segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Arte, por onde andas?

Como pequena artista que me considero desde os 2 anos, a Arte é indissociável de mim, e é um tema que me afeta de sobremaneira. Com algumas saudades da cadeira de Arte e Cultura, que pude felizmente estudar em Comunicação, é sobre a grande ausência da Arte nos nossos dias que queria falar hoje. Se são minimamente interessados na área, penso que gostarão de ler este texto, que preparei orgulhosamente durante dias. E no fim do texto, direi porque digo orgulhosamente.

Leonardo Da Vinci, Miguel Ângelo, Vermeer, Rembrandt. Durante séculos, vários foram os mestres da Arte que enriqueceram a sociedade Ocidental com trabalhos de beleza inigualável. Obras como A Pietá, Giocconda, David, toda a Capela Sistina, foram só algumas das expressões artísticas que não só inspiraram, como também motivaram e aprofundaram o ser humano ao longo das Eras. Para a execução destas obras magníficas, estes génios da Arte exigiram de si próprios nada menos que os mais altos padrões de excelência, superando-se em relação ao trabalho dos mestres que os precederam e continuando sempre a aspirar à mais alta qualidade possível e alcançável no seu trabalho.
Teto da Capela Sistina
Mas algo aconteceu algures pelo século XX, onde a verdadeira Arte, na minha opinião, morreu. O Profundo, o Inspirador e o Belo foram substituídos pelo Novo, o Diferente e o Feio. Nas entrelinhas, surgiram a Arte Moderna, o Contemporâneo, a Pop Art, e semelhantes tentativas de substancializar Arte que não o é verdadeiramente. Nos nossos dias, o Patético, o desprovido de sentido ou o puramente ofensivo são considerados o melhor da Arte Moderna.Como é que morre assim todo um milénio de ascensão à Perfeição e à Excelência? Talvez não tenha morrido per se, mas lá que foi empurrado para bem longe, foi.

Petra
Tudo começou com os Impressionistas dos fins do século XIX, que se rebelaram contra a Académie des Beaux Arts e contra o Padrão Clássico por ela exigido e doutrinado. Estes modernistas rebeldes iniciaram então o começo do chamado Relativismo Estético – A ideia de que “A Beleza está nos olhos de quem a vê.”
Tal como acontece na maioria de todas as revoluções, a primeira geração destes rebeldes até produziu obras de mérito genuíno. Monet, Renoir e Degas ainda mantêm, na sua obra, traços de desenho e de execução bem disciplinados. 

Harmonia Rosa, de Monet
Baile em Moulin de Renoir
Prima Ballerina, de Degas
Mas os padrões viriam a decair com a vinda das gerações seguintes, até deixarem de existir padrões. Tudo o que sobrou desta brincadeira foi a Expressão Pessoal.

A ideia de Padrão Universal de Qualidade encontra hoje em dia uma forte resistência, chegando a ser ridicularizada. Os Padrões Universais, que nos trouxeram obras como a Pietá, são hoje confrontados com o Relativismo Estético, de onde saiu, por exemplo, Petra, a escultura alemã galardoada em 2011, de uma mulher-polícia, agachada, a urinar urina sintética. Sem Padrões Estéticos não há maneira de determinar qualidade ou inferioridade numa obra.

Qual a diferença entre um quadro de Jackson Pollock e a mesa de trabalho sobre a qual os meus alunos fazem trabalhos manuais? Se o quadro de Pollock é considerado Arte, deverá uma mesa salpicada de tinta ter o mesmo estatuto? Quem ou o que é que determina a Qualidade neste caso?

Não só diminuiu a qualidade da Arte, como a sua subjetividade perdeu transcendência, dando lugar ao Vulgar. Onde antes tínhamos artistas que alicerçavam os seus trabalhos na substancialidade e integridade de áreas como a História, a Literatura, a Religião, a Mitologia, hoje temos ‘artistas’ que usam a sua 'arte' para fazer afirmações, os chamados statements. “Eu estou aqui”, “Olhem para mim”, “Este sou eu”, “Eu sou especial”. Muitas destas afirmações, não raras vezes vêm acompanhadas do fator choque, sem o qual muitas obras não se sustentariam. 
Que m... aravilha é esta?
Toda a gente adora os Impressionistas de hoje em dia - na Arte e fora dela. Bora lá ser do contra, ser diferente, chocar a malta e ainda ser um Artista por isso, ou pelo menos ser falado. Os grandes Mestres do Passado também fizeram afirmações, claro. Mas nunca à custa da excelência visual e substancial das suas obras. 

A comunidade artística também tem muita culpa disto. A Arte Moderna existe porque é fácil e rápido encher espaço num museu vazio. Os diretores desses museus, proprietários de galerias de Arte e os críticos incitam e financiam a produção de autênticos disparates, sendo os primeiros a dizer que aquilo tem um peso, que é magnífico...  Sem nunca se aperceberem de que estão, de facto, a representar o papel do Rei, no conto “O Rei vai Nu”.

Porque é disso que a Arte Moderna hoje se trata – de uma interminável e ridícula peça de teatro baseada na história d ‘O Rei vai Nu’, onde alguém nos incute de que tudo são peças de Arte e que, se não vemos Arte na tela amarela às pintinhas roxas à nossa frente, que podia ter sido pintada pelo nosso filho de 2 anos, é porque somos burros, artisticamente incultos ou então algo não está bem connosco. Mas as pessoas que nos tentam incutir isso, tal como o Rei do conto, sabem perfeitamente de que não está lá Arte nenhuma. É por isso que um museu Joe Berardo é (lamento a qualquer fã) uma perda de neurónios, e nunca vai estar ao nível de enriquecimento cultural de um Louvre.

Museu Joe Berardo

Galeria Apollo, Museu do Louvre
Se eu colocar os meus óculos em cima de uma bancada, num museu de Arte Moderna, alegando que aquilo é Arte, só tenho pena de quem acreditar em tal absurdo. O mesmo se aplica a uma tela em branco que contém apenas uma bola de cor lá dentro. Ou a uma cadeira de aço retorcido no meio do corredor do museu. 

Na minha modesta opinião, essas “obras” transmitem a mensagem de que eu, como espectadora, não sou merecedora do tempo do artista, de que não valho o esforço dele para ser impressionada. Os verdadeiros artistas colocaram engenho e arte, tempo, suor e dedicação às obras hercúleas e imortais que todos conhecemos. Os Luísadas não foram escritos num só dia, tal como a Capela Sistina não foi pintada num mês, nem a estátua da Pietá foi esculpida num ano. É por isso que merecem a nossa admiração e maravilhamento. Houve um esforço do artista em se superar, e imortalizar-se, ganhando a nossa consideração, querendo o máximo da perfeição.

Muitos dos pseudo-artistas de hoje são um bando de pessoas preguiçosas que não têm o estímulo nem a vontade necessários para fazer algo digno de ser sequer bom. Então chamam Arte ao que quer que criem. E como pseudo-artistas que são, só lhes resta esperar que todo o rebanho neo inteligente, desprovido de qualquer talento ou capacidades para reconhecer Arte, olhe para aquilo, cofiando uma barbicha invisível no queixo, e diga “Arte!”.

Os desenhos animados rápidos, pouco artísticos e de informação inútil ou ridícula vistos pela criançada de hoje em dia
As verdadeiras obras primas da Animação, a que muitas crianças deviam ter acesso
Infelizmente não se trata só da Arte. A cultura dos tempos modernos detesta a objetividade no geral. Adora sim relativizar culturalmente a moralidade, o subjetivismo e a valorização de sentimentos acima de factos. Tudo deve ser aceite e tolerado, excepto standards ou padrões objetificados. O Relativismo Artístico, tal como o relativismo moral, é puro cancro na nossa civilização.

Penso que os artistas de hoje valorizam esta falta de padrões/ standards e qualidade mensurável porque isso permite aos sem talento, e a quem faltam capacidades e dons sentirem-se ao mesmo nível dos melhores ou de um bom artista. É como estar num pedestal invisível e estar “no topo”, como estão os melhores, e sentirem-se ao nível de um Da Vinci. O dinheiro fácil a que vendemos e compramos tudo hoje em dia, dá a estas pessoas a ideia de que: “Uau! Há realmente quem PAGUE por isto – um quadro todo vermelho.”
Sim, isto!...
Não só não se tentam melhorar como criadores, fazem com que literalmente pareça que não houve ali nenhum esforço, ao ponto de querer fazer o espectador pensar que não pode ser assim tão simples, que houve mesmo algum trabalho por detrás daquela “obra”. Que há algum valor que eu não vejo, mas que os outros aparentemente vêem. (Mas também não vêem). E assim se dá valor a qualquer porcaria que se tente criar. Essas criações prescindem de algo novo, único ou bom, de modo tão dolorosamente óbvio que os seus autores tentam compensar esse vazio de valor através do fator choque.

A rapper Nicki Minaj a vender o seu... talento
Miley Cyrus num dia normal em cima do palco
Porque é que na Música de hoje em dia tantos Artistas precisam de chocar? Porque é que tantas artistas femininas, por exemplo, têm de se despir, dançar em poses pornográficas e abanar o rabo nos videoclipes ou atuações ao vivo das suas músicas? Porque é que os temas predominantes na música de hoje são o ter dinheiro, ser-se rico, famoso, ou sexy? Qual é a substancialidade dessas mensagens agressivas, disfarçadas de empoderamento? O que é que estes ‘artistas’ têm tanto a provar de modo tão aguerrido, ao seu público, que não seja o seu talento para a música? Provavelmente não o têm... por isso precisam de chocar.
Celine Dion, a bem comportada artista feminina que mais discos vendeu na História, que gravou a música do Titanic num só take e a quem muito poucos dedicam o seu tempo cultural
Porque é que temos de ser todos vítimas deste mau gosto? Não o sendo. Formando a nossa opinião, senti-la e dá-la a conhecer quando adquirimos uma obra. Afinal de contas as galerias de arte ou a indústria da música são um negócio como qualquer outro – se o produto não vende, será descontinuado. Há que celebrar o que sabemos ser bom e ignorar aquilo que não o é.



Orgulhosamente porque tentei colocar o melhor de mim nesta publicação. Tive respeito pelo público ainda pequenino que sei que me acompanha. E demorei a fazê-lo, porque quis que fosse bom. E as coisas boas levam tempo. A Arte boa leva tempo. Não querendo com isto dizer que este artigo seja uma forma de Arte, de todo. Mas é uma forma de mostrar a minha faceta exigente, aplicada e perfecionista. Qualidades típicas de qualquer artista. E só por ter feito esta rima, ein? Já serei uma? Obrigada por lerem até ao fim <3
                               



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