sábado, 29 de dezembro de 2018

As pessoas ideais


Ao longo dos anos tenho ouvido, incessantemente, várias mulheres, colegas de trabalho ou amigas perguntarem:  “Onde andam os (bons) homens?” Quase como que retoricamente. "Os homens são todos iguais."; "Não se encontram homens de jeito" ou "que mal fiz eu para não merecer um homem como deve ser?" são outros lamentos que as ouço bradar aos céus com frequência. 
As que nunca namoraram, queixam-se igualmente. As que já namoraram - muito ou pouco - continuam a queixar-se de lições que parecem não aprender. As casadas ou as que estão em relações de longo prazo, parecem sempre insatisfeitas com o companheiro ou marido que escolheram e queixam-se.
Constantemente. 

De modo igual, mas menos frequente, venho ouvindo o mesmo tipo de comentários da parte de alguns homens, também eles amigos, colegas ou conhecidos. "Já não há mulheres sérias.", "Onde estão elas?" Como se nem sequer esperassem realmente uma resposta à própria pergunta. 

Esta questão existencial parece continuar a fazer parte do dia a dia de muitos que me rodeiam. Dos aleatórios com quem por vezes me cruzo e nem volto a ver. 
Então... onde andam eles? Esses homens e mulheres perfeitos? Porque é que é tão difícil para jovens e velhos, homens e mulheres, hoje em dia, encontrarem um parceiro à sua medida? 

Pessoalmente, cheguei a perguntar a mim própria o mesmo. Sempre fui uma daquelas pessoas que se queixava e que era esquisita com as pessoas que escolhia para ter ao meu lado. Fôssem interesses românticos ou mesmo amigos. Como se eu só merecesse o melhor. As melhores pessoas. 

Mas um dia fui confrontada com uma outra pergunta à minha interrogação inicial:  “Porque é que achas que mereces um bom homem, Mel?” 

Não sei, acho que sempre assumi que... toda a gente merece uma boa pessoa ao seu lado, não? O príncipe encantado, o homem perfeito, o 'arquétipo da perfeição' - Certo, Miguel Araújo? Que nos ponha a fazer “check” na lista interminável de coisas que procuramos num homem desde adolescentes, e à qual adicionamos novas exigências à medida que os anos passam. Que seja até mesmo convenientemente parecido com o ator com quem fantasiamos desde a puberdade. Certo? 
Errado. Ao cubo.

Não temos, de modo absolutamente nenhum, direito a ter uma 'boa' pessoa, particularmente se nós próprios não formos boas pessoas. Ao sermos a melhor versão da nossa pessoa temos muito mais hipóteses de atrair uma 'boa' pessoa e de sermos merecedores da dita. 

Ao sermos pessoas trabalhadoras, disciplinadas, que praticam o perdão, valorizam a compreensão, o diálogo, a gratidão, pessoas leais, respeitadoras, pessoas com bom cuidado da sua higiene, imagem e saúde, são maiores as hipóteses de atrairmos, para nós, pessoas com qualidades semelhantes, a dada altura da nossa vida.

Mas se os que me estão a ler não têm nenhumas destas (ou outras boas) qualidades, as que considerem importantes num parceiro, dificilmente estão no direito de esperar que um dia vão encontrar uma 'boa' pessoa, ou de achar sequer que a merecem. Um bom homem, companheiro, namorada, esposa, amigos. 


Acredito sincera e logicamente que, uma parte de nos melhorarmos a nós próprios passa por termos a humildade de admitir que os outros NÃO têm que nos aceitar exactamente tal como somos. Ao contrário dos muitos disparates egoístas e frutos da cultura do 'Eu' em que vivemos. Ouvimos tantas vezes disparates absurdos em como “O amor é aceitar a outra pessoa por tudo aquilo que ela é”, ou “Se não aceitas o pior de mim, não mereces o melhor de mim” ou ainda o imaturo “se não me aceitas na totalidade, é porque não me aceitas de todo”, e pensamentos altamente egocentristas, desprovidos de bom senso e lógica do mesmo género.

Primeiro que tudo, o amor não funciona assim - se estivermos a falar de amor. Estes modos de pensar não podiam estar mais longínquos da verdade e de serem mais imaturos e ridículos. Senão vejamos: E se tivermos mesmo falhas e defeitos graves em nós? Arrogância, maldade, mesquinhez? E se houver, efetivamente, falta de higiene insuportável, ou se por culpa própria são pessoas claramente com excesso mórbido de peso, que descuram a sua saúde? 

Então e se tiverem sérios problemas de carácter violento, ou forem pessoas incredulamente egoístas ou insuportavelmente críticas, onde tudo gira só à vossa volta e daquilo que VOCÊS acham, pensam e sentem? E se forem uns alcoólicos irresponsáveis, de copo na mão em tudo o que é bar até aos 30 anos, sem qualquer outra ocupação orientada para um futuro estável com alguém que procuram que seja sério? 
Deverão os outros aceitar-vos porque estas coisas todas são quem VOCÊS são? Ou não será antes mais fácil admitir que existem falhas pessoais, e tentar remediá-las, em vez de forçarem as outras pessoas a aceitá-las?

Na geração 'Eu' em que vivemos não, não é fácil - E isso é um problema. 

A sociedade diz-nos hoje que temos de aceitar tudo, não há regras, não há ordem, que se lixe o Outro - Eu primeiro. A culpa de ninguém gostar de Mim é da sociedade, a culpa de Eu ser gordo é da sociedade, que não gosta de gente gorda; a culpa de Eu me sentir feia é das modelos da Victoria's Secret, do Photoshop e do Instagram. Se estou solteira, é porque os homens de hoje em dia... 

E a culpa vai para cima de tudo e de todos - excepto de NÓS próprios. 

O que é curioso, pois nesta mesma cómica geração queremos que TODOS olhem para nós e para a nossa vida e que nos achem o máximo. Porém, somos os últimos a olhar para ela de modo autoconhecedor, honesto e sincero. Porque essa responsabilidade é muito pesada. E responsabilidade também não combina com a maioria de muitas destas pessoas. Que querem acreditar que são perfeitas, que os filtros das redes sociais as conseguem mesmo convencer de que são tão boas e bonitas por dentro, como as fazem parecer por fora. 

E pronto. E quem quiser ponha like. E "se não gostas, põe à borda do prato. Problema teu. Eu sou assim - take it or leave it. Born this way."

Fogo, pá... não tenho sorte com os homens/mulheres.

Não quero dizer que tenhamos que invalidar as nossas imperfeições, porque no final de contas elas fazem parte de nós, e do que é ser humano. Mas larguemos um pouco a mentalidade fraca e irresponsável de que “Isto sou eu, eu sou assim, e nada em mim está ao meu alcance para ser retificado.”
Não devemos permitir-nos o conformismo e o comodismo. Somos seres imperfeitos sim, mas as imperfeições devem ser encaradas como estímulos à nossa evolução como seres racionais. 

Devemos trabalhar todos os dias para nos melhorarmos a nós mesmos. Mesmo quem já é comprometido. Se o fizermos, se tentarmos todos os dias ser boas e melhores pessoas, não só preocupadas no que os outros podem fazer por nós, mas também naquilo que podemos fazer pelo Outro, aí sim podemos mais facilmente encontrar o tal homem ou mulher bons. E a melhor parte: sentirmos que somos merecedores de tal pessoa.

 


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Há Bohemian Rhapsody e existe Queen

O filme Bohemian Rhapsody parece ter vindo reavivar a memória ou dar a conhecer pela primeira vez a muitas pessoas, que, em tempos, existiu uma grande, talentosa e lendária personalidade – Freddie Mercury. Possivelmente o maior vocalista de toda a História, naquela que foi, é e sempre será, para mim, a maior banda de Rock do mundo: Queen.

Nos cinemas portugueses desde 31 de Outubro, o filme parece continuar a ter os seus efeitos no público. É provável que os fãs hardcore, categoria onde orgulhosamente me insiro, nem tenham apreciado o filme assim tanto. Talvez por ser uma representação ínfima do que foi realmente a vida da banda. Decerto que valeu à dita, ainda hoje representada por Roger Taylor e Brian May, algum reabastecimento financeiro.  Valeu também montes de merchandising associado ao grupo e ao próprio Freddie. Merchandising esse que teve, no último mês e meio, uma presença insistente em tudo o que é loja. E que deu à luz uma geração de ‘novos-fãs’.

Nunca é tarde demais para se ficar fã de uma banda. Especialmente se estamos a falar de Queen. Mas não posso deixar de sentir que é triste quando as pessoas reduzem Queen a uma única música. Só porque tem o mesmo nome do filme que foram ver ao cinema e que lhes lembrou de que, "afinal, Queen é bom".

Freddie Mercury morreu em 1991, mas a banda nunca deixou de existir. Os êxitos que produziu são só algumas das melhores músicas de sempre. E quem aprecia Queen a sério, quem é fã a sério, sabe que Queen é todo ele um mundo musical longo e abstrato.
O filme Bohemian Rhapsody, por muito que reconheça ter sido um bom filme, não é nem metade do assunto real. E é só triste ver um recém-fã na Fnac a querer comprar a banda sonora original do filme por 20€, porque continha a música que deu o nome ao filme, em vez de pagar pouco mais e levar para casa um pack de três CD com os maiores êxitos dos Queen (incluíndo a pretendida música). É igualmente triste ver malta relativamente adulta, com os seus vintes ou até já nos seus trintas, (abaixo de vinte dou um desconto) que, de repente, se acha entendida na banda e se considera fã de Queen, só porque viu o filme agora -  mas que nunca gostou deles nem das suas músicas até há um mês atrás.

'God Save The Queen' - uma das maiores bandas de tributo aos Queen. Estes argentinos já vieram várias vezes a Portugal e pude vê-los ao vivo por duas ocasiões: em 2011 e 2012 no Campo Pequeno. Vale muito a pena.

Vanglorio-me por ser uma pessoa musicalmente rica. Os meus pais tiveram-me com 26 anos, e na primeira casa onde cresci, os meus dias eram passados a ouvir ingenuamente as (boas) músicas dos anos 70 e sobretudo 80. Posso dizer que os meus pais tinham um gosto musical excelente, e que talvez nem se apercebam dos tesouros que, inconscientemente, me deram: Madonna, Michael Jackson, Elton John, Bee Gees, White Snake, Scorpions, Pink Floyd, Alphaville, Bon Jovi, Brian Ferry, Duran Duran, ImagiNation, Prince, Savage, Europe ou Cock Robin eram presença assídua na máquina de vinil e posterior aparelhagem que tivemos.
Todos estes artistas me acompanharam e contribuíram para o meu enriquecimento artístico sem fazerem a menor ideia. E mesmo quando, aos 6 anos, comecei a fazer as minhas primeiras escolhas musicais das quais ser fã (Spice Girls, Celine Dion e Laura Pausini), nunca me distanciei daquilo que era a boa música. Como se, por mais Britney Spears ou Backstreet Boys que fossem aparecendo, a música dos meus pais fosse sempre diferente e mais especial.

Os Queen vieram até mim mais tarde. Aparentemente o vinil do lendário 'Innuendo' sempre esteve em nossa casa, e sem dúvida terei ouvido Queen passivamente em bebé, juntamente com todas as outras bandas dos anos 80. Mas quando a máquina de vinil, da qual fracamente me lembro, deu o berro, comprou-se a aparelhagem, e os Queen ficaram para trás. Não ouvi Queen em casa até muitos anos depois.
Aos doze anos fui diagnosticada com escoliose severa. E tive de me submeter a um rigoroso, longo e duro tratamento para me curar, que felizmente terminou com sucesso. Foi numa das frequentes idas ao ortopedista, que o meu pai parou numa qualquer loja de discos e comprou o álbum de êxitos dos Queen - Greatest Hits II. Esse dia marcou-me para sempre.

Com doze anos, é claro que já tinha ouvido Queen algures no Rádio. Talvez sem sequer saber que era Queen. Sem sequer imaginar que era mais uma das boas escolhas de música que os meus pais tinham em casa e com a qual viveram a juventude.
Não houve nenhuma visita ao ortopedista em que não fôssemos a bombar o álbum no carro, desde a porta de casa até ao estacionamento do Curry Cabral. Cada faixa era melhor do que a anterior. Cada música tinha uma musicalidade diferente, todas alegres, poderosas e brincalhonas. Tão boas e intemporais, que continuariam a enquadrar-se igualmente bem no plano musical de hoje em dia.

Curiosamente, nunca gostei da 'Bohemian Rhapsody'. Não estava incluída naquele Greatest Hits II, pelo que cresci a apreciar muito mais todas as outras músicas de Queen. Das vezes em qua a ouvia na rádio, a música parecia-me desprovida de senso ou mensagem. Um autêntico circo de mesclas musicais na mesma faixa. Uma completa comédia de Fígaros, Galileus, uma pobre mãe qualquer e um coro de gente histérica aos gritos. Música clássica, com rockalhada, piano introspectivo, solos loucos de guitarra.. Não deixa de ser imperativamente uma música icónica e lendária, que espelha da melhor maneira a diversidade criativa da banda e que melhor reflete o engenho e a excentricidade genial musical que a caracteriza. Não sou menos fã por não amar a 'Bohemian Rhapsody' de morte.

Mas Queen não é só 'Bohemian Rhapsody'. Não pode o nome de um filme de homenagem transmitir isso, nem criar modas ou fenómenos. Queen é maior que aquele filme e maior que a vida. Queen é a melhor banda de todos os tempos e não uma moda que um filme de repente nos faz seguir.

A primeira vez que os pude ver e ouvir ao vivo: Os Queen com a voz de Adam Lambert no passado Junho, no Altice Arena. Desfiz-me em lágrimas quando o verdadeiro Freddie surgiu, em holograma, para finalizar a 'Love Of My Life' ao lado do já velhote Brian May. Ele chorou também :')


Tenho pena dos que precisaram de ir ao cinema para se tornarem fãs da banda, quando as suas músicas nunca deixaram de estar presentes nas rádios ou televisões de Portugal e do mundo inteiro. Tenho pena que se cinjam à ‘Bohemian Rhapsody’ e às típicas ‘I Want To Break Free’ ou ‘Under Pressure’ por serem as habituais passadas na m80.
 Lastimo que poucos saibam que o Brian May não só é um dos melhores guitarristas que veio à Terra, como também é um astrofísico que contribuiu para a NASA com importantes estudos sobre partículas solares, e que fabricou a própria guitarra, com madeira destinada à construção de uma lareira, com a ajuda do pai. Guitarra essa, patenteada, de modelo inacessível à grande maioria dos mortais. – A Red Special.

E nunca mais pararia de escrever sobre Queen. Queen não é moda nem fenómeno. Não é algo que se odiava ontem e que se gosta hoje. Muito menos por causa de um filme. Fenómenos acontecem e desaparecem. Queen e Freddie Mercury EXISTEM. 
E são para sempre.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Oi saldos! - Dicas de poupança


O Mundo da M anda muito paradinho aqui pela blogosfera. O que não deixa de ser bom, pois é sinal de que o mundo offline está a girar e bem. 
Gosto muito de compras, e adoro comprar roupa. Com os saldos à porta, pensei deixar aqui algumas dicas pessoais, muitas delas até já banais, que talvez ajudem na época de promoções que começa já dia 28 deste mês. A ideia é optimizar as compras, tornando-as mais produtivas e conscientes, e, obviamente, poupar dinheiro.



Fazer uma checklist ao guarda roupa. Analisem o vosso guarda roupa. Dêem-lhe uma daquelas voltas grandes e libertadoras se necessário (sabe sempre bem). Vejam o que já não serve ou o que está em mau estado. Decidam se as peças estão aptas a serem doadas para caridade ou se têm mesmo que ir para o lixo. É nestas vistorias ao guarda roupa que muitas vezes descobrimos roupas que já não nos lembrávamos sequer que tínhamos, e criamos até mudas de roupa completamente novas, com peças que sempre estiveram ali.

Uma lista é essencial: Tal como quando vamos ao supermercado, fazer uma lista aplica-se em todas as áreas de saldos. As baixas de preço são uma boa oportunidade para trocar o alisador de cabelo velho que anda lá por casa, investir numa base de maquilhagem mais profissional a um preço mais acessível ou adquirir aquela máquina fotográfica que andam a namorar há meses e que agora custa metade do preço.

Comprar apenas o que se precisa. Não comprem só porque sim. A menos que seja algo importante, como um sobretudo novo, porque o vosso foi roído pelas traças. “Calças a 5 euros? Vou aproveitar.” – Calma. Precisam mesmo delas para o dia a dia? Têm falta de calças? São o vosso tamanho? O modelo que mais gostam? Se tudo sim, ok. Se não, repensem. Se calhar já têm o armário cheio de calças e esses 5 euros poderiam servir para uma boa peça de bijutaria, por exemplo. Não se percam com as compras e não saiam do vosso orçamento individual ou familiar.

Os básicos - Sempre. Comprar básicos a preços mais baixos é uma boa desculpa para atacar os saldos. Roupa interior, pijamas, tops, calças de ganga, meias, malhas, algodões. Resumidamente são as peças que se desgastam mais facilmente com as lavagens. São imprescindíveis em qualquer altura e nenhuma época como a dos saldos é tão inteligente para as comprar.

Invistam no exterior e nas peças de maior uso. Se precisam de um sobretudo, um trench, uma boa mala, ténis de qualidade ou peças que durem, são artigos a serem tidos em conta na hora de ir aos saldos.

“Não” às peças tendência. Costumo dizer na brincadeira que as tendências são para os ansiosos, pois na verdade não sigo nenhuma. São como as paixões de verão: de pouca duração, rápidas e nas quais não vale a pena investir para um futuro praticável. Gosto de artigos intemporais, simples, mas com algum detalhe distinto. Mais classy, mais trendy, mais sexy ou até mais rebelde, mas que dificilmente saiam de moda. E posso gabar-me de ter um guarda-roupa considerável à conta desse gosto. 
Cuidado com as peças tendência, por muito baixos que os preços estejam. A menos que queiram encarnar a Lady Gaga no vosso dia a dia, pensem duas vezes antes de comprar umas calças metalizadas ou um casaco de lantejoulas verde néon - daqueles que encandeiam os olhos. O mais provável é que saiam de moda na próxima temporada.

Comprem na altura certa: Se a peça é aquela, está a um preço imbatível e já só há aquela unidade, não deixem fugir a oportunidade de poupar e tragam logo a peça ou objecto convosco. No entanto, lembrem-se de que as promoções aumentam à medida que os dias passam - as melhores pechinchas encontram-se sempre nos últimos dias. Claro que há sempre o risco de esgotarem, especialmente os tamanhos pequenos, no que toca a roupa. E os sapatos entre os tamanhos 37 e 39. No entanto, para quem veste tamanhos Plus Size ou tem pé grande, são dias a não perder, pois há geralmente menos procura por esses tamanhos e o seu preço desce de modo ridículo em saldos. 

Tenham as vossas estratégias de compras. Sou uma pessoa vaidosa que adora roupa e moda. Mas também sou prática e despachada. Sou daquelas cujo mundo não cai se sair de casa com as unhas por pintar, sabem? Ou com o cabelo num dia não tão bom, atado num rabo de cavalo, se necessário. Não sou escrava do meu aspeto, pois sinto-me bem, mesmo saindo à rua de fato de treino e óculos. E quando vou aos saldos fazer uma demanda em busca dos preços baixos, tenho que me equipar à medida:

- Visto roupa confortável e prática - fácil de vestir e despir nos provadores.

- Deixo os sapatos altos e pipis em casa, e levo antes sapatos também eles fáceis de calçar e descalçar - geralmente ténis ou sabrinas. Isto poupa imenso tempo e nervos na hora de experimentar roupa.

- Levo pouca ou nenhuma maquilhagem nestes dias, pelo simples facto de que é desagradável ter aquele cuidado extra a enfiar camisolas pelo pescoço abaixo e acima,  sujeitando-me a sujá-las de base, rímel ou batom. Mesmo que não compre uma camisola que tenha sujado sem querer, não é justo arruinar um artigo que mais tarde pode vir a ser a única peça de que alguém anda à procura. Não gosto quando acontece comigo, pelo que evito fazê-lo aos outros. É uma questão de zelo e cuidado.

Posto isto, a minha tática de compras nos saldos baseia-se em escolher um dia, geralmente de semana - para evitar multidões - para visitar todas as lojas que me interessam. Geralmente faço uma pesquisa prévia online dos artigos que preciso, nas marcas que me interessam, para já ter uma ideia do que existe em loja. Estas pesquisas chegam a ser feitas várias vezes, com alguma antecedência.

No centro comercial, fico muitas vezes sem comprar nada na hora. Tiro fotos ou aponto os artigos que me interessam em cada loja. Quando entro na primeira loja e vejo aquela saia de que preciso urgentemente, não a compro de imediato. Dou voltas às lojas seguintes e muitas vezes acabo por encontrar a peça do mesmo modelo, mas noutra marca, por vezes a um preço que me agrada mais. Às vezes é necessário entrar e sair das lojas várias vezes, mas no fim compensa. Acontece frequentemente, entre visitas, aperceber-me de que afinal aquela peça que achei linda na primeira loja não me faz assim tanta falta ou que não é assim tão interessante.
No fim, lá decido o que comprar no momento e entro novamente nas lojas que preciso. Ou compro mais tarde, via online, que é o próximo ponto.

Comprem online. Odeio a confusão das lojas. Apesar de apenas me interessar por 6 ou 7 lojas de roupa diferentes e de usar as minhas táticas de compra, acima mencionadas, passar muito tempo no centro comercial irrita-me e cansa-me rapidamente. Se sei os tamanhos que visto em todas as lojas que me interessam e já experimentei os artigos cujo tamanho estava em dúvida, opto pelas compras online. Os artigos são os mesmos que vimos na loja, mas recebemo-los no conforto da nossa casa. Muitas marcas fazem descontos em artigos exclusivamente online, que valem a pena aproveitar. Marcas como a Stradivarius já disponibilizam o Multibanco como modo de pagamento, o que é super cómodo e fácil.

Levem os amigos às compras. Pessoalmente ando melhor nas compras sozinha do que acompanhada. Apesar de ter um namorado que me segue pacientemente como um cordeirinho para qualquer loja que lhe peça, e que goste inclusivamente de dar a sua opinião, não necessito realmente de muitas opiniões, pois sei sempre aquilo que quero, o que gosto e o que me fica bem. Levar companhia atrás geralmente faz-me perder tempo e torna a minha ida às compras pouco eficiente. Já ele, por exemplo, agradece e aprecia que o acompanhe nas compras de roupa, onde não se ajeita tão bem sem o meu input e opinião feminina. 
Levar um amigo ou familiar convosco às compras ajuda-vos (...ou não) a controlar as compras compulsivas e a torná-las mais eficientes. A opinião deles pode mudar completamente a vossa percepção do artigo. Ter amigos que dominam as áreas das peças que querem comprar é uma grande vantagem: Uma prima maquilhadora vai sempre ter a melhor opinião sobre produtos de maquilhagem. E a sabedoria de um namorado nerd é igualmente útil na compra do último telemóvel ou pc.

Esqueçam o passado e o futuro. O presente é AGORA. Este conselho tem-me sido bastante útil há anos. Por isso anotem para a posteridade: ‘Se não usas uma peça de roupa há 2 anos, não vais voltar a vesti-la’. E posso garantir que é verdade. Uma peça de roupa que esteja todos os dias estampada à vossa frente, ou até escondida, no armário e na qual não tocam há dois anos... é porque não a vestem mais. Ponto. É porque já não é importante, moderna, atual, bonita o suficiente para vocês. Se o fosse, pegariam nela com mais frequência. “Ah, mas foi uma recordação de...” – psiu! A menos que seja uma relíquia de família como um vestido da trisavó do rei D. João IV, que vos custe o pescoço, deixem-se disso. Se não usam há dois anos, é para pôr no passado – já era. De igual modo, evitem comprar artigos com ideias baseadas em planos por concretizar, como: “Para vestir quando perder/ganhar peso” ou “quando tiver um casamento ou uma festa”. 
A roupa tem de ser comprada para o Presente e para o corpo que temos AGORA. Essa do perder peso fica sempre para amanhã, não é verdade, senhoras? E, a menos que pertençam a uma família africana moderna, contentem-se com um casamento a cada quatro anos. E poupa. (literalmente). <3


Boas compras!

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

E que tal a Moda do Planeta?

Já quis ter publicado este post há umas semanas atrás, mas na impossibilidade... aqui está.

Parece que o outono se instalou de vez em Portugal. Como é que sabemos que ele chegou? É simples, ficamos confusos porque ACHAMOS que é outono, mas lá fora o tempo ou está típico de Inverno ou típico de verão. Neste caso, trata-se da primeira situação. Bora lá vestir uns vestidinhos ou calções com aquele collanzinho transparente, umas camisolinhas de malha daquela ainda leve, uns casaquinhos de ganga... só que não.

Se numa semana vesti calções e t-shirt, na seguinte nem deu para passar pela fase da roupa de meia estação. Friorenta ao cubo como sou, lá tive que ir resgatar precocemente ao roupeiro os casacos quentinhos, as calças de ganga, as camisolas mais peludas, galochas (mais triste não pode ficar)... e pronto, lá se foram as ideias de mudas de roupa outonais que tinha planeado para um início normal de outono. 

Já acabaram os dias de sol e as ondas de calor de Agosto. Ventania com fartura, temperaturas já a roçar o inverno rigoroso e a chuva. Espero que se cale agora aquela malta infeliz que, durante os já habituais verões portugueses prolongados (como este ano não foi o caso), começa, mal se dá por isso, a desejar de volta “as mantinhas, as lareirinhas, as camisolas de manga comprida, as botinhas, a chuvinha.”

Que verão houve este ano em Portugal? Usei camisolas de lã até Abril, Maio – tenho fotos do meu aniversário que o comprovam! Fui (forçosamente) à praia com os meus alunos nas três primeiras semanas de Julho, e em 15 dias úteis de praia, só 3 ou 4 foram de sol e de calor à vontade, em que me pude despir e ficar de biquini, sem nevoeiros matinais, chuviscos, céu cinzento, ventania a percorrer o areal ou basicamente sujeita a apanhar uma constipação!


O aspeto das manhãs do passado  mês de Julho, na praia da Torre, em Oeiras

Ok que Agosto entrou a matar com uma onda de calor dos infernos. Mas esses foram os únicos dias em que pude efetivamente nadar nas águas da linha de Cascais! Foram os melhores dias de praia que tive. Os únicos dias em que usei tops sem trazer o casaquinho atrás, ou usar calções ou saias sem aquele friozinho desagradável das noites de verão. “Ai, mas não aguento estar na praia com tanto calor!” Pois, eu cá não aguento as águas frias de Portugal continental, nem já sequer as do Algarve. Pelo que só consegui entrar na água nesses dias de calor sufocante. Se puderem um dia visitar Benidorm, que não fica assim tão longe nem é a viagem mais cara das vossas vidas, aí sim venham dizer-me depois o que são águas quentinhas. Por muito friorenta que seja, não me tentem convencer de que a água do mar em Portugal é  agradável. Porque, pelo contrário, está a esfriar de verão para verão em todo o território. O Algarve está deplorável e não faz mais jus à fama que tinha. Não me tentem negar isto!

Dizem que os portugueses passam a vida a falar do tempo, geralmente sempre insatisfeitos com o estado meteorológico que se lhes apresenta no momento. Se está frio e não pára de chover, querem que venha sol. Mas depois o sol vem e já é quente demais. Seguidamente lá começa a vir a vontade de largar os quispos, os cachecóis, mostrar mais um pouco de pele, porque enfim, já cheira a festivais, já não nos entendemos com os bad hair days trazidos pela chuva. Queremos verão, praia, perna à mostra, biquinis, bronze, sedução, e mariquices afins.

Sou portuguesa, também falo sobre o tempo e chateio-me com ele. Agora, se há coisa que nunca vão ouvir da minha boca é “Ai, que saudades do inverno, das mantinhas, da chuvinha, dos casaquinhos” e restantes tretinhas. Sou uma miúda do Verão. Adoro praia, não para estar parada numa toalha de papo para o ar a apanhar sol, mas para mergulhar e nadar toda a tarde. Para caminhar ou correr ao longo da margem. Vou à praia para me mexer. Se quero descansar fico em casa, a apanhar sol na varanda, ou a dormir sestas no sofá. Praia é mar. É a alegria de poder nadar, é estar feliz, é movimento.

E não vou esconder que estou chateada com a porcaria de verão que tivemos este ano. Chegou tardíssimo e foi mega curto. Mas este facto esconde algo ainda mais grave, e do qual o português ou não sabe ou não quer falar porque implica mais do que small talk acerca do estado do tempo:

Gente, a linha que separa o verão do inverno está cada vez mais ténue no nosso país. A primavera e o outono então, quase nem têm tempo de antena, porque passamos de oito para oitenta num ápice, ao longo do ano. Se ontem estiveram 32 graus, amanhã são capazes de vir já uns 12. Para aqueles  que medem a meteorologia usando a roupa, é aquela dor de cabeça do “não sei o que vestir.” Porque ontem esteve um dia maravilhoso de verão, ainda de pé ao léu e hoje já está a chover a potes, e calçar umas galochas é só assim estranho e meio desconcertante. Aconteceu-me. Problemas mortais. Eis o verdadeiro problema:

Rasto do Leslie, a pior tempestade a pisar solo português desde 1842

O furacão Leslie já passou e saiu de Portugal. Há uns valentes dias... e ainda há pessoas a falar nisso. Não só se achou que ia ser o fim do mundo em cuecas, como tive duas chamadas alarmistas e altamente ridículas da minha mãe e da minha avó, que me aconselharam a não passar a noite sozinha em casa, acredite-se... porque, creio, na ideia delas, um prédio robusto de 5 andares como o meu ia certamente desabar todo em cima de mim...
Não querendo desfazer do fenómeno, que acabou por atingir de modo mais imperdoável o norte do país, por terras sintrenses foi só mais um dia normal e cheio de ventania, trazida pela habitual junção do efeito da proximidade do mar e da Serra de Sintra.

Isto de furacões em Portugal é raro. Foi novidade. O suficiente para colocar o povo em polvorosa. Coisas sérias: Há quem diga que Portugal vai, aos poucos, adquirir as características meteorológicas de uma Tunísia. Quente, árido e com pouca chuva. Num ano em que foi dito que se esgotaram oficialmente os recursos naturais do Planeta, assistimos a ondas de calor cada vez mais impiedosas, terramotos diários em diferentes partes do mundo e agora... um furacão Leslie, num país onde não existem furacões, que alarmou toda a gente. Então mas os furacões não eram mais típicos de uma América? Nos States são o prato do dia...

Pois é, mas tal como os especialistas que defendem um cenário tunisino para Portugal daqui a uns tempos, há também os que dizem que vamos ser visitados por furacões muito mais vezes e que estes vão passar a ser cada vez mais frequentes em terras lusitanas.

Então e que tal pensar sobre estes fenómenos meteorológicos? Não? Nos porquês? A Terra está cada vez mais quente e as placas tectónicas vão mexer-se com mais frequência, com o calor que aumenta de ano para ano. A atmosfera está saturada de tudo o que é tóxico e a natureza não podia estar mais confusa. Seriam precisas 1,7 Terras para sustentar o atual nível estimado de recursos necessários às atividades humanas - é tão simples e grave como isto. O que fazemos para ajudar? Queixamo-nos. Queremos verão quando está frio, e queremos inverno quando está calor. Não reciclamos, não abrandamos o consumismo, não mudamos comportamentos. As nossas modas egoístas sobrepõem-se a tudo o resto. Os invernos portugueses são cada vez mais longos e rigorosos, a chuva insuficiente, os verões curtos, e as estações intermédias inexistentes.
Pior do que isto, só ver imagens como esta, divulgadas este ano.

Poluição ao largo de uma Ilha no Pacífico

O que é que cada um de nós faz? Assistimos, impávidos, chateados com a mudança das estações. Preocupamo-nos com o que vestir, com os cabelos estragados pela chuva, com os verões demasiado curtos (sou suspeita,vá). Preocupamo-nos com adesões a mil e um direitos humanos da moda, morremos a tirar selfies, juntamo-nos a movimentos só porque sim. Fingimo-nos cultos e doutrinados em mil e um assuntos, citamos quotes infelizes da internet para provar que temos algo de filósofo em nós. Queremos acreditar que somos diferentes e especiais através de demandas pouco realistas.Temos os olhos colados aos ecrãs dos telemóveis desde que acordamos até nos deitarmos. Mas somos incapazes de erguer os olhos para a Natureza.

Relembro com alguma nostalgia os tempos de criança em que haviam programas televisivos dedicados a informar sobre o planeta, o ambiente e como o defender, com os quais aprendi. Denver o Dinossauro, Widget o Extraterrestre, Ocean Girl, O Verdocas. Bolas, tínhamos o Michael Jackson, que dedicava álbuns inteiros e singles ao planeta e à defesa do ambiente. Ainda hoje é a celebridade mais caridosa registada no Guiness World Book of Records, que mais doou da própria fortuna para ajudar o Ambiente (e outras importantes causas humanitárias). Onde está manifesta a preocupação com o planeta entre os artistas de hoje em dia? Porque é que isso deixou de ser moda? Já agora, porque é que o Ambiente e o Planeta têm de chegar ao estatuto de Modas para que as pessoas as sigam?

Desde quando é que o ambiente deixou de ser um assunto prioritário? Como poderão existir quaisquer direitos humanos pelos quais lutar, se não existir um planeta primeiro?
Porque é que ninguém recicla e faz a sua parte? Porque é que continuamos a preferir o transporte próprio ao transporte público? Porque é que é tão importante para tanta gente ter um carro? Ainda por cima poluidor? Porque é que se compra compulsivamente? Em marcas que pouco se preocupam pelo ambiente? Porque é que não reduzimos o consumo de animais? Porquê o contínuo e desrespeitoso hábito de deitar lixo ao chão? Ou pelas janelas?! Porque é que o português suja, destrói, rouba, vandaliza? Temos uma das capitais mais sujas da Europa. Uma Lisboa colorida, musical, bonita, mas poluída e grafitada por todo o lado...  E não teria onde acabar a lista.

Que linda, a nossa Lisboa
Quando era pequena pedi aos meus pais que comprássemos um daqueles ecopontos de ter em casa. Os separadores eram demasiado pequenos e enchiam-se várias vezes ao dia. Acabou por não ser tão prático por essa razão. Mas o hábito ficou, e apesar de não ser perfeita, dou o meu contributo ao planeta, separando cuidadosamente o plástico, do papel, do vidro. Cada material num saco. Serei sempre defensora do ambiente e da Natureza. Não há que ter um ecoponto bonito, por vezes pouco prático e caro dentro de casa. Sacos do lixo e boa vontade servem. Mas cheguei ao extremo de conhecer um vegetariano que nem a separação do lixo fazia. Os vegetarianos, que são os primeiros a ter o Ambiente ao peito, a falhar em algo tão simples e básico como a separação adequada do lixo.


Gostava muito que as pessoas parassem com modas pouco urgentes e pensassem em coisas sérias de verdade. O ambiente TEM de ser respeitado porque (novidade!) é a nossa casa. Antes de nos debruçarmos sobre os problemas da nossa casa, há que efetivamente TER uma casa. Antes de aderirmos ao movimento da moda, nos queixarmos do tempo que faz, da chatice que é, das roupas que não sabemos quais vestir, pensemos no planeta, no que fazemos por ele, e se merecemos mais do que aquilo que ele (egoisticamente) nos continua a dar. Num mundo em que as modas fazem as pessoas, se for necessário elevar o estatuto da Terra a uma moda, que seja. É triste, porque Ela é muito mais do que isso. Ainda mais tristes são os que não vêem isso. Os que não A vêem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Arte, por onde andas?

Como pequena artista que me considero desde os 2 anos, a Arte é indissociável de mim, e é um tema que me afeta de sobremaneira. Com algumas saudades da cadeira de Arte e Cultura, que pude felizmente estudar em Comunicação, é sobre a grande ausência da Arte nos nossos dias que queria falar hoje. Se são minimamente interessados na área, penso que gostarão de ler este texto, que preparei orgulhosamente durante dias. E no fim do texto, direi porque digo orgulhosamente.

Leonardo Da Vinci, Miguel Ângelo, Vermeer, Rembrandt. Durante séculos, vários foram os mestres da Arte que enriqueceram a sociedade Ocidental com trabalhos de beleza inigualável. Obras como A Pietá, Giocconda, David, toda a Capela Sistina, foram só algumas das expressões artísticas que não só inspiraram, como também motivaram e aprofundaram o ser humano ao longo das Eras. Para a execução destas obras magníficas, estes génios da Arte exigiram de si próprios nada menos que os mais altos padrões de excelência, superando-se em relação ao trabalho dos mestres que os precederam e continuando sempre a aspirar à mais alta qualidade possível e alcançável no seu trabalho.
Teto da Capela Sistina
Mas algo aconteceu algures pelo século XX, onde a verdadeira Arte, na minha opinião, morreu. O Profundo, o Inspirador e o Belo foram substituídos pelo Novo, o Diferente e o Feio. Nas entrelinhas, surgiram a Arte Moderna, o Contemporâneo, a Pop Art, e semelhantes tentativas de substancializar Arte que não o é verdadeiramente. Nos nossos dias, o Patético, o desprovido de sentido ou o puramente ofensivo são considerados o melhor da Arte Moderna.Como é que morre assim todo um milénio de ascensão à Perfeição e à Excelência? Talvez não tenha morrido per se, mas lá que foi empurrado para bem longe, foi.

Petra
Tudo começou com os Impressionistas dos fins do século XIX, que se rebelaram contra a Académie des Beaux Arts e contra o Padrão Clássico por ela exigido e doutrinado. Estes modernistas rebeldes iniciaram então o começo do chamado Relativismo Estético – A ideia de que “A Beleza está nos olhos de quem a vê.”
Tal como acontece na maioria de todas as revoluções, a primeira geração destes rebeldes até produziu obras de mérito genuíno. Monet, Renoir e Degas ainda mantêm, na sua obra, traços de desenho e de execução bem disciplinados. 

Harmonia Rosa, de Monet
Baile em Moulin de Renoir
Prima Ballerina, de Degas
Mas os padrões viriam a decair com a vinda das gerações seguintes, até deixarem de existir padrões. Tudo o que sobrou desta brincadeira foi a Expressão Pessoal.

A ideia de Padrão Universal de Qualidade encontra hoje em dia uma forte resistência, chegando a ser ridicularizada. Os Padrões Universais, que nos trouxeram obras como a Pietá, são hoje confrontados com o Relativismo Estético, de onde saiu, por exemplo, Petra, a escultura alemã galardoada em 2011, de uma mulher-polícia, agachada, a urinar urina sintética. Sem Padrões Estéticos não há maneira de determinar qualidade ou inferioridade numa obra.

Qual a diferença entre um quadro de Jackson Pollock e a mesa de trabalho sobre a qual os meus alunos fazem trabalhos manuais? Se o quadro de Pollock é considerado Arte, deverá uma mesa salpicada de tinta ter o mesmo estatuto? Quem ou o que é que determina a Qualidade neste caso?

Não só diminuiu a qualidade da Arte, como a sua subjetividade perdeu transcendência, dando lugar ao Vulgar. Onde antes tínhamos artistas que alicerçavam os seus trabalhos na substancialidade e integridade de áreas como a História, a Literatura, a Religião, a Mitologia, hoje temos ‘artistas’ que usam a sua 'arte' para fazer afirmações, os chamados statements. “Eu estou aqui”, “Olhem para mim”, “Este sou eu”, “Eu sou especial”. Muitas destas afirmações, não raras vezes vêm acompanhadas do fator choque, sem o qual muitas obras não se sustentariam. 
Que m... aravilha é esta?
Toda a gente adora os Impressionistas de hoje em dia - na Arte e fora dela. Bora lá ser do contra, ser diferente, chocar a malta e ainda ser um Artista por isso, ou pelo menos ser falado. Os grandes Mestres do Passado também fizeram afirmações, claro. Mas nunca à custa da excelência visual e substancial das suas obras. 

A comunidade artística também tem muita culpa disto. A Arte Moderna existe porque é fácil e rápido encher espaço num museu vazio. Os diretores desses museus, proprietários de galerias de Arte e os críticos incitam e financiam a produção de autênticos disparates, sendo os primeiros a dizer que aquilo tem um peso, que é magnífico...  Sem nunca se aperceberem de que estão, de facto, a representar o papel do Rei, no conto “O Rei vai Nu”.

Porque é disso que a Arte Moderna hoje se trata – de uma interminável e ridícula peça de teatro baseada na história d ‘O Rei vai Nu’, onde alguém nos incute de que tudo são peças de Arte e que, se não vemos Arte na tela amarela às pintinhas roxas à nossa frente, que podia ter sido pintada pelo nosso filho de 2 anos, é porque somos burros, artisticamente incultos ou então algo não está bem connosco. Mas as pessoas que nos tentam incutir isso, tal como o Rei do conto, sabem perfeitamente de que não está lá Arte nenhuma. É por isso que um museu Joe Berardo é (lamento a qualquer fã) uma perda de neurónios, e nunca vai estar ao nível de enriquecimento cultural de um Louvre.

Museu Joe Berardo

Galeria Apollo, Museu do Louvre
Se eu colocar os meus óculos em cima de uma bancada, num museu de Arte Moderna, alegando que aquilo é Arte, só tenho pena de quem acreditar em tal absurdo. O mesmo se aplica a uma tela em branco que contém apenas uma bola de cor lá dentro. Ou a uma cadeira de aço retorcido no meio do corredor do museu. 

Na minha modesta opinião, essas “obras” transmitem a mensagem de que eu, como espectadora, não sou merecedora do tempo do artista, de que não valho o esforço dele para ser impressionada. Os verdadeiros artistas colocaram engenho e arte, tempo, suor e dedicação às obras hercúleas e imortais que todos conhecemos. Os Luísadas não foram escritos num só dia, tal como a Capela Sistina não foi pintada num mês, nem a estátua da Pietá foi esculpida num ano. É por isso que merecem a nossa admiração e maravilhamento. Houve um esforço do artista em se superar, e imortalizar-se, ganhando a nossa consideração, querendo o máximo da perfeição.

Muitos dos pseudo-artistas de hoje são um bando de pessoas preguiçosas que não têm o estímulo nem a vontade necessários para fazer algo digno de ser sequer bom. Então chamam Arte ao que quer que criem. E como pseudo-artistas que são, só lhes resta esperar que todo o rebanho neo inteligente, desprovido de qualquer talento ou capacidades para reconhecer Arte, olhe para aquilo, cofiando uma barbicha invisível no queixo, e diga “Arte!”.

Os desenhos animados rápidos, pouco artísticos e de informação inútil ou ridícula vistos pela criançada de hoje em dia
As verdadeiras obras primas da Animação, a que muitas crianças deviam ter acesso
Infelizmente não se trata só da Arte. A cultura dos tempos modernos detesta a objetividade no geral. Adora sim relativizar culturalmente a moralidade, o subjetivismo e a valorização de sentimentos acima de factos. Tudo deve ser aceite e tolerado, excepto standards ou padrões objetificados. O Relativismo Artístico, tal como o relativismo moral, é puro cancro na nossa civilização.

Penso que os artistas de hoje valorizam esta falta de padrões/ standards e qualidade mensurável porque isso permite aos sem talento, e a quem faltam capacidades e dons sentirem-se ao mesmo nível dos melhores ou de um bom artista. É como estar num pedestal invisível e estar “no topo”, como estão os melhores, e sentirem-se ao nível de um Da Vinci. O dinheiro fácil a que vendemos e compramos tudo hoje em dia, dá a estas pessoas a ideia de que: “Uau! Há realmente quem PAGUE por isto – um quadro todo vermelho.”
Sim, isto!...
Não só não se tentam melhorar como criadores, fazem com que literalmente pareça que não houve ali nenhum esforço, ao ponto de querer fazer o espectador pensar que não pode ser assim tão simples, que houve mesmo algum trabalho por detrás daquela “obra”. Que há algum valor que eu não vejo, mas que os outros aparentemente vêem. (Mas também não vêem). E assim se dá valor a qualquer porcaria que se tente criar. Essas criações prescindem de algo novo, único ou bom, de modo tão dolorosamente óbvio que os seus autores tentam compensar esse vazio de valor através do fator choque.

A rapper Nicki Minaj a vender o seu... talento
Miley Cyrus num dia normal em cima do palco
Porque é que na Música de hoje em dia tantos Artistas precisam de chocar? Porque é que tantas artistas femininas, por exemplo, têm de se despir, dançar em poses pornográficas e abanar o rabo nos videoclipes ou atuações ao vivo das suas músicas? Porque é que os temas predominantes na música de hoje são o ter dinheiro, ser-se rico, famoso, ou sexy? Qual é a substancialidade dessas mensagens agressivas, disfarçadas de empoderamento? O que é que estes ‘artistas’ têm tanto a provar de modo tão aguerrido, ao seu público, que não seja o seu talento para a música? Provavelmente não o têm... por isso precisam de chocar.
Celine Dion, a bem comportada artista feminina que mais discos vendeu na História, que gravou a música do Titanic num só take e a quem muito poucos dedicam o seu tempo cultural
Porque é que temos de ser todos vítimas deste mau gosto? Não o sendo. Formando a nossa opinião, senti-la e dá-la a conhecer quando adquirimos uma obra. Afinal de contas as galerias de arte ou a indústria da música são um negócio como qualquer outro – se o produto não vende, será descontinuado. Há que celebrar o que sabemos ser bom e ignorar aquilo que não o é.



Orgulhosamente porque tentei colocar o melhor de mim nesta publicação. Tive respeito pelo público ainda pequenino que sei que me acompanha. E demorei a fazê-lo, porque quis que fosse bom. E as coisas boas levam tempo. A Arte boa leva tempo. Não querendo com isto dizer que este artigo seja uma forma de Arte, de todo. Mas é uma forma de mostrar a minha faceta exigente, aplicada e perfecionista. Qualidades típicas de qualquer artista. E só por ter feito esta rima, ein? Já serei uma? Obrigada por lerem até ao fim <3