quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

10 verdades libertadoras que aprendi na última década


2020 está a dias de distância, e a década que está prestes a encerrar-se não só me trouxe dos maiores desafios da minha vida, como me deu igualmente lições importantes. Correndo o risco de parecer uma subespécie de livro de auto ajuda, mas sem intenção de me insinuar como um, aqui sumarizo algumas das lições pessoais que recebi, e que deixo, na primeira pessoa, aos leitores que aqui me seguem.



1. A tua conta bancária ou atributos físicos nada dizem sobre o teu carácter. Não há nada inerentemente moral sobre se tens dinheiro ou não, se fazes desporto ou não, aquilo que comes ou deixas de comer.

2. A única coisa que realmente importa é a pureza do teu coração. Podes achar que as pessoas vêem as tuas posses, o teu corpo, o teu rosto, mas aquilo que realmente vêem é o modo como tratas as pessoas. Isso vai ser sempre tudo aquilo por que os outros se vão lembrar de ti. Ninguém se interessa pelo teu nível de habilitações, pelas tuas roupas, que carro conduzes ou que mala de luxo trazes ao ombro tanto como pelo modo como tratas o Próximo. Isso é o que diz tudo sobre ti.

3. Para mudarmos o mundo aos poucos é preciso que todos os dias lutemos por ser a razão pela qual os outros não perdem a fé no Bem das pessoas. Usa as tuas palavras para curar, não para provocar mais feridas. Sê a história de alguém que a vai repetir quando perder a fé no Mundo. Lidar com crianças no dia-a-dia fez-me perceber isto mais do que em qualquer outra situação.

4. Nem toda a gente tem de almejar ser doutor ou engenheiro (ou qualquer outra carreira falsamente rotulada pela sociedade de “bem-sucedida” ou de “bem-paga”). As pessoas podem ser felizes seguindo caminhos menos aplaudidos sem serem necessariamente umas preguiçosas ou umas falhadas. E ganharem tanto ou mais do que um médico. E serem tão ou mais felizes.

5. Há coisas na vida que faremos meramente por dinheiro. Outras que faremos porque simplesmente o coração nos pede. Não é sempre necessário que ganhes dinheiro a fazer algo de que gostas. Às vezes a compensação monetária por um trabalho que nos alegra o coração acaba muitas vezes por dar cabo dele.

6. A única maneira de se ser verdadeiramente feliz é tapar os ouvidos ao que o mundo diz e ouvir os teus próprios desejos. O mundo e a sociedade acham que te podem ensinar um caminho para a felicidade e conseguirem fazer-te chegar ao fim desse mesmo caminho num estado miserável, abatido e frustrado. Abre o teu próprio caminho. Mesmo que sozinho.

7. Tu não tens direito ao amor de uma pessoa. Isso tem que ser merecido. É preciso dar, dar, dar amor sem pensar que se tem o direito de o ter de volta. É necessário sim, escolher a pessoa que to dá na mesma quantidade, sem te fazer sentir que estás sempre a pedir demais. Mereces, contudo, o teu próprio amor. Mereces dar a ti próprio felicidade e alegria, seja de que forma isso se materialize para ti. 

8. O amor é uma escolha consciente que fazes todos os dias à pessoa com quem estás. Às vezes é fácil fazer essa escolha. Outros dias não é. Aquilo que define uma relação é aquilo que fazes nos dias em que essa escolha é difícil.

9. Não podes estar grato apenas pelas coisas que consideras positivas. Tens de estar igualmente grato pela tristeza, dor e momentos de desespero, e pelo quão forte te tornaste à custa deles. Há lições a serem tiradas por todos esses momentos; sê grato por tudo aquilo que te trouxeram, seja de que forma se tenha manifestado.

10. Não esperes pelo fim de semana. Se és incapaz de encontrar alegria nos outros cinco dias da semana, algo precisa de mudar rapidamente. Não esperes para mudar a tua vida. Muda as tuas circunstâncias ou muda a maneira de pensar sobre as tuas circunstâncias. Mesmo que nem sempre seja fácil, persegue a alegria todos os dias, nas pequenas e grandes coisas. Não faças disso um plano para pôr em prática apenas nas passagens de ano.

Feliz 2020!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Cosplay - Na pele de Lara Croft


Quando tinha 9 anos pedi aos meus pais, pelo Natal, uma Playstation – a primeira de todas, que tinha surgido há já um aninho ou dois. Junto com a consola vinha também um jogo de luta, o Tekken 3, que comecei a jogar com bastante frequência. Nada em mim fazia adivinhar que fosse gostar de jogos de luta, mas a verdade é que gostei, e guardei sempre alguma nostalgia com a franquia dos jogos Tekken.
 
No entanto, era o único jogo que tinha, e pouco tempo depois ofereceram-me aquele que foi o meu segundo jogo: Tomb Raider III – The Adventures of Lara Croft. Uma mulher esbelta e forte, com um sotaque britânico refinado e atrevido, uma trança enorme, que percorria vários pontos do mundo em demandas por relíquias míticas e segredos lendários por sítios exóticos, interessantes e cheios de perigos em cada esquina. Perigos esses dominados com um atrevimento natural e uma arrogância confiante e divertida. E com pistolas. Duas!

A Lara Croft em Tomb Raider Underworld (2008) - uma versão mais dark da imagem clássica da heroína

O meu cosplay de Tomb Raider Underworld

Tomb Raider III - The Adventures of Lara Croft (1998) : Apesar de ser o terceiro da franquia, foi o meu primeiro jogo TR, com o qual tudo começou.

Foi impossível não gostar da Lara Croft assim que a conheci. Vivia aquelas aventuras e vibrava com o passar de cada nível. – Apesar de isso só passar a acontecer a partir do momento em que os meus pais se lembraram da existência de uma coisinha chamada Cartão de Memória, sem o qual perderia todo o jogo conseguido, em caso de Game Over ou de simplesmente desligar a consola. Digamos que sofri muito até se terem lembrado de me comprar esse artefacto milagroso.

Estas heroínas fortes e engraçadas – a Lara do Tomb Raider e a Xiaoyu do Tekken – rapidamente me cativaram. A Xiaoyu representava o meu lado fofo e inocente, com o plus de que ainda dava umas belas tareias, enquanto que a Lara representava uma vontade enorme de ver o mundo, dominar tudo e ser destemida. Tendo eu sido uma criança que cresceu cheia de medos e ansiedades, que injustamente me definiam perante os outros, vi naquelas personagens aquilo que eu queria ser. Que no fundo era, sem ainda o saber.
A Xiaoyu dos jogos Tekken, contra a qual ninguém me vencia

E por muito que amasse de morte coisas adoráveis, femininas e triviais como brincar com bonecas, vestir-me de princesa, desenhar ou fazer balões de sabão no quintal da minha avó, descobri um outro lado meu, que gostava de jogos de luta e de viver situações de perigo - no écran. Foi graças à Playstation e a estes dois jogos que descobri essa grande parte da minha personalidade.

Sempre gostei de me mascarar e de me vestir, numa primeira fase, como tudo o que fossem princesas, e numa fase mais avançada, como heroínas, nem sempre já tão femininas. Nos meus tempos da creche, com 3 e 4 anos, fazia birras porque queria vestir saias ou vestidos todos os dias – estes últimos ainda hoje são uma perdição para mim – porque queria sentir-me como uma princesa ao vestir-me como elas o mais possível. Sem nunca ter tido UM único vestido de princesa no Carnaval – um dos meus maiores desgostos de criança (tive um disfarce de dama antiga horrendo, mas isso não contava como princesa porque a saia não tinha roda, imagine-se) – eu própria, durante as mil brincadeiras com que me entretinha sozinha, vestia-me com as roupas que tinha, conjugando-as de modo a que fossem o mais parecido possível com algo que lembrasse princesas. Até os penteados recriava.

Sempre gostei de disfarces, de viver, por momentos, na pele de outros que não eu, imitar as vozes que ouvia nas cassetes da Disney, ao ponto de as papaguear do princípio ao fim (e ainda hoje talvez seja capaz de reproduzir imensas cenas de vários filmes), fazer pequenos teatros com o meu irmão, inventar mil ideias para disfarces e festas caseiras no Halloween – coisa que praticamente mais ninguém fazia na super pacata da minha vila. Tudo premonições do meu futuro gosto pelo Teatro e pelo Voice Acting (Dobragens).

Quando há 5 anos soube da existência de uma coisa chamada Cosplay, soube instantaneamente que tinha de fazer parte daquele universo. E foi numa conversa casual entre amigos, onde um deles me disse que eu dava uma boa Lara Croft para o Carnaval, que tive a certeza daquilo que queria fazer a nível de cosplay.


Cosplay é uma contracção das palavras inglesas costume (traje) e play (representar). É uma subcultura originalmente japonesa centrada em encarnar personagens dos mangás, animes, séries e videojogos, através do disfarce. É um hobby no qual pessoas com o mesmo tipo de gosto cultural exibem as próprias criações de fatos feitos à mão, tiram muitas fotografias e têm a possibilidade de participar em concursos de melhores recriações.

O meu primeiro e único cosplay até hoje foi sempre o de Lara Croft. E não foi só há 5 anos. Assim que fiquei fã de Tomb Raider aos 9-10 anos, dias houve em que me tentava vestir como a Lara, a correr pela minha casa com os braços esticados em frente, a disparar balas invisíveis dos dois indicadores das minhas mãos. Uns calções de praia amarelos, – porque eram a única cor de calções que tinha que mais se aproximava da cor bege/caqui dos dela – e um top simples azul. Uma pequena mochila castanha, e uma trança, claro. E pistolas que roubava dos brinquedos do meu irmão – uma sempre diferente da outra, porque ter duas pistolas de brinquedo iguais era pedir muito. Ou ainda um par de pistolas do século XVIII que os meus pais - que me passaram a cromisse pela História - tinham, em réplica, para decorar a sala. (ainda hoje não sonham que brinquei com elas!)


E passava horas a imaginar que a minha casa era a mansão Croft. Uma vez cheguei à loucura de desenhar e pintar a aguarelas TODOS os items  dos inventários de TODOS os jogos de Tomb Raider que ia coleccionando, num tamanho considerável, e de espalhá-los por toda a casa, nos sítios mais absurdos e por vezes óbvios, para depois os apanhar a todos, imaginando-me nas aventuras. O meu irmão era, quase sempre, o meu parceiro de “jogo”. Memórias muito felizes de brincadeiras, pouco comuns mas puras, que fizeram muita da nossa infância.

Apesar de gostar do mundo dos videojogos, nunca me considerei fanática. Até porque a idade ia-me cada vez mais afastando da vontade dos jogos. Foi o meu irmão quem, pouco depois, passou a continuar a demanda pela colecção de Tomb Raider (e outros jogos). Continuei sempre fã e a seguir as jornadas da Lara, sem perder pitada, mas com o comando passado para as mãos dele.

O meu cosplay de Lara Croft do jogo Tomb Raider (2013), um remake da história original

Porquê o cosplay e porquê a Lara Croft? – perguntou-me um jornalista do Expresso este mês, no meu dia na Comic Con. Bem, porque o cosplay, tal como me acontece com o teatro, funciona para mim como um escape à vida real do dia a dia comum. É poder ser a Lara Croft por um dia, saber que é ela quem as pessoas vêem quando me olham, sem ninguém saber quem sou, como me chamo ou de onde venho. É um modo de me expressar através do carinho pela personagem que encarno. É um modo divertido de conhecer e comunicar com pessoas de todo o país ou até mesmo de vários pontos do mundo.

Com o meu super herói preferido, o Spider-Man, representado por um dos maiores cosplayers portugueses deste personagem, o @ptarachnid, Guilherme Calçada. Conhecemo-nos em 2016 no Iberanime. Ficou a amizade e o reencontro 3 anos depois, na minha segunda ida à Comic Con, há duas semanas. 

A Lara é o epítome da aventura, elegância e glória. É forte, corajosa, atlética e culta. Também tem o bónus de ser curiosa pelo mundo, tem sede de aventura, uma confiança que não a faz parar perante nada nem ninguém. Domina mil idiomas, tem um conhecimento infindável pela História e cultura de vários países – muitas características que temos em comum. Não se conforma com os limites do mundo, impostos pela Humanidade. Desafia a Natureza e a Mitologia com um estilo inigualável. E vence sempre. E mesmo sendo uma mulher forte e de inteligência impressionante, a Lara também tem um lado misterioso, divertido, charmoso e amável, por debaixo de toda a imagem badass que lhe é característica. Cai muitas vezes em sarilhos, como muitos de nós também. Tem limitações e sentimentos que muitas vezes prefere não deixar transparecer. E cede bastante às emoções humanas no jogo reboot que veio transformar toda a franquia Tomb Raider, em 2013, continuando pelas sequelas de 2015 e 2018 (Rise of The Tomb Raider e Shadow of the Tomb Raider).

No reeboot de Tomb Raider, a Lara é uma recém-licenciada, que nunca pegou numa arma antes, e que parte na sua primeira aventura, onde vai descobrir quem realmente é, numa luta agonizante pela sobrevivência.

A Lara é o pacote completo de beleza, inteligência e força, e a perdição de muitos homens – os fictícios com quem se encontra nas aventuras ou os próprios fãs do mundo real. Durante anos foi conhecida pelos seus atributos físicos humanamente inatingíveis – algo hoje em dia quase condenável pelas muitas mulheres altamente sensíveis e frustradas deste mundo que vêem objetificação em tudo o que é mulher mais atrevida, voluptuosa, confiante e sexy. Foi uma boneca altamente sexualizada pela indústria que a criou, verdade. Mas foi essa imagem – a meu ver divertida, livre e carismática - que a estabeleceu como A Lara Croft, e pessoalmente só tenho a achar divertido e inteligente o modo como foi concebida pela equipa da Eidos e da Crystal Dinamics. Conseguiram algo único e inigualável – colocaram esta personagem num trono, de onde nunca nenhuma outra lhe tirará a coroa.

Em cima, a Lara Croft em Tomb Raider (2013); Em baixo, a minha representação da mesma versão.


Onde muitos possam ver (erradamente) na Lara uma degradação à imagem da mulher, a criação de expectativas irreais ao corpo das mulheres, a sexualização da mulher como algo negativo e redutor, eu vejo poder, força, sensualidade e confiança – algo que devia ser inspirador para as mulheres. Acho que as mulheres não devem ter vergonha de mostrar a sua sensualidade e que há algo de poderoso em sentirmo-nos bonitas enquanto ultrapassamos obstáculos, fazendo uso do nosso conhecimento, sabedoria, sensatez e cultura. A Lara é isso. Apenas há que ter em conta que se trata de uma boneca irreal. Que não deixa de ser inspiradora só porque veste soutien copa DDD.  

Conceberam uma boneca única, reconhecível em qualquer parte do mundo, e acarinhada por milhões de pessoas. Que se materializou no grande écran com as interpretações da Angelina Jolie, e mais tarde da Alícia Vikander, esta última numa versão mais humana e realista, adaptada (ainda que muito pouco) do jogo reboot de 2013. Não há muitas mulheres como ela, especialmente tratando-se de uma personagem fictícia, mas é isso mesmo que faz dela um ídolo, conhecida por ser a figura feminina mais icónica do mundo dos videojogos.

Lara Croft ganhou vida no grande écran, primeiro na pele de Angelina Jolie em 2001 (à direita), e mais tarde com Alícia Vikander, em 2018 (à esquerda). 

O sucesso e o carinho que recebo sempre que me apresento como Lara em eventos de cosplay tem de ser das melhores sensações de sempre; À minha volta, por onde vou passando, sussurram-se ou gritam-se vários “Olha, a Lara Croft!”. E seguem-se interpelações, abordagens mais ou menos efusivas, pedidos de fotos, debates infindáveis sobre os “meus” jogos e o quão difícil foi passar o nível X, Y ou Z, como se eu mesma fosse a responsável pelas aventuras que jogaram. “Fiz-te morrer imensas vezes, foi um jogo difícil de passar” ou “Porque é que tu e o Alex não ficaram juntos? Não foi justo!” são alguns dos desabafos que ouço dirigidos à Lara que sou para eles, naquele momento. Perguntas pessoais não vão para além de questões sobre o meu fato -  como o fiz, quanto tempo demorou a ser feito, como podem fazer igual. Só em entrevistas para canais de Youtube, jornais ou revistas, é que os repórteres são os únicos que ficam a saber da minha verdadeira identidade e de toda a história por detrás do meu carinho por Tomb Raider.



Sem nunca ter tido grande engenho na criação da minha caracterização, tenho a vantagem de ter características físicas com as quais consigo trabalhar para obter uma imitação credível da Lara Croft – em qualquer uma das suas versões, na verdade. Tenho um físico atlético, que remete para a silhueta dela, sem (obviamente) exageros irreais; O rosto comprido, “facilmente maquilhável e trabalhável para o écran” como sempre me foi dito no curso de Comunicação, e as sobrancelhas angulares são outro plus que fazem toda a diferença. A tez e o cabelo morenos também ajudam. Também tenho um olhar doce, que consegue ora parecer vulnerável, ora intimidante, conforme as versões da personagem.



Para o resto do público, não me chamo Melissa. Não importa o que faço, de onde venho, as minhas opiniões, pensamentos, circunstâncias de vida. A minha identidade ali e naquele momento é Lara Croft - arqueóloga, exploradora e saqueadora de túmulos. Colecciono artefactos, descubro mistérios do mundo enquanto, muitas vezes, o salvo – com duas pistolas, metrelhadoras, bazucas ou um simples arco de setas – e vivo numa mansão Croft. Por umas horas posso ser e ter tudo isso. É por isso que a Lara Croft é a minha heroína preferida, e o passaporte mais que perfeito para entrar no mundo fantástico da arte do Cosplay. 


segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Disney, a representatividade e as verdadeiras Lutas


Os desenhos animados fazem parte da minha identidade. Ao contrário de muitas pessoas que, ao crescerem, perdem a ligação que tinham com eles, (e onde muitas vezes se incluem os ignorantes diplomados que chamam “infantis” aos que não a perdem) isso não aconteceu comigo. Desde muito cedo soube que a minha vida teria que estar ligada a desenhos animados. A desenhos. Pelo menos.
Estando ou não interligado com o meu talento para o Desenho, sempre gostei, e gosto muito, de acompanhar tudo aquilo que a Disney faz, e continuo a ir ao cinema espreitar alguns dos filmes que vão saindo, a maioria deles, hoje em dia, live actions.

Quando fui ver o remake da Cinderella em 2015 e saí da sala de cinema a chorar com o meu namorado, achei que tinha sido a adaptação mais bonita e bem feita que tinha visto, de uma história que sempre me foi  muito querida, e fiquei entusiasmada com a perspetiva de futuros semelhantes da Disney. 

Nunca esperei tanto de um filme com uma história tão simples.

O segundo live action da Disney que me propus a ir ver, com alguma reticência, foi A Bela e o Monstro. O original foi um dos filmes mais bonitos, que sempre gostei de ver em criança, e o primeiro da Disney que, na altura, considerei mais sério, com emoções bem profundas e valores importantes. Sempre me identifiquei com a Bela, sem dúvida o meu alter-ego Disney, e estava um bocadinho apreensiva com a escolha da Emma Watson como protagonista, pois ela não tem nadinha de atriz: Zero técnica, zero entusiasmo, zero experiência, zero personagem. Vê-se a Emma. Ou a Hermione, como muitos acham. Uma, e outra e outra vez. O que voltou a acontecer no remake da Bela e o Monstro, mas digamos que eu já sabia mais ou menos para o que é que ia.

Não me lembrei de que a Emma também ia (ia!) cantar. Acho que não sabia mesmo para o que ia. Nem ela nem eu!

Basicamente, a Emma Watson acabou com a delicadeza da Bela original, de um modo que nunca conseguiria prever: Acabou com a feminidade, com a graciosidade, com a subtileza, com o romantismo da Bela. Vemos uma Bela que recusa os avanços do Gaston de modo dolorosamente áspero e repulsivo, uma Bela que afirma, quase com uma aversão convicta “não sou uma princesa”, numa linha completamente desnecessária, só porque lhe é oferecido um vestido digno de uma, (e não porque alguém afirma que ela o é, ou lhe pergunta sequer se ela o é), uma Bela que desce as escadas de braço dado com o Monstro, naquele que é O momento romântico do filme, e onde o olhar embevecido e apaixonado da Bela original é substituído por um semblante frio e uma expressão completamente altiva e dura como pedra, que olha em frente, sem o menor sorriso, da Emma Watson. Acho que até a mulher do Kim Jong Ung se mostraria mais feliz a descer uma escadas ao lado do marido.

Proof.

O personagem LeFou foi transformado num
gay, o que - nada contra quem é gay - me desagradou. O ingénuo personagem de 1991 nunca foi gay e na minha opinião, deveria ter-se mantido fiel ao original, em que o personagem não tem qualquer interesse romântico no filme. Uma característica que lhe foi mudada, para satisfazer um público-alvo.

A Bela e o Monstro de 2017 foi um filme que gritava woke, no seu sentido mais nefasto. Desde a triste escolha da Emma Watson, que estragou a personagem da Bela, - e os meus ouvidos - certificando-se de que contagiava o filme com o seu cunho doentio de feminismo desnecessário pela Direção acima, (corpetes não, porque são uma opressão à mulher – que se lixe que tenham sido a roupa interior e a moda no século XVIII) até à cringe transformação gay do Lefou.

Achei desnecessárias estas transformações, principalmente se estamos a adaptar de um original, muito acarinhado. Ainda me arrisquei a ver o filme do Aladdin, que (Uf!) me agradou bastante e não fez transformações ridículas nem descontextualizadas. E era sobre esta transformação que vejo por parte da Disney, que gostava de falar.

O empoderamento da Jasmine, nesta adaptação, só fez sentido, visto que a Jasmine sempre foi vítima de opressão devido à sua posição social e ao país em que vivia, mesmo no original de 1992. A mensagem de empoderamento aqui foi brilhante e necessária, especialmente porque espelha a falta de liberdade REAL e ATUAL de muitas mulheres do mundo árabe, que podem ver na Jasmine, uma força e um exemplo!

Numa só semana, nunca pensei desiludir-me tanto com a Disney como nos últimos sete dias: Descubro que o elenco vocal para o remake do Rei Leão conta apenas com a voz original do Mufasa, e no caso de Portugal, nenhumas das antigas!; descubro que vão fazer um novo live action, de A Pequena Sereia, e que a Ariel vai passar a ser NEGRA; no dia seguinte fico a saber de OUTRO live action, desta vez da Mulan, e não sei se hei-de rir ou chorar, com medo.

É com muita desolação minha que assisto à transformação de uma Disney preguiçosa, sedenta de dinheiro e completamente ao serviço das agendas e politiquismos da malta Woke, a quem lambe botas à descarada e à conta de quem acaba por fazer pésssimos trabalhos. Uma Disney que não descansa enquanto não fizer sequelas até ao Toy Story 10 e enquanto não refizer, em live action, todos os seus clássicos, chegando ao cúmulo de tocar no suprmassumo que é o filme do Rei Leão. – E que me recuso a ir ver ao cinema.

Há pessoas que adoram os live actions ou remakes da Disney. Que os defendem, dizendo que não são feitos para serem associados aos originais, algo, para mim, impossível. Eu comecei por gostar, com o filme da Cinderella, mas rapidamente lhes comecei a ganhar ódio. Especialmente porque, tendo tanto espaço para mudar a história, baseando essa mudança de um modo artisticamente evolutivo, para chegar a outras gerações, sem tirar o espírito à obra original, a Disney faz tudo isto assentando essencialmente em mudanças que, sendo acessórias para recontar a história, são consideradas atrativas a toda uma comunidade de Justiceiros Sociais continuamente insatisfeitos. E na difícil ou quase impossível demanda por tentar agradar a este público eternamente revoltado e instatisfeito, usam os live-actions para estragar a essência, a pureza e o carinho dos originais, que fizeram parte do imaginário e da infância de décadas de gerações, chegando ao ponto de insultar os criadores das histórias originais e as suas culturas, permitindo mudanças absurdas e apropriações culturais.
Halle Bailey e a Ariel da Disney: Tudo a ver

A polémica da Ariel negra:

Predomina nos dias de hoje uma tendência de reformulação de certos protagonistas que mostra claramente a existência de uma agenda de diversidade a ser seguida. Temos o exemplo da personagem da Mary Jane, interesse romântico do Homem-Aranha, e que sempre foi uma ruiva natural. Mas nos filmes mais recentes, como é o caso de Spider Man: Home Coming, ela é interpretada por uma atriz negra. Esta é uma representação que, obviamente, não é fiel à versão original. Em literalmente nada.

Kirsten Dunst e Zendaya Williams, a Mary Jane negra

A MJ original. Como qualquer outro artista, eu passava-me se tivesse o trabalho e o engenho de criar esta personagem, para décadas depois uma agenda política ma vir roubar e transformar à sua maneira.

O Homem-Aranha é, e sempre foi o meu super herói favorito. Não da Marvel, não de outra entidade qualquer. É, ainda hoje, o meu super herói favorito. Não gostava de mais nenhum com o mesmo fervor e dificilmente gostarei tanto de um outro.

A trilogia do Homem Aranha adaptada ao cinema pelo Sam Raimi (2002-2007), foi para mim a melhor adaptação da franquia. O Tobey McGuire vai ser sempre, na minha opinião, o melhor Homem Aranha do cinema. Até hoje não consigo entender para que fizeram e refizeram novamente a história, e com atores diferentes. (Há de haver todo um movimento secreto sublinear por detrás dessa decisão.) 

Anyway, na trilogia do Sam Raimi, a Kirsten Dunst, que não é uma ruiva natural, conseguiu uma representação bastante adequada da Mary Jane original. Porque, quer nos livros de banda desenhada originais, quer nos desenhos animados dos anos 90, a MJ era uma ruiva natural.
Agora surge um novo live action, da Disney, do filme A Pequena Sereia, em que uma atriz negra, a Halle Bailey, foi escolhida para representar a personagem da Ariel, cuja imagem a Disney se encarregou de marcar nas nossas memórias como sendo uma ruiva.

Se alguém quiser aprender algo novo hoje: Os ruivos natrurais representam apenas 2% da população mundial. São literalmente uma espécie em vias de extinção, que sobreviveram a perseguições de todo o tipo no passado e que não têm praticamente representação nenhuma em papéis de destaque, em filmes ou em séries. Quando surgem no grande ecrã, costumam ser sempre sob a forma de side kicks ou comic reliefs, de quem todos se riem. Esta apropriação da Ariel, por parte da Disney, para ser transformada numa negra, não constituirá uma ofensa para quem é ruivo e raramente se sente representado?

A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, muitas vezes também representada como loira - mas SEMPRE de pele clara.

Num conto tradicionalmente europeu, que fez o imaginário de séculos de gerações, num continente onde a descoberta dos mares e a presença das sereias estão patentes em mil lendas do velho continente, eu pergunto: Porquê uma Ariel negra? Não vejo outro motivo que não o da inclusão racial. Porque, bem, "é um filme de ficção, podemos fazer o que quisermos, a Ariel pode ser de qualquer cor, ainda por cima é uma sereia, não é uma pessoa real".

Mas reparem que só dizem isto quando a personagem está a ser alterada de branca para negra. Porém, se um personagem fictício, tradicionalmente negro, for transformado numa personagem branca, então é considerado racismo contra os negros e uma completa obscenidade!

Portanto, não faz mal a Disney pegar numa personagem do folklore europeu e torná-la negra. Mas, e o alvoroço que se levantaria caso se pegasse na Tiana de A Princesa e o Sapo e a substituíssem num live action por uma atriz branca? Seria feita toda uma revolução só por causa disso e os negros seriam logo considerados vítimas de racismo. Mas se os negros (neste caso, a Disney) aculturarem ou se apropriarem de uma personagem branca, ainda que fictícia, para a tornar negra, já não há problema. E os brancos têm é que aceitar, porque, de outro modo, são racistas. Not the other way around, right?...


Sex symbol - Idris Elba

Miss Universo - Leila Lopes

O artista que mais quebrou barreiras raciais e abriu as portas da MTV à promoção dos artistas negrosque lhe sucederam, um dos maiores filantropos de sempre. O cantor com o álbum mais vendido da História, entre mil e outros feitos recordistas - Michael Jackson

Uma lenda do cinema - Morgan Freeman

Uma das mulheres mais poderosas do Mundo - Oprah Winfrey

O primeiro presidente negro da História dos EUA - Barack Obama

Eu pergunto: Onde é que os negros têm falta de representação, nos nossos dias? Há alguma falta de carinho ou de irmandade para com estas pessoas que seja aplaudida? Falta de oportunidade de serem aquilo que quiserem? De se educarem? De estudarem? De trabalharem? De serem pessoas magníficas e inspiradoras? Nos dias de hoje e na nossa sociedade?

T'Challa de Black Panther

Se o T’Challa do Black Panther, fosse reformulado com um ator branco, a malta Woke entrava em paranoia, sentir-se-ia compreensivelmente ofendida com tal coisa. Era feita uma mobilização social na hora, se fosse preciso, caso tal atrocidade fosse cometida. E é essa a hipocrisia que não suporto.

Em vez de desenvolverem novos personagens negros, - incluindo sereias - e novas histórias onde os inserir, pega-se em personagens brancos já existentes e muda-se-lhes a raça?
Teremos de aceitar tudo então? Que o Ratatouille um dia seja representado por um cão em vez de um rato; que o Tarzan seja interpretado por um ator japonês, que a Pocahontas passe a ser alemã. Tudo porque, mil e uma desculpas para problemas de primeiro mundo, inventados na hora e da maior urgência: os cães são os animais mais adorados do universo e ainda não têm representação que chegue (*inserir sarcasmo*), os japoneses não têm tempo de antena suficiente em ambientes de selva, e os alemães porque precisam de consolação, já que toda a gente os discrimina e culpa desde o Holocausto...

Está a ficar tudo doido? Onde é que se traça uma linha??

Será que cada filme de Hollywood, daqui em diante, tem de ser forçado a incluir uma pessoa gay, uma pessoa judia, uma pessoa negra, uma pessoa hispânica, basicamente, pessoas de todos os países, raças, religião, cor, tamanho? Tem de obrigatoriamente dar papéis de glória e empoderamento à Mulher, numa indireta chapada aos homens, que no mesmo filme, são agora sempre retratados como completos idiotas e incapazes?! Tudo em nome de uma inclusão (mais que estabelecida), e negligenciando completamente o contexto, a associação cultural, a identificação visual pré-concebida, a lógica e por vezes até a própria História?

Este filme é a apoteose de todos os disparates que menciono em cima. Vejam por vossa conta e risco, certificando-se de que conhecem a História factual destas rainhas, de antemão.

Entenda-se: A Bela do Monstro sempre se sentiu diferente na vila, porque lia livros e passava os dias na lua, a sonhar com aventuras, e era considerada estranha pelos seus conterrâneos devido a isso. Não porque vivia oprimida numa aldeia que a proibia de ler ou que a castigaria por usar um invento caseiro para lavar a roupa enquanto ensinava uma criança a ler! A Bela do Monstro não era uma vítima de nada, muito menos de qualquer opressão e MUITO MENOS por ser mulher! Dá-me sincera vontade de rir! Vão os doutores dos tempos modernos afirmar que ela talvez sofresse de bullying, só porque não era compreendida pela maioria? Não sei como ainda ninguém veio com essa...

A Bela do Monstro não estava interessada em casar com ninguém, mas também não fazia caretas óbvias e mal-disfarçadas de depreciação agressiva nas costas do Gaston, por muito insistente que ele fosse – pelo contrário; Apesar do quão eram chatas as investidas românticas dele, a Bela tentava sempre o seu melhor por esconder ao máximo o seu aborrecimento, sendo sempre educada e gentil com ele, quase com medo de ferir os seus sentimentos. Mas pronto, tiraram essa gentileza à heroína, porque o feminismo é ser-se bruta e malcriada com os homens e ser-se gentil e "princesa" é considerado fraco. E andar de culottes à mostra. A Bela é uma rapariga moderna demais para a sua aldeia, mas nunca andaria de culottes à mostra – na época o equivalente àquilo que seria mostrar as cuecas há uns 20 anos atrás. (Porque desde aí, evoluímos e mostrar as cuecas já é mais que normal, eu é que sou uma velha antiquada...) 

A Bela, se usou corpete no original, só fez sentido que o usasse, pois a história passa-se no século XVIII, onde usar corpete era o comum na moda feminina. Não era visto como um objeto de opressão, como defendeu a Emma Watson, nas suas exigências em não usar um, durante as filmagens - pergunto-me o que conseguiu ela com essa birra. A Bela não se recusaria a usar um vestido digno de princesa lá porque não era uma princesa. Uma coisa simplesmente não impede a outra. E desde quando é que ser uma princesa passou a ser um insulto ou algo mau?...

Não sou anti-gay, anti-feminista, nem muito menos racista. Acho simplesmente que vivemos numa sociedade onde não faltam representações positivas dos gays, das mulheres, dos negros, em filmes, séries, novelas, mangás, animes, o que vem provar a cada vez maior aceitação e inclusão positiva destas (e de todas) as pessoas. Acho que o feminismo pelo qual tanto lutam as queixosas mais extremas dos nossos dias, não se aplica a países de primeiro mundo como o nosso, ou qualquer outro país ocidental. Temos variados privilégios e mulheres de força e coragem, espalhadas pela sociedade, variadíssimas representações do valor da mulher em filmes, desenhos animados, programas de televisão, ao longo de todos estes tempos. Estas minhas convicções necessitariam de todo um post dedicado só a elas.

Angel Coulby como Guinevere na série Merlin, da BBC

A Guinevere das lendas do Rei Artur

Voltando à eliminação dos ruivos, do ecrã: não aconteceu só com a Ariel nem com a Mary Jane. Na série da BBC, Merlin (que vi há bastante pouco tempo e que adorei) a personagem da Guinevere era também representada por uma atriz negra. Estamos a falar de uma personagem da antiga mitologia britânica, das lendas arturianas, que sempre foi retratada em todo o folklore, como uma ruiva. Ou pelo menos, uma donzela de tez clara. BASTANTE clara, já que o seu nome significa literalmente “fair white” ou ‘branco delicado’, no antigo galês.

A personagem da Ariel foi criada para ser de uma certa maneira, e agora está a ser mudada por causa do politicamente correto e da wokeness de Hollywood. Quem quiser pode argumentar que nada disto importa, que é só uma personagem fictícia. Mas claramente Hollywood, a Esquerda e os Justiceiros Sociais importam-se. Pelo menos, o suficiente para fazerem estas mudanças atrozes, sem se preocuparem com o menor sentido de cultura ou de bom senso.

Vivemos numa sociedade livre, aberta, cada vez mais a evoluir no sentido de aceitação de todos os direitos de todos os seres humanos – homens e mulheres; que condena o não cumprimento desses direitos; que tem o luxo de poder fazer praticamente aquilo que quiser, desde que com isso não interfira com a liberdade do seu próximo. Somos a sociedade com mais dinheiro, mais acesso a bens supérfulos, com mais saúde, com mais direitos a tudo e mais alguma coisa. Os mais solidários para com quem tem, de facto, problemas. Incluindo para com os animais.

E mesmo assim, não chega.

Temos de inventar continuamente problemas, categorias onde nos inserirmos para sermos identificados pela luta desses mesmos problemas, vitimizações e marginalizações imaginárias e rótulos que só nos dividem em vez de unir. 

Mas trazê-las até para a Disney?!


Somos uma sociedade que luta pela igualdade e pela liberdade, e que se orgulha de apoiar a diversidade, mas onde se é simultaneamente marginalizado por expressar uma opinião. Onde as pessoas só querem ter razão, e não terem os seus argumentos apurados. Onde ouvir a verdade dói - porque o politicamente correto chegou a um nível histórico de absurdo - e onde é preferível viver rodeado de borboletas e unicórnios, em nome de uma inclusão onde tudo e todos são permitidos, sob qualquer contexto ou circunstância, não olhando ao disparate.

821 milhões sem qualquer representação ou inclusão. Nem nas nossas mentes. Estes são negros, mas há-os de todas as cores, espalhados pelo mundo.

As pessoas (TODAS AS PESSOAS) têm o mesmo direito aos seus direitos humanos e TODOS devem ser respeitados. Não porque são negras, não porque são brancas, não porque são mulheres, não porque são homens, não porque são gay, não porque são hetero, ateias pu crentes. Porque são, acima de tudo, pessoas.

No meio de tanta revolta por falta de privilégios fúteis, que já estão mais do que diante do nosso nariz, e ao alcance de qualquer cidadão que cumpra com os seus deveres e que tenha aptidão para chegar onde se propõe, numa sociedade livre e democrática, - com todas as suas imperfeições -  gostava de saber onde anda a revolta por outros assuntos com importância maior. Onde está a preocupação com a Fome? Com o direito à família e à educação das crianças, pelo mundo? Onde está a preocupação em denunciar os casos de corrupção, que é tanta no mundo - e no nosso país? Onde está a representação e a preocupação com essas realidades? Realidades urgentes de serem abordadas? 

O filme com a Ariel negra vai ser a solução dos grandes problemas deste mundo? Então, porque se mobilizam tantas pessoas em "lutas" como a representatividade no cinema, problema resolvido com a criação de novas histórias e não na alteração das já existentes? Porque é que sinto que vivo numa sociedade de adultos extremamente mimados, ao mesmo tempo desorientados e com pouco de produtivo com que ocupar as suas cabeças e o seu dia-a-dia? E que se entregam a demandas que, por muito que espelhem algumas imperfeições humanas, fazem questão de tornar em movimentos acérrimos, vividos com uma paixão com que não os vejo defender assuntos de primeira ordem?

Nao duvido da imperfeição do mundo, apesar da evolução positiva que tem vindo a ter no que toca a assuntos como o racismo, a aceitação e inclusão de minorias, a igualdade de direitos. Acho que mudar o mundo para um paraíso cor de rosa onde tudo e todos se dão bem, é uma utopia. E vão sim, existir sempre problemas, e sim, vão sempre haver pessoas ofendidas onde outras não vêem ofensa, pessoas a sofrer onde outras não o estão. De vários modos.
Mas não cabe à Disney o dever de incluir ou representar todas as pessoas e todos os mini problemas -  especialmente, se com isso arruinar gerações de infâncias. E sim, queria ver uma ruiva no papel de Ariel. Condenem-me por dizer isto! Se serve para vos acalmar e vos fazer baixar as pedras, é lógico que também gostava de ver uma negra num futuro papel de Tiana, um dia.



P.S.: 821 milhões de pessoas no mundo, estão a passar fome – 300 mil, em Portugal.
P.P.S: A Gronelândia está a derreter – desapareceu NUM SÓ DIA, 40% da sua àrea superficial.



Se é para lutarmos lutas, que seja por lutas que importam!





quarta-feira, 12 de junho de 2019

Viagem ao Porto - Review


Se me seguem no Instagram já há muito que devem ter reparado que ainda não parei de publicar fotografias desta que foi das viagens mais agradáveis, desejadas e bem sucedidas que tive nos últimos tempos. Aqui bem no nosso país. A cidade que deu o nome a Portugal. O nosso Porto. (carago!)


Sempre tive algum deslustre de nunca ter visitado esta nossa segunda capital, e já há imensos anos que se falava numa ida ao Porto. Pude finalmente fazer esta viagem no passado mês de Abril, por ocasião do fim de semana prolongado onde, este ano, estava incluído o meu aniversário. Neste post vou falar do que foi a minha passagem pela Invicta.


PRIMEIRO DIA
Fazendo a ligação Oriente-Campanhã, fizemos três horas de viagem no Inter-Cidades. Ficámos hospedados no Ipanema Park (Hotéis Fénix), na zona de Lordelo, onde ficámos confortavelmente instalados e cujas acomodações nos foram bastante agradáveis. Este hotel fica relativamente perto da Baixa do Porto, sem a confusão sonora nem o custo que teria um hotel dentro da Baixa.

Excelente acomodação


É obrigatória a paragem no Capa Negra II, nas proximidades do hotel, se querem provar a verdadeira francesinha à moda do Porto. Foi-nos recomendada pelo taxista que nos levou da estação, e foi uma ótima recomendação.

A verdadeira Francesinha à moda do Porto, no Capa Negra II


SEGUNDO DIA
Aproveitámos este dia de chuva para ficarmos pelo hotel, descansarmos e recuperarmos as energias todas de que necessitaríamos para os dias seguintes. À tarde a chuva deu tréguas, apesar do frio geral, pelo que optámos por visitar o NorteShopping e, basicamente, permanecer dentro de portas.

É sempre bom conhecer um Centro Comercial novo!

TERCEIRO DIA
Neste que foi o meu dia de anos, o tempo melhorou consideravelmente e conseguimos riscar grande parte do nosso itinerário. Depois do pequeno almoço, aproveitámos para visitar as redondezas e conhecer melhor a zona de Lordelo. Seguimos de autocarro para o Palácio de Cristal, onde, entre jardins e animais improváveis, tínhamos vistas lindíssimas para o Douro.

Jardins do Palácio de Cristal




 Depois de visitarmos o ex-libris da cidade, a Torre dos Clérigos, continuámos para a praça dos Leões e para a famosa e lindíssima parede de azulejos da Igreja do Carmo. A livraria Lello estava de caminho e não pude perder a oportunidade de a visitar. Mas boa sorte se estão à espera de conseguirem uma boa fotografia na escada principal.

A Torre dos Clérigos

A fachada lateral da Igreja do Carmo, não só é lindíssima, como é super instagramável!


Achei ridículo o número de pessoas dentro de um espaço tão pequeno e antigo. Estamos a falar de dezenas de pessoas, a subir e a descer simultaneamente escadas de madeira antiquíssimas. Este facto fez com que desfrutasse muito pouco da experiência da livraria. Para quem não sabe, a livraria Lello era bastante frequentada pela JK Rowling, durante os anos que viveu no Porto, e as escadas serviram-lhe de inspiração para criar as famosas escadas móveis de Hogwarts, que levam o Harry Potter a locais proibidos.

É este cenário que vão encontrar num dia normal. Sabem aquelas fotos bonitinhas nas escadas, dignas do Pinterest? Esqueçam.

A tentar. Será que consigo?  xD 

Não é tão especial como a de King's Cross, mas esta plataforma supostamente também vos leva a Hogwarts

Há todo um cantinho dedicado só a Harry Potter e a toda a obra da JK Rowling, que me entusiasmou imenso. Se são fãs da saga, este sítio é de paragem imperativa.
No mesmo dia, explorei um pouco da Avenida dos Aliados, a estação de São Bento e a Muralha Primitiva. Terminámos o dia na Ribeira, onde travámos conhecimento com a lendária ponte D. Luís I e um Douro magnífico.

A Muralha Primitiva 
Passaria tardes inteiras a passear pelos Aliados, adorei esta avenida.

Tem de ser mesmo dos locais mais bonitos de Portugal

QUARTO DIA
Da Foz, fizemos a pé o percurso até à zona de Castelo do Queijo. (Contrariamente ao que eu achava, e, devo dizer, com alguma pena, não existia lá nem castelo... nem queijo!) Estava muito vento e a caminhada não foi agradável. Mas o percurso foi bastante bonito, sempre com o mar ao nosso lado, e ruas e casas bonitas do lado oposto. Aproveitámos para voltar à Baixa e explorar melhor a zona dos Aliados. Gostei particularmente da Igreja de Santo Ildefonso, próxima da estação de S. Bento, ambas marcos da arte do azulejo em Portugal.

Foi difícil tirar fotos na zona da Foz. Apesar de muito bonita, não me agradou a ventania.

QUINTO DIA
O último dia, que estava programado para visitarmos Coimbra, ao descermos novamente para Lisboa. Depois de fazermos o check-out, rumámos até lá, onde explorámos a cidade durante algumas horas. A Quinta das Lágrimas era a nossa principal intenção. Deixámos as malas num local de confiança e pudemos visitar a cidade a pé, sem preocupações. Encontrámos a Igreja de São Tiago, uma relíquia Românica encantadora, e as ruínas do Convento de Santa Clara, onde Inês de Castro viveu os seus últimos dias. A Quinta das Lágrimas agradou-me bastante, com um tipo de natureza muito puro, como que preservado no tempo. Foi o local verde que recentemente mais me impressionou pela pureza, beleza e um quê de intocabilidade.

Só não me chamo Inês

Esta vista foi das poucas coisas bonitas que realmente me impressionaram em Coimbra 
.... E esta Igreja. A sério.


Chegámos a Lisboa por volta da meia-noite, comigo num enjoo de estômago monumental, devido às inúmeras e violentas trepidações do Alfa-Pendular, comboio que me desapontou imenso e que tentarei evitar sempre que puder.


Pontos fortes da viagem:
- O ar puro e fresco em toda a cidade do Porto.
- O equilíbrio perfeito entre fator cidade e fator natureza.
- Paisagens lindíssimas por todo o lado.
- A beleza e o clássico dos edifícios, capazes de competir com os de uma Paris ou Amsterdão.
- A educação, a civilidade e a paz que transparecem os portuenses nas ruas. (Quando na verdade esperava ouvir algums caragos... e todos os seus derivados!)
- A relativa proximidade de praticamente todos os pontos de interesse.
- A facilidade de transportes.
- A sensação de segurança e calmaria nas ruas.
- O preço simpático dos restaurantes em geral.
- Em Coimbra, a vista sobre o Rio Mondego e a Quinta das Lágrimas.

Pontos fracos:
- Viagens de autocarro muito caras (2€ cada viagem por pessoa)
- Vento bastante desagradável na zona da Foz.
- Matosinhos (nada de interessante para ver) – desculpem, pessoal matosinhense.
- A pacatez de Coimbra, muito pouco própria de uma cidade.
- Alfa-Pendular: Para quem nunca andou, imaginem-se dentro de um avião que corre a toda a velocidade pela pista, prestes a descolar, mas que nunca descola. Durante 2 horas...

 O Porto não só ficou aprovadíssimo, como deixou saudades. Fico feliz se lá puder voltar.