sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A minha rinoplastia – parte 2: Os problemas respiratórios

Nunca na vida tive problemas respiratórios: não sei o que são alergias, asma ou sinusite. Não imagino o desconforto das pessoas que, todos os anos, sofrem com pólenes, com as mudanças de estações, e que não se podem aproximar sequer de animais, devido ao pêlo destes. Mas quando fiz 17 anos, a minha aparente imunidade a problemas de respiração desapareceu.

Andava na escola secundária quando tive um episódio de constipação, muito grande, que me provocou uma sensação de obstrução permanente. Depois de dois anos de várias tentativas falhadas em aliviar a minha respiração, incluíndo medicação, inúmeros exames e até testes de alergias (sempre negativos), fui a uma consulta de otorrinolaringologia no Hospital Pulido Valente, em 2010, onde após novos exames, me foi dito que teria de remover os adenóides. Não pude deixar de estranhar que, com 19 anos, ainda houvesse a hipótese de eu ter adenóides a retirar, visto ser sabido que apenas costumam causar problemas em idades mais precoces, nomeadamente em bebés e crianças. No entanto, a otorrinolaringologista que me atendeu assegurou-me de que eram sim adenóides, e que apesar de se manifestarem maioritariamente em crianças, não era raro acontecer também em adultos. Foi-me explicado que era “carne que eu tinha a mais”, responsável pela obstrução que sentia.

A médica do Pulido Valente disse-me que seria apenas uma cirurgia de ambulatório, que não teria sequer de fazer penso e que, no prórpio dia, iria para casa. Foi-me feita então uma turbinoplastia, da qual acordei muito mal, com um tamponamento monumental. Foi-me dito que tinha ocorrido um erro e que tinham cortado carne que não era suposto – das primeiras coisas que ouvi uma enfermeira dizer-me assim que acordei - e que eu teria de ir para casa com todo aquele tamponamento durante uma semana, sem poder comer sólidos, nem mexer-me grande coisa. Passei pessimamente, cheia de mal estar, sem dormir nem comer quase nada, durante oito dias seguidos. Só podia respirar pela boca, o que me causava imensas dores de garganta, que ficava sequíssima e arranhada, sobretudo durante a noite. Tive um ataque de pânico num dos dias, em que queria desesperadamente arrancar tudo aquilo do nariz, poder respirar livremente e acabar com toda aquela aflição. Desmaiei de fraqueza na manhã do dia da consulta para a remoção do tamponamento, na semana seguinte.

A remoção foi das experiências médicas mais cruéis a que até hoje me submeteram – sendo que até me considero uma pessoa bastante resistente à dor e sem medo de procedimentos médicos. Aquilo que, ao espelho, me pareciam duas simples bolinhas brancas visíveis à entrada das narinas, eram na verdade duas compridíssimas “minhocas” de algodão retorcido e enfiado pelo meu nariz adentro, até à testa. O meu pai, que era meu acompanhante no consultório naquele dia, foi inclusive mandado sair, para não ficar impressionado com o que se iria passar a seguir: Com umas pinças, a médica retirou-me ambos os algodões, naquilo que foi das experiências mais dolorosas e desconfortáveis que já vivi nesta vida. A única coisa que aquilo me fazia lembrar era a remoção do cérebro, feita pelos egípcios, aos mortos, com um gancho, antes de os mumificarem. - A sensação foi tal, que não encontro, ainda hoje, melhor comparação. No final da remoção, as minhas narinas foram ainda “aspiradas” com uns tubos, para remover crostas e restos de sangue. Fiquei, no mínimo enjoada. Saí do hospital com um narigão ultra inchado, mas com a promessa de que dali em diante respiraria melhor.

Porém, passados apenas uns meses, voltei à situação inicial de obstrução, que continuava a incidir sempre mais na narina direita. Depois de vários medicamentos que tentei e que me foram receitados por vários médicos ao longo dos anos, para combater e resolver a situação (Avamys, Sinutab, Aerius, Lergonix, Nasex, Ilvico, inúmeros antigripais, medicamentos naturais, águas do mar, anti-histamínicos e injecções anti-inflamatórias, entre outros) continuei sempre a sofrer com a situação, prejudicando sobretudo o meu sono e, no geral, perdendo qualidade de vida. 

Em 2017, após nova tentativa de exames, novo panorama: foi-me dito, por outra médica otorrinolaringologista, desta vez no hospital de Vila Franca de Xira, que tinha um ligeiro desvio do septo, que afetcava a narina direita, mas, na opinião dela, não grave o suficiente para justificar uma cirurgia de correção. Após TAC aos seios perinasais, diagnosticou-me Rinite Crónica e receitou-me medicamentos, alguns já referidos acima, que continuaram a não melhorar a minha situação. Em 2019, após nova TAC, foi-me novamente diagnosticado um ligeiro desvio do septo, mas já não foi feita menção à situação de Rinite, apesar da permanência da situação aflitiva dos sintomas de obstrução nasal. Sentia o nariz extremamente entupido, especialmente a narina direita, que, de noite, mas, ocasionalmente, também de dia, chegava a ficar completamente congestionada. A obstrução, por vezes, passava de uma narina para a outra, mas sempre com maior incidência na direita.

Esta obstrução piorava consideravelmente sempre que me constipava, quando chorava ou sempre que me deitava, fosse para dormir à noite, fosse para estar simplesmente deitada sem dormir, o que me fazia ficar extremamente ofegante e aflita, ao ponto de ter de recorrer a sprays de alívio nasal, constantemente. (Entre eles, o Nasorhinathiol, no qual fiquei viciada durante anos, e com o qual se deve ter cuidado, pois a sua administração não deve ultrapassar os 3 dias). Estes episódios aconteciam muitas vezes durante a noite, e acordava frequentemente nesta aflição, com falta de ar. Dizer que as minhas noites eram mal dormidas é um eufemismo. Com o nariz completamente tapado, não conseguia dormir nem descansar o necessário. A minha qualidade de sono, já fraca por outros antecedentes, foi piorando ao longo dos anos.

Se apanhasse gripe ou uma constipação, estas prolongavam-se por semanas e semanas a fio, normalmente entre três a quatro. Lembro-me que uma caixa de Antigrippine ou um tubo de Griponal inteiros não eram suficientes para ficar curada, tendo sempre de comprar mais do que uma caixa. Essas semanas eram muito penosas porque durante esse tempo, a funcionalidade do meu nariz tornava-se praticamente inexistente. Se houve vezes em que nem sequer me conseguia assoar, - porque, no dia a dia, não se tratava de descarga mucosa (ranho) - noutras vezes, pelo contrário, tinha imensa, persistindo sempre, apesar de tudo, a obstrução das narinas.

Este problema chegou ao ponto de interferir também com a minha vida laboral; Em Dobragem, o mau funcionamento da minha respiração interferia com as gravações, onde, pelo meio dos meus diálogos, ficavam constantemente registados barulhos do ar a passar pelo nariz – sob a forma de pequenos roncos, que, não sendo audíveis numa conversa banal no dia-a-dia, eram apanhados pelos equipamentos de captação de som, nos estúdios. Para mim, que tinha acabado de iniciar o meu percuso profissional na área, era um entrave enorme, pois aquilo que podiam ser gravações rápidas, levavam o dobro ou o triplo do tempo a gravar, não só pelo meu normal e compreensível ritmo mais lento de trabalho, próprio de quem tinha acabado de se estrear na área, mas também devido aos vários takes que eram necessários repetir, por causa dos barulhinhos provocados pelo meu problema.

Exausta e pelos cabelos com tudo isto, cansada de anos a ser mal atendida nos hospitais públicos, fartinha de ver o meu problema negligenciado por médicos atrás de médicos, que desfaziam da situação sem o solucionarem, preocupada com o meu sono cada vez mais pobre e com a minha qualidade de vida no geral, foi numa conversa com uma prima que tinha feito uma rinoplastia há pouco tempo, que comecei a ponderar outra solução: pedir a opinião ao médico dela; um profissional de renome, reconhecido a nível nacional, europeu e mundial, a quem confiar o meu caso.

Sem comentários:

Enviar um comentário