domingo, 28 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia - parte 3: A parte estética

Tinha de tratar a parte funcional do meu nariz o quanto antes, sendo a minha principal preocupação as noites mal dormidas. O problema de obstrução não ajudava em nada os meus padrões de sono, que sempre foram inconstantes - apenas os pioravam. E, a caminho dos trinta, não podia permitir que a situação se arrastasse mais. Porque o sono, das duas uma: ou se mantém saudável toda a vida (e se for o vosso caso, considerem-se sortudos), ou tem tendência a deteriorar-se com a idade, e a trazer outras complicações a nível de saúde e da qualidade de vida. E eu sabia que tinha de fazer tudo o que pudesse para melhorar o meu sono, na medida do possível, e conseguir uma respiração normal e saudável, o quanto antes. Sabia que tinha um desvio de septo que, por muito ligeiro me dissessem que fosse, era visível em exames; estava ali, à vista de qualquer profissional de saúde minimamente competente. E eu não iria desistir até perceber até que ponto este desvio, aparentemente insignificante e nem sequer visível do exterior, era ou não o responsável por todo o meu desconforto de há anos.

A parte estética entra aqui de um modo pouco previsível; Sempre tive um nariz grandinho, algo masculino, mas não necessariamente feio. Nunca foi um entrave à minha auto-estima, nunca me considerei uma mulher feia, ou pouco confiante, muito menos devido ao meu nariz. No geral, tive sempre uma relação saudável e, até mesmo, não demasiado comprometida, com a minha imagem, sobretudo com o passar dos anos. (Cheguei a ser um pouco mais centrada na minha aparência na altura da faculdade, contudo); sempre considerei o meu aspecto bastante agradável. O meu rosto é comprido e esculpido, as minhas sobrancelhas são naturalmente angulares e muito marcadas, tenho o olhar forte e o meu sorriso é aberto e livre. Ter um nariz grande sempre se enquadrou com o todo das minhas restantes feições, que me deram sempre um ar “pérsico”. (O meu pai parece um árabe por completo; o que tenho de feminino nos meus traços – ainda que pouco – devo-o aos genes, mais delicados, da minha mãe.)

Contudo, o meu nariz cresceu e começou a tornar-se ainda mais saliente e projectado, por volta dos meus 23 anos, o que não passou a incomodar-me necessariamente - apenas me fez passar a contemplar uma possível futura intervenção estética como um daqueles planos que se fazem “um dia, na possibilidade”. Ou seja, não fiz dessa ideia um objetivo de vida nem passei a perder noites de sono, preocupada com o aspeto do meu nariz, ou a sentir-me mais feia (o que nunca aconteceu); mas confesso que dei por mim a começar a desgostar de certas fotos de perfil, e a ideia de uma rinoplastia passou a ser ocasional no meu pensamento. Não do tipo ideia fixa ou obssessiva, nem do género “eu sou feia se mantiver este nariz/ não consigo viver com ele”, mas antes, daquelas ideias descontraídas, como “se um dia se proporcionar uma oportunidade, e em que eu tenha condições para isso, era algo que eu seria capaz de fazer. Se nunca puder fazê-lo, está tudo bem na mesma.”

O meu perfil pré-cirurgia

Em 2019, no decorrer dos meus últimos exames, e após ter trocado relatos de experiências com situações médicas inerentes ao nariz com uma prima minha, que tinha feito, dois anos antes, uma rinoplastia com sucesso (a dela, meramente estética), ficou a curiosidade de ser atendida pelo seu médico, o doutor José Carlos Martins Neves, que, para além de ser um reputado profissional na área da Cirurgia Facial, a nível nacional e internacional, tinha como formação de base a Otorrinolaringologia, (que era, obviamente, um requisito fulcral na minha escolha pessoal de um novo médico). Depois de ouvir apenas coisas boas sobre o seu trabalho, fiquei curiosa quanto a uma possível consulta com ele, onde pudesse ouvir o seu parecer acerca de toda a minha odisseia nasal. Aproveitei o facto de querer corrijir a parte interior do meu nariz para também ponderar a correção da sua parte estética e pedir-lhe opinião quanto a isso. Afinal de contas, quantas vezes na vida uma pessoa simples como eu voltaria a cruzar-se com um cirurgião plástico? Sabia que, mesmo que optasse por não operar esteticamente, não iria deixar passar a oportunidade de ouvir o parecer de um, sobre o meu caso.

Em Setembro desse ano, comecei as minhas tentativas de obter uma consulta com ele, no Hospital dos Lusíadas, onde ele atendia. Não foi fácil consegui-la, pois a agenda dele estava (e costuma estar) sempre muito preenchida. Só passados dois meses, e depois de imensos telefonemas semanais para o hospital, consegui obter vaga para a minha primeira consulta, que ficou marcada para dali a quatro meses, em Março de 2020 - a data disponível mais próxima. Achei que ia demorar uma eternidade. Mas o que são quatro meses, na verdade, para quem já estava em modo de espera há mais de uma década?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia – parte 2: Os problemas respiratórios

Nunca na vida tive problemas respiratórios: não sei o que são alergias, asma ou sinusite. Não imagino o desconforto das pessoas que, todos os anos, sofrem com pólenes, com as mudanças de estações, e que não se podem aproximar sequer de animais, devido ao pêlo destes. Mas quando fiz 17 anos, a minha aparente imunidade a problemas de respiração desapareceu.

Andava na escola secundária quando tive um episódio de constipação, muito grande, que me provocou uma sensação de obstrução permanente. Depois de dois anos de várias tentativas falhadas em aliviar a minha respiração, incluíndo medicação, inúmeros exames e até testes de alergias (sempre negativos), fui a uma consulta de otorrinolaringologia no Hospital Pulido Valente, em 2010, onde após novos exames, me foi dito que teria de remover os adenóides. Não pude deixar de estranhar que, com 19 anos, ainda houvesse a hipótese de eu ter adenóides a retirar, visto ser sabido que apenas costumam causar problemas em idades mais precoces, nomeadamente em bebés e crianças. No entanto, a otorrinolaringologista que me atendeu assegurou-me de que eram sim adenóides, e que apesar de se manifestarem maioritariamente em crianças, não era raro acontecer também em adultos. Foi-me explicado que era “carne que eu tinha a mais”, responsável pela obstrução que sentia.

A médica do Pulido Valente disse-me que seria apenas uma cirurgia de ambulatório, que não teria sequer de fazer penso e que, no prórpio dia, iria para casa. Foi-me feita então uma turbinoplastia, da qual acordei muito mal, com um tamponamento monumental. Foi-me dito que tinha ocorrido um erro e que tinham cortado carne que não era suposto – das primeiras coisas que ouvi uma enfermeira dizer-me assim que acordei - e que eu teria de ir para casa com todo aquele tamponamento durante uma semana, sem poder comer sólidos, nem mexer-me grande coisa. Passei pessimamente, cheia de mal estar, sem dormir nem comer quase nada, durante oito dias seguidos. Só podia respirar pela boca, o que me causava imensas dores de garganta, que ficava sequíssima e arranhada, sobretudo durante a noite. Tive um ataque de pânico num dos dias, em que queria desesperadamente arrancar tudo aquilo do nariz, poder respirar livremente e acabar com toda aquela aflição. Desmaiei de fraqueza na manhã do dia da consulta para a remoção do tamponamento, na semana seguinte.

A remoção foi das experiências médicas mais cruéis a que até hoje me submeteram – sendo que até me considero uma pessoa bastante resistente à dor e sem medo de procedimentos médicos. Aquilo que, ao espelho, me pareciam duas simples bolinhas brancas visíveis à entrada das narinas, eram na verdade duas compridíssimas “minhocas” de algodão retorcido e enfiado pelo meu nariz adentro, até à testa. O meu pai, que era meu acompanhante no consultório naquele dia, foi inclusive mandado sair, para não ficar impressionado com o que se iria passar a seguir: Com umas pinças, a médica retirou-me ambos os algodões, naquilo que foi das experiências mais dolorosas e desconfortáveis que já vivi nesta vida. A única coisa que aquilo me fazia lembrar era a remoção do cérebro, feita pelos egípcios, aos mortos, com um gancho, antes de os mumificarem. - A sensação foi tal, que não encontro, ainda hoje, melhor comparação. No final da remoção, as minhas narinas foram ainda “aspiradas” com uns tubos, para remover crostas e restos de sangue. Fiquei, no mínimo enjoada. Saí do hospital com um narigão ultra inchado, mas com a promessa de que dali em diante respiraria melhor.

Porém, passados apenas uns meses, voltei à situação inicial de obstrução, que continuava a incidir sempre mais na narina direita. Depois de vários medicamentos que tentei e que me foram receitados por vários médicos ao longo dos anos, para combater e resolver a situação (Avamys, Sinutab, Aerius, Lergonix, Nasex, Ilvico, inúmeros antigripais, medicamentos naturais, águas do mar, anti-histamínicos e injecções anti-inflamatórias, entre outros) continuei sempre a sofrer com a situação, prejudicando sobretudo o meu sono e, no geral, perdendo qualidade de vida. 

Em 2017, após nova tentativa de exames, novo panorama: foi-me dito, por outra médica otorrinolaringologista, desta vez no hospital de Vila Franca de Xira, que tinha um ligeiro desvio do septo, que afetcava a narina direita, mas, na opinião dela, não grave o suficiente para justificar uma cirurgia de correção. Após TAC aos seios perinasais, diagnosticou-me Rinite Crónica e receitou-me medicamentos, alguns já referidos acima, que continuaram a não melhorar a minha situação. Em 2019, após nova TAC, foi-me novamente diagnosticado um ligeiro desvio do septo, mas já não foi feita menção à situação de Rinite, apesar da permanência da situação aflitiva dos sintomas de obstrução nasal. Sentia o nariz extremamente entupido, especialmente a narina direita, que, de noite, mas, ocasionalmente, também de dia, chegava a ficar completamente congestionada. A obstrução, por vezes, passava de uma narina para a outra, mas sempre com maior incidência na direita.

Esta obstrução piorava consideravelmente sempre que me constipava, quando chorava ou sempre que me deitava, fosse para dormir à noite, fosse para estar simplesmente deitada sem dormir, o que me fazia ficar extremamente ofegante e aflita, ao ponto de ter de recorrer a sprays de alívio nasal, constantemente. (Entre eles, o Nasorhinathiol, no qual fiquei viciada durante anos, e com o qual se deve ter cuidado, pois a sua administração não deve ultrapassar os 3 dias). Estes episódios aconteciam muitas vezes durante a noite, e acordava frequentemente nesta aflição, com falta de ar. Dizer que as minhas noites eram mal dormidas é um eufemismo. Com o nariz completamente tapado, não conseguia dormir nem descansar o necessário. A minha qualidade de sono, já fraca por outros antecedentes, foi piorando ao longo dos anos.

Se apanhasse gripe ou uma constipação, estas prolongavam-se por semanas e semanas a fio, normalmente entre três a quatro. Lembro-me que uma caixa de Antigrippine ou um tubo de Griponal inteiros não eram suficientes para ficar curada, tendo sempre de comprar mais do que uma caixa. Essas semanas eram muito penosas porque durante esse tempo, a funcionalidade do meu nariz tornava-se praticamente inexistente. Se houve vezes em que nem sequer me conseguia assoar, - porque, no dia a dia, não se tratava de descarga mucosa (ranho) - noutras vezes, pelo contrário, tinha imensa, persistindo sempre, apesar de tudo, a obstrução das narinas.

Este problema chegou ao ponto de interferir também com a minha vida laboral; Em Dobragem, o mau funcionamento da minha respiração interferia com as gravações, onde, pelo meio dos meus diálogos, ficavam constantemente registados barulhos do ar a passar pelo nariz – sob a forma de pequenos roncos, que, não sendo audíveis numa conversa banal no dia-a-dia, eram apanhados pelos equipamentos de captação de som, nos estúdios. Para mim, que tinha acabado de iniciar o meu percuso profissional na área, era um entrave enorme, pois aquilo que podiam ser gravações rápidas, levavam o dobro ou o triplo do tempo a gravar, não só pelo meu normal e compreensível ritmo mais lento de trabalho, próprio de quem tinha acabado de se estrear na área, mas também devido aos vários takes que eram necessários repetir, por causa dos barulhinhos provocados pelo meu problema.

Exausta e pelos cabelos com tudo isto, cansada de anos a ser mal atendida nos hospitais públicos, fartinha de ver o meu problema negligenciado por médicos atrás de médicos, que desfaziam da situação sem o solucionarem, preocupada com o meu sono cada vez mais pobre e com a minha qualidade de vida no geral, foi numa conversa com uma prima que tinha feito uma rinoplastia há pouco tempo, que comecei a ponderar outra solução: pedir a opinião ao médico dela; um profissional de renome, reconhecido a nível nacional, europeu e mundial, a quem confiar o meu caso.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia - parte 1: Introdução

Cada vez utilizo menos este pequenino espaço para escrever seja o que for. Não que não escreva de todo, gosto de escrever em dários, por exemplo – o que tenho feito durante esta pandemia.  Voltar a escrever num diário – já não escrevia um há 10 anos - foi um dos vários objectivos a que me propus fazer, durante aquela fase inicial, e meio desconhecida, do primeiro confinamento. No entanto, o que vou registar aqui hoje, neste bloguito, é algo que queria mesmo deixar registado online. Pimeiro, porque faz parte de outro grande objectivo - talvez o maior a que me propus fazer durante a pandemia; e segundo, porque creio que será um post útil a pessoas que, como eu, desejam lançar-se neste empreendimento, de preferência com um testemunho fidedigno e minimamente esclarecedor. 

Vou submeter-me a uma cirurgia plástica, com a qual vou resolver dois problemas. Um problema estético, e – o mais importante - um problema de saúde (cujo extenso quadro clínico, abordado de modo vergonhoso, ao longo de mais de 12 anos, por profissionais de saúde altamente questionáveis, dava para escrever uma odisseia digna de competir com a de Homero).

A cirurgia a que me vou submeter é uma rinoplastia, que inclui também septoplastia, e ainda um procedimento facial que prevê a resolução de uma ligeira assimetria do meu perfil, ao nível do queixo. Pela altura que publicar este post, já estarei a dias do dia da operação. Resolvi não me pronunciar sobre a questão demasiado cedo. Primeiro, e sobretudo, porque só durante o último ano se tornou um plano exequível, com uma estratégia de poupança maior do que a que já fazia, e com um calendário favorável à sua realização. Segundo, porque o próprio cenário padémico não permitia fazer grandes previões a longo prazo, e não me quis precipitar, anunciando um empreendimento destes que, por motivos de força maior, poderia ser alterado ou mesmo cancelado indeterminadamente, a qualquer momento. Outra das razões pelas quais quis documentar isto aqui, deve-se à séria dificuldade que tive em encontrar relatos de rinoplastias/septoplastias, em Portugal, divulgados na Internet, e com informações claras e testemunhos honestos. Existe, na minha opinião, uma espécie de “cultura do silêncio”, quanto às cirurgias estéticas, em Portugal  - assunto que também gostaria de mencionar, talvez noutro post.

 Apesar de ser uma pessoa muito privada e que preza o sossego social – não sou demasiado ativa online nem gosto de expôr demasiado daquilo que faço, dentro ou fora das redes – achei que um post destes seria pertinente. Primeiro porque é um modo de ter o registo desta experiência para mim, e poder regressar a ele quando quiser; depois, porque há uma evidente falta de exposição quanto a este tema em Portugal, que dificulta a procura de informação quanto a clínicas, médicos, procedimentos, recuperação, seguros, valores, entre outros. 

Estou ainda a tentar perceber de que modo escrever a minha experiência, de modo a que não seja um projeto que se arraste. Tenho muita tendência a deixar a meio tarefas criativas a que me proponho fazer, quer porque perco o interesse, quer devido à azáfama das minhas tarefas diárias. Tenho vários interesses e gosto de estar sempre a fazer coisas, o que me faz afastar um pouco das redes e do online. Mas vou comprometer-me com esta partilha, e fazer o meu melhor por relatá-la nesta plataforma online, de um modo que me seja fácil e descomplicado. Ainda estou a tentar fazer esse equilíbrio e acho que já tenho um bom post introdutório. No próximo, irei falar de como tudo começou; do meu historial médico, que me levou a ter de optar pela rinoseptoplastia, quase 13 anos depois daquilo que parecia ter sido apenas "uma grande constipação".