segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Disney, a representatividade e as verdadeiras Lutas


Os desenhos animados fazem parte da minha identidade. Ao contrário de muitas pessoas que, ao crescerem, perdem a ligação que tinham com eles, (e onde muitas vezes se incluem os ignorantes diplomados que chamam “infantis” aos que não a perdem) isso não aconteceu comigo. Desde muito cedo soube que a minha vida teria que estar ligada a desenhos animados. A desenhos. Pelo menos.
Estando ou não interligado com o meu talento para o Desenho, sempre gostei, e gosto muito, de acompanhar tudo aquilo que a Disney faz, e continuo a ir ao cinema espreitar alguns dos filmes que vão saindo, a maioria deles, hoje em dia, live actions.

Quando fui ver o remake da Cinderella em 2015 e saí da sala de cinema a chorar com o meu namorado, achei que tinha sido a adaptação mais bonita e bem feita que tinha visto, de uma história que sempre me foi  muito querida, e fiquei entusiasmada com a perspetiva de futuros semelhantes da Disney. 

Nunca esperei tanto de um filme com uma história tão simples.

O segundo live action da Disney que me propus a ir ver, com alguma reticência, foi A Bela e o Monstro. O original foi um dos filmes mais bonitos, que sempre gostei de ver em criança, e o primeiro da Disney que, na altura, considerei mais sério, com emoções bem profundas e valores importantes. Sempre me identifiquei com a Bela, sem dúvida o meu alter-ego Disney, e estava um bocadinho apreensiva com a escolha da Emma Watson como protagonista, pois ela não tem nadinha de atriz: Zero técnica, zero entusiasmo, zero experiência, zero personagem. Vê-se a Emma. Ou a Hermione, como muitos acham. Uma, e outra e outra vez. O que voltou a acontecer no remake da Bela e o Monstro, mas digamos que eu já sabia mais ou menos para o que é que ia.

Não me lembrei de que a Emma também ia (ia!) cantar. Acho que não sabia mesmo para o que ia. Nem ela nem eu!

Basicamente, a Emma Watson acabou com a delicadeza da Bela original, de um modo que nunca conseguiria prever: Acabou com a feminidade, com a graciosidade, com a subtileza, com o romantismo da Bela. Vemos uma Bela que recusa os avanços do Gaston de modo dolorosamente áspero e repulsivo, uma Bela que afirma, quase com uma aversão convicta “não sou uma princesa”, numa linha completamente desnecessária, só porque lhe é oferecido um vestido digno de uma, (e não porque alguém afirma que ela o é, ou lhe pergunta sequer se ela o é), uma Bela que desce as escadas de braço dado com o Monstro, naquele que é O momento romântico do filme, e onde o olhar embevecido e apaixonado da Bela original é substituído por um semblante frio e uma expressão completamente altiva e dura como pedra, que olha em frente, sem o menor sorriso, da Emma Watson. Acho que até a mulher do Kim Jong Ung se mostraria mais feliz a descer uma escadas ao lado do marido.

Proof.

O personagem LeFou foi transformado num
gay, o que - nada contra quem é gay - me desagradou. O ingénuo personagem de 1991 nunca foi gay e na minha opinião, deveria ter-se mantido fiel ao original, em que o personagem não tem qualquer interesse romântico no filme. Uma característica que lhe foi mudada, para satisfazer um público-alvo.

A Bela e o Monstro de 2017 foi um filme que gritava woke, no seu sentido mais nefasto. Desde a triste escolha da Emma Watson, que estragou a personagem da Bela, - e os meus ouvidos - certificando-se de que contagiava o filme com o seu cunho doentio de feminismo desnecessário pela Direção acima, (corpetes não, porque são uma opressão à mulher – que se lixe que tenham sido a roupa interior e a moda no século XVIII) até à cringe transformação gay do Lefou.

Achei desnecessárias estas transformações, principalmente se estamos a adaptar de um original, muito acarinhado. Ainda me arrisquei a ver o filme do Aladdin, que (Uf!) me agradou bastante e não fez transformações ridículas nem descontextualizadas. E era sobre esta transformação que vejo por parte da Disney, que gostava de falar.

O empoderamento da Jasmine, nesta adaptação, só fez sentido, visto que a Jasmine sempre foi vítima de opressão devido à sua posição social e ao país em que vivia, mesmo no original de 1992. A mensagem de empoderamento aqui foi brilhante e necessária, especialmente porque espelha a falta de liberdade REAL e ATUAL de muitas mulheres do mundo árabe, que podem ver na Jasmine, uma força e um exemplo!

Numa só semana, nunca pensei desiludir-me tanto com a Disney como nos últimos sete dias: Descubro que o elenco vocal para o remake do Rei Leão conta apenas com a voz original do Mufasa, e no caso de Portugal, nenhumas das antigas!; descubro que vão fazer um novo live action, de A Pequena Sereia, e que a Ariel vai passar a ser NEGRA; no dia seguinte fico a saber de OUTRO live action, desta vez da Mulan, e não sei se hei-de rir ou chorar, com medo.

É com muita desolação minha que assisto à transformação de uma Disney preguiçosa, sedenta de dinheiro e completamente ao serviço das agendas e politiquismos da malta Woke, a quem lambe botas à descarada e à conta de quem acaba por fazer pésssimos trabalhos. Uma Disney que não descansa enquanto não fizer sequelas até ao Toy Story 10 e enquanto não refizer, em live action, todos os seus clássicos, chegando ao cúmulo de tocar no suprmassumo que é o filme do Rei Leão. – E que me recuso a ir ver ao cinema.

Há pessoas que adoram os live actions ou remakes da Disney. Que os defendem, dizendo que não são feitos para serem associados aos originais, algo, para mim, impossível. Eu comecei por gostar, com o filme da Cinderella, mas rapidamente lhes comecei a ganhar ódio. Especialmente porque, tendo tanto espaço para mudar a história, baseando essa mudança de um modo artisticamente evolutivo, para chegar a outras gerações, sem tirar o espírito à obra original, a Disney faz tudo isto assentando essencialmente em mudanças que, sendo acessórias para recontar a história, são consideradas atrativas a toda uma comunidade de Justiceiros Sociais continuamente insatisfeitos. E na difícil ou quase impossível demanda por tentar agradar a este público eternamente revoltado e instatisfeito, usam os live-actions para estragar a essência, a pureza e o carinho dos originais, que fizeram parte do imaginário e da infância de décadas de gerações, chegando ao ponto de insultar os criadores das histórias originais e as suas culturas, permitindo mudanças absurdas e apropriações culturais.
Halle Bailey e a Ariel da Disney: Tudo a ver

A polémica da Ariel negra:

Predomina nos dias de hoje uma tendência de reformulação de certos protagonistas que mostra claramente a existência de uma agenda de diversidade a ser seguida. Temos o exemplo da personagem da Mary Jane, interesse romântico do Homem-Aranha, e que sempre foi uma ruiva natural. Mas nos filmes mais recentes, como é o caso de Spider Man: Home Coming, ela é interpretada por uma atriz negra. Esta é uma representação que, obviamente, não é fiel à versão original. Em literalmente nada.

Kirsten Dunst e Zendaya Williams, a Mary Jane negra

A MJ original. Como qualquer outro artista, eu passava-me se tivesse o trabalho e o engenho de criar esta personagem, para décadas depois uma agenda política ma vir roubar e transformar à sua maneira.

O Homem-Aranha é, e sempre foi o meu super herói favorito. Não da Marvel, não de outra entidade qualquer. É, ainda hoje, o meu super herói favorito. Não gostava de mais nenhum com o mesmo fervor e dificilmente gostarei tanto de um outro.

A trilogia do Homem Aranha adaptada ao cinema pelo Sam Raimi (2002-2007), foi para mim a melhor adaptação da franquia. O Tobey McGuire vai ser sempre, na minha opinião, o melhor Homem Aranha do cinema. Até hoje não consigo entender para que fizeram e refizeram novamente a história, e com atores diferentes. (Há de haver todo um movimento secreto sublinear por detrás dessa decisão.) 

Anyway, na trilogia do Sam Raimi, a Kirsten Dunst, que não é uma ruiva natural, conseguiu uma representação bastante adequada da Mary Jane original. Porque, quer nos livros de banda desenhada originais, quer nos desenhos animados dos anos 90, a MJ era uma ruiva natural.
Agora surge um novo live action, da Disney, do filme A Pequena Sereia, em que uma atriz negra, a Halle Bailey, foi escolhida para representar a personagem da Ariel, cuja imagem a Disney se encarregou de marcar nas nossas memórias como sendo uma ruiva.

Se alguém quiser aprender algo novo hoje: Os ruivos natrurais representam apenas 2% da população mundial. São literalmente uma espécie em vias de extinção, que sobreviveram a perseguições de todo o tipo no passado e que não têm praticamente representação nenhuma em papéis de destaque, em filmes ou em séries. Quando surgem no grande ecrã, costumam ser sempre sob a forma de side kicks ou comic reliefs, de quem todos se riem. Esta apropriação da Ariel, por parte da Disney, para ser transformada numa negra, não constituirá uma ofensa para quem é ruivo e raramente se sente representado?

A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, muitas vezes também representada como loira - mas SEMPRE de pele clara.

Num conto tradicionalmente europeu, que fez o imaginário de séculos de gerações, num continente onde a descoberta dos mares e a presença das sereias estão patentes em mil lendas do velho continente, eu pergunto: Porquê uma Ariel negra? Não vejo outro motivo que não o da inclusão racial. Porque, bem, "é um filme de ficção, podemos fazer o que quisermos, a Ariel pode ser de qualquer cor, ainda por cima é uma sereia, não é uma pessoa real".

Mas reparem que só dizem isto quando a personagem está a ser alterada de branca para negra. Porém, se um personagem fictício, tradicionalmente negro, for transformado numa personagem branca, então é considerado racismo contra os negros e uma completa obscenidade!

Portanto, não faz mal a Disney pegar numa personagem do folklore europeu e torná-la negra. Mas, e o alvoroço que se levantaria caso se pegasse na Tiana de A Princesa e o Sapo e a substituíssem num live action por uma atriz branca? Seria feita toda uma revolução só por causa disso e os negros seriam logo considerados vítimas de racismo. Mas se os negros (neste caso, a Disney) aculturarem ou se apropriarem de uma personagem branca, ainda que fictícia, para a tornar negra, já não há problema. E os brancos têm é que aceitar, porque, de outro modo, são racistas. Not the other way around, right?...


Sex symbol - Idris Elba

Miss Universo - Leila Lopes

O artista que mais quebrou barreiras raciais e abriu as portas da MTV à promoção dos artistas negrosque lhe sucederam, um dos maiores filantropos de sempre. O cantor com o álbum mais vendido da História, entre mil e outros feitos recordistas - Michael Jackson

Uma lenda do cinema - Morgan Freeman

Uma das mulheres mais poderosas do Mundo - Oprah Winfrey

O primeiro presidente negro da História dos EUA - Barack Obama

Eu pergunto: Onde é que os negros têm falta de representação, nos nossos dias? Há alguma falta de carinho ou de irmandade para com estas pessoas que seja aplaudida? Falta de oportunidade de serem aquilo que quiserem? De se educarem? De estudarem? De trabalharem? De serem pessoas magníficas e inspiradoras? Nos dias de hoje e na nossa sociedade?

T'Challa de Black Panther

Se o T’Challa do Black Panther, fosse reformulado com um ator branco, a malta Woke entrava em paranoia, sentir-se-ia compreensivelmente ofendida com tal coisa. Era feita uma mobilização social na hora, se fosse preciso, caso tal atrocidade fosse cometida. E é essa a hipocrisia que não suporto.

Em vez de desenvolverem novos personagens negros, - incluindo sereias - e novas histórias onde os inserir, pega-se em personagens brancos já existentes e muda-se-lhes a raça?
Teremos de aceitar tudo então? Que o Ratatouille um dia seja representado por um cão em vez de um rato; que o Tarzan seja interpretado por um ator japonês, que a Pocahontas passe a ser alemã. Tudo porque, mil e uma desculpas para problemas de primeiro mundo, inventados na hora e da maior urgência: os cães são os animais mais adorados do universo e ainda não têm representação que chegue (*inserir sarcasmo*), os japoneses não têm tempo de antena suficiente em ambientes de selva, e os alemães porque precisam de consolação, já que toda a gente os discrimina e culpa desde o Holocausto...

Está a ficar tudo doido? Onde é que se traça uma linha??

Será que cada filme de Hollywood, daqui em diante, tem de ser forçado a incluir uma pessoa gay, uma pessoa judia, uma pessoa negra, uma pessoa hispânica, basicamente, pessoas de todos os países, raças, religião, cor, tamanho? Tem de obrigatoriamente dar papéis de glória e empoderamento à Mulher, numa indireta chapada aos homens, que no mesmo filme, são agora sempre retratados como completos idiotas e incapazes?! Tudo em nome de uma inclusão (mais que estabelecida), e negligenciando completamente o contexto, a associação cultural, a identificação visual pré-concebida, a lógica e por vezes até a própria História?

Este filme é a apoteose de todos os disparates que menciono em cima. Vejam por vossa conta e risco, certificando-se de que conhecem a História factual destas rainhas, de antemão.

Entenda-se: A Bela do Monstro sempre se sentiu diferente na vila, porque lia livros e passava os dias na lua, a sonhar com aventuras, e era considerada estranha pelos seus conterrâneos devido a isso. Não porque vivia oprimida numa aldeia que a proibia de ler ou que a castigaria por usar um invento caseiro para lavar a roupa enquanto ensinava uma criança a ler! A Bela do Monstro não era uma vítima de nada, muito menos de qualquer opressão e MUITO MENOS por ser mulher! Dá-me sincera vontade de rir! Vão os doutores dos tempos modernos afirmar que ela talvez sofresse de bullying, só porque não era compreendida pela maioria? Não sei como ainda ninguém veio com essa...

A Bela do Monstro não estava interessada em casar com ninguém, mas também não fazia caretas óbvias e mal-disfarçadas de depreciação agressiva nas costas do Gaston, por muito insistente que ele fosse – pelo contrário; Apesar do quão eram chatas as investidas românticas dele, a Bela tentava sempre o seu melhor por esconder ao máximo o seu aborrecimento, sendo sempre educada e gentil com ele, quase com medo de ferir os seus sentimentos. Mas pronto, tiraram essa gentileza à heroína, porque o feminismo é ser-se bruta e malcriada com os homens e ser-se gentil e "princesa" é considerado fraco. E andar de culottes à mostra. A Bela é uma rapariga moderna demais para a sua aldeia, mas nunca andaria de culottes à mostra – na época o equivalente àquilo que seria mostrar as cuecas há uns 20 anos atrás. (Porque desde aí, evoluímos e mostrar as cuecas já é mais que normal, eu é que sou uma velha antiquada...) 

A Bela, se usou corpete no original, só fez sentido que o usasse, pois a história passa-se no século XVIII, onde usar corpete era o comum na moda feminina. Não era visto como um objeto de opressão, como defendeu a Emma Watson, nas suas exigências em não usar um, durante as filmagens - pergunto-me o que conseguiu ela com essa birra. A Bela não se recusaria a usar um vestido digno de princesa lá porque não era uma princesa. Uma coisa simplesmente não impede a outra. E desde quando é que ser uma princesa passou a ser um insulto ou algo mau?...

Não sou anti-gay, anti-feminista, nem muito menos racista. Acho simplesmente que vivemos numa sociedade onde não faltam representações positivas dos gays, das mulheres, dos negros, em filmes, séries, novelas, mangás, animes, o que vem provar a cada vez maior aceitação e inclusão positiva destas (e de todas) as pessoas. Acho que o feminismo pelo qual tanto lutam as queixosas mais extremas dos nossos dias, não se aplica a países de primeiro mundo como o nosso, ou qualquer outro país ocidental. Temos variados privilégios e mulheres de força e coragem, espalhadas pela sociedade, variadíssimas representações do valor da mulher em filmes, desenhos animados, programas de televisão, ao longo de todos estes tempos. Estas minhas convicções necessitariam de todo um post dedicado só a elas.

Angel Coulby como Guinevere na série Merlin, da BBC

A Guinevere das lendas do Rei Artur

Voltando à eliminação dos ruivos, do ecrã: não aconteceu só com a Ariel nem com a Mary Jane. Na série da BBC, Merlin (que vi há bastante pouco tempo e que adorei) a personagem da Guinevere era também representada por uma atriz negra. Estamos a falar de uma personagem da antiga mitologia britânica, das lendas arturianas, que sempre foi retratada em todo o folklore, como uma ruiva. Ou pelo menos, uma donzela de tez clara. BASTANTE clara, já que o seu nome significa literalmente “fair white” ou ‘branco delicado’, no antigo galês.

A personagem da Ariel foi criada para ser de uma certa maneira, e agora está a ser mudada por causa do politicamente correto e da wokeness de Hollywood. Quem quiser pode argumentar que nada disto importa, que é só uma personagem fictícia. Mas claramente Hollywood, a Esquerda e os Justiceiros Sociais importam-se. Pelo menos, o suficiente para fazerem estas mudanças atrozes, sem se preocuparem com o menor sentido de cultura ou de bom senso.

Vivemos numa sociedade livre, aberta, cada vez mais a evoluir no sentido de aceitação de todos os direitos de todos os seres humanos – homens e mulheres; que condena o não cumprimento desses direitos; que tem o luxo de poder fazer praticamente aquilo que quiser, desde que com isso não interfira com a liberdade do seu próximo. Somos a sociedade com mais dinheiro, mais acesso a bens supérfulos, com mais saúde, com mais direitos a tudo e mais alguma coisa. Os mais solidários para com quem tem, de facto, problemas. Incluindo para com os animais.

E mesmo assim, não chega.

Temos de inventar continuamente problemas, categorias onde nos inserirmos para sermos identificados pela luta desses mesmos problemas, vitimizações e marginalizações imaginárias e rótulos que só nos dividem em vez de unir. 

Mas trazê-las até para a Disney?!


Somos uma sociedade que luta pela igualdade e pela liberdade, e que se orgulha de apoiar a diversidade, mas onde se é simultaneamente marginalizado por expressar uma opinião. Onde as pessoas só querem ter razão, e não terem os seus argumentos apurados. Onde ouvir a verdade dói - porque o politicamente correto chegou a um nível histórico de absurdo - e onde é preferível viver rodeado de borboletas e unicórnios, em nome de uma inclusão onde tudo e todos são permitidos, sob qualquer contexto ou circunstância, não olhando ao disparate.

821 milhões sem qualquer representação ou inclusão. Nem nas nossas mentes. Estes são negros, mas há-os de todas as cores, espalhados pelo mundo.

As pessoas (TODAS AS PESSOAS) têm o mesmo direito aos seus direitos humanos e TODOS devem ser respeitados. Não porque são negras, não porque são brancas, não porque são mulheres, não porque são homens, não porque são gay, não porque são hetero, ateias pu crentes. Porque são, acima de tudo, pessoas.

No meio de tanta revolta por falta de privilégios fúteis, que já estão mais do que diante do nosso nariz, e ao alcance de qualquer cidadão que cumpra com os seus deveres e que tenha aptidão para chegar onde se propõe, numa sociedade livre e democrática, - com todas as suas imperfeições -  gostava de saber onde anda a revolta por outros assuntos com importância maior. Onde está a preocupação com a Fome? Com o direito à família e à educação das crianças, pelo mundo? Onde está a preocupação em denunciar os casos de corrupção, que é tanta no mundo - e no nosso país? Onde está a representação e a preocupação com essas realidades? Realidades urgentes de serem abordadas? 

O filme com a Ariel negra vai ser a solução dos grandes problemas deste mundo? Então, porque se mobilizam tantas pessoas em "lutas" como a representatividade no cinema, problema resolvido com a criação de novas histórias e não na alteração das já existentes? Porque é que sinto que vivo numa sociedade de adultos extremamente mimados, ao mesmo tempo desorientados e com pouco de produtivo com que ocupar as suas cabeças e o seu dia-a-dia? E que se entregam a demandas que, por muito que espelhem algumas imperfeições humanas, fazem questão de tornar em movimentos acérrimos, vividos com uma paixão com que não os vejo defender assuntos de primeira ordem?

Nao duvido da imperfeição do mundo, apesar da evolução positiva que tem vindo a ter no que toca a assuntos como o racismo, a aceitação e inclusão de minorias, a igualdade de direitos. Acho que mudar o mundo para um paraíso cor de rosa onde tudo e todos se dão bem, é uma utopia. E vão sim, existir sempre problemas, e sim, vão sempre haver pessoas ofendidas onde outras não vêem ofensa, pessoas a sofrer onde outras não o estão. De vários modos.
Mas não cabe à Disney o dever de incluir ou representar todas as pessoas e todos os mini problemas -  especialmente, se com isso arruinar gerações de infâncias. E sim, queria ver uma ruiva no papel de Ariel. Condenem-me por dizer isto! Se serve para vos acalmar e vos fazer baixar as pedras, é lógico que também gostava de ver uma negra num futuro papel de Tiana, um dia.



P.S.: 821 milhões de pessoas no mundo, estão a passar fome – 300 mil, em Portugal.
P.P.S: A Gronelândia está a derreter – desapareceu NUM SÓ DIA, 40% da sua àrea superficial.



Se é para lutarmos lutas, que seja por lutas que importam!