No meu caso, sempre soube que, se fosse em frente com a decisão da estética, iria querer um resultado natural; um melhoramento, e não uma mudança drástica. Por muito comprido que o meu nariz fosse, tinha plena noção de que não queria (nem podia) ter nunca, por exemplo, um nariz demasiado curto ou fofinho, sem que ficasse descaracterizado; Gostava de inverter a curvatura dele e tê-lo a curvar para fora, mas com um ângulo ligeiro e natural, não demasiado acentuado. E das coisas que mais enfatizei ao doutor que não queria mesmo, era ter a ponta arrebitada ou pontiaguda. De todo. Vejo uma tendência muito grande na preferência por narizes cuja ponta fica projectada para cima, e repudio isso com todas as forças, pois é o que pessoalmente acho de mais artificial, num nariz. Concordámos em dar-lhe um ângulo mais  horizontal, que ajuda muito na obtenção de um resultado mais subtil e natural.

 O final de todos os retoques digitais feitos às minhas fotos resultaram num nariz muito bonito, que adorei ver em mim: a ponta passaria a ter um ângulo horizontal, o meu nariz iria ficar um pouco mais equilibrado e feminino, com uma ponte lisa e ligeiramente curvada para fora, a ponta mais refinada, mas arredondada, e com narinas mais discretas.

Saí  do consultório sem uma segunda consulta marcada e sem uma resposta definitiva para o doutor. Precisava de processar toda aquela informação nova e decidir o que queria mesmo fazer. Se optava apenas pela septoplastia, (sem intervenção estética) e deixava o meu nariz a funcionar, mas com o mesmo aspeto, ou se optaria efevtivamente pela rinoseptoplastia, em que tanto a funcionalidade como o aspecto seriam remediados. Era necessário tempo para ponderar bem, e fazer, para qualquer um dos cenários, alguma organização a nível financeiro.

Na semana seguinte, o país entraria em quarentena e não voltaria a ter contacto com o doutor senão quase um ano depois, em Janeiro de 2021. Durante os dez meses que se passaram nesse intervalo de tempo, organizei um plano de poupança maior do que o que já fazia habitualmente, em que o cenário de pandemia jogou inesperadamente a meu favor.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia - parte 3: A parte estética

Tinha de tratar a parte funcional do meu nariz o quanto antes, sendo a minha principal preocupação as noites mal dormidas. O problema de obstrução não ajudava em nada os meus padrões de sono, que sempre foram inconstantes - apenas os pioravam. E, a caminho dos trinta, não podia permitir que a situação se arrastasse mais. Porque o sono, das duas uma: ou se mantém saudável toda a vida (e se for o vosso caso, considerem-se sortudos), ou tem tendência a deteriorar-se com a idade, e a trazer outras complicações a nível de saúde e da qualidade de vida. E eu sabia que tinha de fazer tudo o que pudesse para melhorar o meu sono, na medida do possível, e conseguir uma respiração normal e saudável, o quanto antes. Sabia que tinha um desvio de septo que, por muito ligeiro me dissessem que fosse, era visível em exames; estava ali, à vista de qualquer profissional de saúde minimamente competente. E eu não iria desistir até perceber até que ponto este desvio, aparentemente insignificante e nem sequer visível do exterior, era ou não o responsável por todo o meu desconforto de há anos.

A parte estética entra aqui de um modo pouco previsível; Sempre tive um nariz grandinho, algo masculino, mas não necessariamente feio. Nunca foi um entrave à minha auto-estima, nunca me considerei uma mulher feia, ou pouco confiante, muito menos devido ao meu nariz. No geral, tive sempre uma relação saudável e, até mesmo, não demasiado comprometida, com a minha imagem, sobretudo com o passar dos anos. (Cheguei a ser um pouco mais centrada na minha aparência na altura da faculdade, contudo); sempre considerei o meu aspecto bastante agradável. O meu rosto é comprido e esculpido, as minhas sobrancelhas são naturalmente angulares e muito marcadas, tenho o olhar forte e o meu sorriso é aberto e livre. Ter um nariz grande sempre se enquadrou com o todo das minhas restantes feições, que me deram sempre um ar “pérsico”. (O meu pai parece um árabe por completo; o que tenho de feminino nos meus traços – ainda que pouco – devo-o aos genes, mais delicados, da minha mãe.)

Contudo, o meu nariz cresceu e começou a tornar-se ainda mais saliente e projectado, por volta dos meus 23 anos, o que não passou a incomodar-me necessariamente - apenas me fez passar a contemplar uma possível futura intervenção estética como um daqueles planos que se fazem “um dia, na possibilidade”. Ou seja, não fiz dessa ideia um objetivo de vida nem passei a perder noites de sono, preocupada com o aspeto do meu nariz, ou a sentir-me mais feia (o que nunca aconteceu); mas confesso que dei por mim a começar a desgostar de certas fotos de perfil, e a ideia de uma rinoplastia passou a ser ocasional no meu pensamento. Não do tipo ideia fixa ou obssessiva, nem do género “eu sou feia se mantiver este nariz/ não consigo viver com ele”, mas antes, daquelas ideias descontraídas, como “se um dia se proporcionar uma oportunidade, e em que eu tenha condições para isso, era algo que eu seria capaz de fazer. Se nunca puder fazê-lo, está tudo bem na mesma.”

O meu perfil pré-cirurgia

Em 2019, no decorrer dos meus últimos exames, e após ter trocado relatos de experiências com situações médicas inerentes ao nariz com uma prima minha, que tinha feito, dois anos antes, uma rinoplastia com sucesso (a dela, meramente estética), ficou a curiosidade de ser atendida pelo seu médico, o doutor José Carlos Martins Neves, que, para além de ser um reputado profissional na área da Cirurgia Facial, a nível nacional e internacional, tinha como formação de base a Otorrinolaringologia, (que era, obviamente, um requisito fulcral na minha escolha pessoal de um novo médico). Depois de ouvir apenas coisas boas sobre o seu trabalho, fiquei curiosa quanto a uma possível consulta com ele, onde pudesse ouvir o seu parecer acerca de toda a minha odisseia nasal. Aproveitei o facto de querer corrijir a parte interior do meu nariz para também ponderar a correção da sua parte estética e pedir-lhe opinião quanto a isso. Afinal de contas, quantas vezes na vida uma pessoa simples como eu voltaria a cruzar-se com um cirurgião plástico? Sabia que, mesmo que optasse por não operar esteticamente, não iria deixar passar a oportunidade de ouvir o parecer de um, sobre o meu caso.

Em Setembro desse ano, comecei as minhas tentativas de obter uma consulta com ele, no Hospital dos Lusíadas, onde ele atendia. Não foi fácil consegui-la, pois a agenda dele estava (e costuma estar) sempre muito preenchida. Só passados dois meses, e depois de imensos telefonemas semanais para o hospital, consegui obter vaga para a minha primeira consulta, que ficou marcada para dali a quatro meses, em Março de 2020 - a data disponível mais próxima. Achei que ia demorar uma eternidade. Mas o que são quatro meses, na verdade, para quem já estava em modo de espera há mais de uma década?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia – parte 2: Os problemas respiratórios

Nunca na vida tive problemas respiratórios: não sei o que são alergias, asma ou sinusite. Não imagino o desconforto das pessoas que, todos os anos, sofrem com pólenes, com as mudanças de estações, e que não se podem aproximar sequer de animais, devido ao pêlo destes. Mas quando fiz 17 anos, a minha aparente imunidade a problemas de respiração desapareceu.

Andava na escola secundária quando tive um episódio de constipação, muito grande, que me provocou uma sensação de obstrução permanente. Depois de dois anos de várias tentativas falhadas em aliviar a minha respiração, incluíndo medicação, inúmeros exames e até testes de alergias (sempre negativos), fui a uma consulta de otorrinolaringologia no Hospital Pulido Valente, em 2010, onde após novos exames, me foi dito que teria de remover os adenóides. Não pude deixar de estranhar que, com 19 anos, ainda houvesse a hipótese de eu ter adenóides a retirar, visto ser sabido que apenas costumam causar problemas em idades mais precoces, nomeadamente em bebés e crianças. No entanto, a otorrinolaringologista que me atendeu assegurou-me de que eram sim adenóides, e que apesar de se manifestarem maioritariamente em crianças, não era raro acontecer também em adultos. Foi-me explicado que era “carne que eu tinha a mais”, responsável pela obstrução que sentia.

A médica do Pulido Valente disse-me que seria apenas uma cirurgia de ambulatório, que não teria sequer de fazer penso e que, no prórpio dia, iria para casa. Foi-me feita então uma turbinoplastia, da qual acordei muito mal, com um tamponamento monumental. Foi-me dito que tinha ocorrido um erro e que tinham cortado carne que não era suposto – das primeiras coisas que ouvi uma enfermeira dizer-me assim que acordei - e que eu teria de ir para casa com todo aquele tamponamento durante uma semana, sem poder comer sólidos, nem mexer-me grande coisa. Passei pessimamente, cheia de mal estar, sem dormir nem comer quase nada, durante oito dias seguidos. Só podia respirar pela boca, o que me causava imensas dores de garganta, que ficava sequíssima e arranhada, sobretudo durante a noite. Tive um ataque de pânico num dos dias, em que queria desesperadamente arrancar tudo aquilo do nariz, poder respirar livremente e acabar com toda aquela aflição. Desmaiei de fraqueza na manhã do dia da consulta para a remoção do tamponamento, na semana seguinte.

A remoção foi das experiências médicas mais cruéis a que até hoje me submeteram – sendo que até me considero uma pessoa bastante resistente à dor e sem medo de procedimentos médicos. Aquilo que, ao espelho, me pareciam duas simples bolinhas brancas visíveis à entrada das narinas, eram na verdade duas compridíssimas “minhocas” de algodão retorcido e enfiado pelo meu nariz adentro, até à testa. O meu pai, que era meu acompanhante no consultório naquele dia, foi inclusive mandado sair, para não ficar impressionado com o que se iria passar a seguir: Com umas pinças, a médica retirou-me ambos os algodões, naquilo que foi das experiências mais dolorosas e desconfortáveis que já vivi nesta vida. A única coisa que aquilo me fazia lembrar era a remoção do cérebro, feita pelos egípcios, aos mortos, com um gancho, antes de os mumificarem. - A sensação foi tal, que não encontro, ainda hoje, melhor comparação. No final da remoção, as minhas narinas foram ainda “aspiradas” com uns tubos, para remover crostas e restos de sangue. Fiquei, no mínimo enjoada. Saí do hospital com um narigão ultra inchado, mas com a promessa de que dali em diante respiraria melhor.

Porém, passados apenas uns meses, voltei à situação inicial de obstrução, que continuava a incidir sempre mais na narina direita. Depois de vários medicamentos que tentei e que me foram receitados por vários médicos ao longo dos anos, para combater e resolver a situação (Avamys, Sinutab, Aerius, Lergonix, Nasex, Ilvico, inúmeros antigripais, medicamentos naturais, águas do mar, anti-histamínicos e injecções anti-inflamatórias, entre outros) continuei sempre a sofrer com a situação, prejudicando sobretudo o meu sono e, no geral, perdendo qualidade de vida. 

Em 2017, após nova tentativa de exames, novo panorama: foi-me dito, por outra médica otorrinolaringologista, desta vez no hospital de Vila Franca de Xira, que tinha um ligeiro desvio do septo, que afetcava a narina direita, mas, na opinião dela, não grave o suficiente para justificar uma cirurgia de correção. Após TAC aos seios perinasais, diagnosticou-me Rinite Crónica e receitou-me medicamentos, alguns já referidos acima, que continuaram a não melhorar a minha situação. Em 2019, após nova TAC, foi-me novamente diagnosticado um ligeiro desvio do septo, mas já não foi feita menção à situação de Rinite, apesar da permanência da situação aflitiva dos sintomas de obstrução nasal. Sentia o nariz extremamente entupido, especialmente a narina direita, que, de noite, mas, ocasionalmente, também de dia, chegava a ficar completamente congestionada. A obstrução, por vezes, passava de uma narina para a outra, mas sempre com maior incidência na direita.

Esta obstrução piorava consideravelmente sempre que me constipava, quando chorava ou sempre que me deitava, fosse para dormir à noite, fosse para estar simplesmente deitada sem dormir, o que me fazia ficar extremamente ofegante e aflita, ao ponto de ter de recorrer a sprays de alívio nasal, constantemente. (Entre eles, o Nasorhinathiol, no qual fiquei viciada durante anos, e com o qual se deve ter cuidado, pois a sua administração não deve ultrapassar os 3 dias). Estes episódios aconteciam muitas vezes durante a noite, e acordava frequentemente nesta aflição, com falta de ar. Dizer que as minhas noites eram mal dormidas é um eufemismo. Com o nariz completamente tapado, não conseguia dormir nem descansar o necessário. A minha qualidade de sono, já fraca por outros antecedentes, foi piorando ao longo dos anos.

Se apanhasse gripe ou uma constipação, estas prolongavam-se por semanas e semanas a fio, normalmente entre três a quatro. Lembro-me que uma caixa de Antigrippine ou um tubo de Griponal inteiros não eram suficientes para ficar curada, tendo sempre de comprar mais do que uma caixa. Essas semanas eram muito penosas porque durante esse tempo, a funcionalidade do meu nariz tornava-se praticamente inexistente. Se houve vezes em que nem sequer me conseguia assoar, - porque, no dia a dia, não se tratava de descarga mucosa (ranho) - noutras vezes, pelo contrário, tinha imensa, persistindo sempre, apesar de tudo, a obstrução das narinas.

Este problema chegou ao ponto de interferir também com a minha vida laboral; Em Dobragem, o mau funcionamento da minha respiração interferia com as gravações, onde, pelo meio dos meus diálogos, ficavam constantemente registados barulhos do ar a passar pelo nariz – sob a forma de pequenos roncos, que, não sendo audíveis numa conversa banal no dia-a-dia, eram apanhados pelos equipamentos de captação de som, nos estúdios. Para mim, que tinha acabado de iniciar o meu percuso profissional na área, era um entrave enorme, pois aquilo que podiam ser gravações rápidas, levavam o dobro ou o triplo do tempo a gravar, não só pelo meu normal e compreensível ritmo mais lento de trabalho, próprio de quem tinha acabado de se estrear na área, mas também devido aos vários takes que eram necessários repetir, por causa dos barulhinhos provocados pelo meu problema.

Exausta e pelos cabelos com tudo isto, cansada de anos a ser mal atendida nos hospitais públicos, fartinha de ver o meu problema negligenciado por médicos atrás de médicos, que desfaziam da situação sem o solucionarem, preocupada com o meu sono cada vez mais pobre e com a minha qualidade de vida no geral, foi numa conversa com uma prima que tinha feito uma rinoplastia há pouco tempo, que comecei a ponderar outra solução: pedir a opinião ao médico dela; um profissional de renome, reconhecido a nível nacional, europeu e mundial, a quem confiar o meu caso.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia - parte 1: Introdução

Cada vez utilizo menos este pequenino espaço para escrever seja o que for. Não que não escreva de todo, gosto de escrever em dários, por exemplo – o que tenho feito durante esta pandemia.  Voltar a escrever num diário – já não escrevia um há 10 anos - foi um dos vários objectivos a que me propus fazer, durante aquela fase inicial, e meio desconhecida, do primeiro confinamento. No entanto, o que vou registar aqui hoje, neste bloguito, é algo que queria mesmo deixar registado online. Pimeiro, porque faz parte de outro grande objectivo - talvez o maior a que me propus fazer durante a pandemia; e segundo, porque creio que será um post útil a pessoas que, como eu, desejam lançar-se neste empreendimento, de preferência com um testemunho fidedigno e minimamente esclarecedor. 

Vou submeter-me a uma cirurgia plástica, com a qual vou resolver dois problemas. Um problema estético, e – o mais importante - um problema de saúde (cujo extenso quadro clínico, abordado de modo vergonhoso, ao longo de mais de 12 anos, por profissionais de saúde altamente questionáveis, dava para escrever uma odisseia digna de competir com a de Homero).

A cirurgia a que me vou submeter é uma rinoplastia, que inclui também septoplastia, e ainda um procedimento facial que prevê a resolução de uma ligeira assimetria do meu perfil, ao nível do queixo. Pela altura que publicar este post, já estarei a dias do dia da operação. Resolvi não me pronunciar sobre a questão demasiado cedo. Primeiro, e sobretudo, porque só durante o último ano se tornou um plano exequível, com uma estratégia de poupança maior do que a que já fazia, e com um calendário favorável à sua realização. Segundo, porque o próprio cenário padémico não permitia fazer grandes previões a longo prazo, e não me quis precipitar, anunciando um empreendimento destes que, por motivos de força maior, poderia ser alterado ou mesmo cancelado indeterminadamente, a qualquer momento. Outra das razões pelas quais quis documentar isto aqui, deve-se à séria dificuldade que tive em encontrar relatos de rinoplastias/septoplastias, em Portugal, divulgados na Internet, e com informações claras e testemunhos honestos. Existe, na minha opinião, uma espécie de “cultura do silêncio”, quanto às cirurgias estéticas, em Portugal  - assunto que também gostaria de mencionar, talvez noutro post.

 Apesar de ser uma pessoa muito privada e que preza o sossego social – não sou demasiado ativa online nem gosto de expôr demasiado daquilo que faço, dentro ou fora das redes – achei que um post destes seria pertinente. Primeiro porque é um modo de ter o registo desta experiência para mim, e poder regressar a ele quando quiser; depois, porque há uma evidente falta de exposição quanto a este tema em Portugal, que dificulta a procura de informação quanto a clínicas, médicos, procedimentos, recuperação, seguros, valores, entre outros. 

Estou ainda a tentar perceber de que modo escrever a minha experiência, de modo a que não seja um projeto que se arraste. Tenho muita tendência a deixar a meio tarefas criativas a que me proponho fazer, quer porque perco o interesse, quer devido à azáfama das minhas tarefas diárias. Tenho vários interesses e gosto de estar sempre a fazer coisas, o que me faz afastar um pouco das redes e do online. Mas vou comprometer-me com esta partilha, e fazer o meu melhor por relatá-la nesta plataforma online, de um modo que me seja fácil e descomplicado. Ainda estou a tentar fazer esse equilíbrio e acho que já tenho um bom post introdutório. No próximo, irei falar de como tudo começou; do meu historial médico, que me levou a ter de optar pela rinoseptoplastia, quase 13 anos depois daquilo que parecia ter sido apenas "uma grande constipação".