Leonardo Da Vinci, Miguel Ângelo, Vermeer, Rembrandt. Durante séculos, vários foram os mestres da Arte que
enriqueceram a sociedade Ocidental com trabalhos de beleza inigualável. Obras como
A Pietá, Giocconda, David, toda a Capela Sistina, foram só algumas das
expressões artísticas que não só inspiraram, como também motivaram e
aprofundaram o ser humano ao longo das Eras. Para a execução destas obras
magníficas, estes génios da Arte exigiram de si próprios nada menos que os mais
altos padrões de excelência, superando-se em relação ao trabalho dos mestres
que os precederam e continuando sempre a aspirar à mais alta qualidade possível
e alcançável no seu trabalho.
Teto da Capela Sistina |
Mas algo aconteceu algures pelo
século XX, onde a verdadeira Arte, na minha opinião, morreu. O Profundo, o Inspirador
e o Belo foram substituídos pelo Novo, o Diferente e o Feio. Nas entrelinhas,
surgiram a Arte Moderna, o Contemporâneo, a Pop Art, e semelhantes tentativas de
substancializar Arte que não o é verdadeiramente. Nos nossos dias, o Patético,
o desprovido de sentido ou o puramente ofensivo são considerados o melhor da
Arte Moderna.Como é que morre assim todo um milénio de ascensão à Perfeição e à
Excelência? Talvez não tenha morrido per
se, mas lá que foi empurrado para bem longe, foi.
Petra |
Tudo começou com os
Impressionistas dos fins do século XIX, que se rebelaram contra a Académie des
Beaux Arts e contra o Padrão Clássico por ela exigido e doutrinado. Estes
modernistas rebeldes iniciaram então o começo do chamado Relativismo Estético –
A ideia de que “A Beleza está nos olhos de quem a vê.”
Tal como acontece na maioria de
todas as revoluções, a primeira geração destes rebeldes até produziu obras de
mérito genuíno. Monet, Renoir e Degas ainda mantêm, na sua obra, traços de
desenho e de execução bem disciplinados.
Harmonia Rosa, de Monet |
Baile em Moulin de Renoir |
Prima Ballerina, de Degas |
Mas os padrões viriam a decair com a
vinda das gerações seguintes, até deixarem de existir padrões. Tudo o que
sobrou desta brincadeira foi a Expressão Pessoal.
A ideia de Padrão Universal de Qualidade
encontra hoje em dia uma forte resistência, chegando a ser ridicularizada. Os
Padrões Universais, que nos trouxeram obras como a Pietá, são hoje confrontados com o Relativismo Estético, de onde
saiu, por exemplo, Petra, a escultura alemã galardoada em 2011, de uma mulher-polícia,
agachada, a urinar urina sintética. Sem Padrões Estéticos não há maneira de
determinar qualidade ou inferioridade numa obra.
Qual a diferença entre um quadro
de Jackson Pollock e a mesa de trabalho sobre a qual os meus alunos fazem
trabalhos manuais? Se o quadro de Pollock é considerado Arte, deverá uma mesa
salpicada de tinta ter o mesmo estatuto? Quem ou o que é que determina a
Qualidade neste caso?
Não só diminuiu a qualidade da
Arte, como a sua subjetividade perdeu transcendência, dando lugar ao Vulgar.
Onde antes tínhamos artistas que alicerçavam os seus trabalhos na substancialidade e
integridade de áreas como a História, a Literatura, a Religião, a Mitologia,
hoje temos ‘artistas’ que usam a sua 'arte' para fazer afirmações, os chamados statements. “Eu estou aqui”, “Olhem para
mim”, “Este sou eu”, “Eu sou especial”. Muitas destas afirmações, não raras
vezes vêm acompanhadas do fator choque, sem o qual muitas obras não se
sustentariam.
Que m... aravilha é esta? |
Toda a gente adora os Impressionistas de hoje em dia - na Arte e
fora dela. Bora lá ser do contra, ser diferente, chocar a malta e ainda ser um
Artista por isso, ou pelo menos ser falado. Os grandes Mestres do Passado
também fizeram afirmações, claro. Mas nunca à custa da excelência visual e
substancial das suas obras.
A comunidade artística também tem muita culpa disto. A Arte Moderna existe porque é fácil e rápido encher espaço num museu vazio. Os diretores desses museus, proprietários de galerias de Arte e os críticos incitam e financiam a produção de autênticos disparates, sendo os primeiros a dizer que aquilo tem um peso, que é magnífico... Sem nunca se aperceberem de que estão, de facto, a representar o papel do Rei, no conto “O Rei vai Nu”.
A comunidade artística também tem muita culpa disto. A Arte Moderna existe porque é fácil e rápido encher espaço num museu vazio. Os diretores desses museus, proprietários de galerias de Arte e os críticos incitam e financiam a produção de autênticos disparates, sendo os primeiros a dizer que aquilo tem um peso, que é magnífico... Sem nunca se aperceberem de que estão, de facto, a representar o papel do Rei, no conto “O Rei vai Nu”.
Porque é disso que a Arte Moderna
hoje se trata – de uma interminável e ridícula peça de teatro baseada na
história d ‘O Rei vai Nu’, onde alguém nos incute de que tudo são peças de Arte
e que, se não vemos Arte na tela amarela às pintinhas roxas à nossa frente, que
podia ter sido pintada pelo nosso filho de 2 anos, é porque somos burros,
artisticamente incultos ou então algo não está bem connosco. Mas as pessoas que nos
tentam incutir isso, tal como o Rei do conto, sabem perfeitamente
de que não está lá Arte nenhuma. É por isso que um museu Joe Berardo é (lamento a qualquer fã) uma
perda de neurónios, e nunca vai estar ao nível de enriquecimento cultural de um Louvre.
Museu Joe Berardo |
Galeria Apollo, Museu do Louvre |
Se eu colocar os meus óculos em
cima de uma bancada, num museu de Arte Moderna, alegando que aquilo é Arte, só tenho pena de
quem acreditar em tal absurdo. O mesmo se aplica a uma tela em branco que
contém apenas uma bola de cor lá dentro. Ou a uma cadeira de aço retorcido no
meio do corredor do museu.
Na minha modesta opinião, essas “obras” transmitem a
mensagem de que eu, como espectadora, não sou merecedora do tempo do artista, de
que não valho o esforço dele para ser impressionada. Os verdadeiros artistas
colocaram engenho e arte, tempo, suor e dedicação às obras hercúleas e imortais
que todos conhecemos. Os Luísadas não foram escritos num só dia, tal como a
Capela Sistina não foi pintada num mês, nem a estátua da Pietá foi esculpida num ano. É por isso que merecem a nossa
admiração e maravilhamento. Houve um esforço do artista em se superar, e
imortalizar-se, ganhando a nossa consideração, querendo o máximo da perfeição.
Muitos dos pseudo-artistas de hoje
são um bando de pessoas preguiçosas que não têm o estímulo nem a vontade
necessários para fazer algo digno de ser sequer bom. Então chamam Arte ao que
quer que criem. E como pseudo-artistas que são, só lhes resta esperar que todo
o rebanho neo inteligente, desprovido
de qualquer talento ou capacidades para reconhecer Arte, olhe para aquilo, cofiando uma barbicha invisível no queixo, e diga “Arte!”.
Os desenhos animados rápidos, pouco artísticos e de informação inútil ou ridícula vistos pela criançada de hoje em dia |
As verdadeiras obras primas da Animação, a que muitas crianças deviam ter acesso |
Infelizmente não se trata só da
Arte. A cultura dos tempos modernos detesta a objetividade no geral. Adora sim
relativizar culturalmente a moralidade, o subjetivismo e a valorização de
sentimentos acima de factos. Tudo deve ser aceite e tolerado, excepto standards ou padrões objetificados. O
Relativismo Artístico, tal como o relativismo moral, é puro cancro na nossa
civilização.
Penso que os artistas de hoje valorizam esta falta de
padrões/ standards e qualidade mensurável porque isso permite aos sem talento, e a quem faltam capacidades e
dons sentirem-se ao mesmo nível dos melhores ou de um bom artista. É como estar
num pedestal invisível e estar “no topo”, como estão os melhores, e sentirem-se
ao nível de um Da Vinci. O dinheiro fácil a que vendemos e compramos tudo hoje
em dia, dá a estas pessoas a ideia de que: “Uau! Há realmente quem PAGUE por
isto – um quadro todo vermelho.”
Sim, isto!... |
Não só não se tentam melhorar como criadores, fazem com
que literalmente pareça que não houve ali nenhum esforço, ao ponto de querer
fazer o espectador pensar que não pode ser assim tão simples, que houve mesmo algum
trabalho por detrás daquela “obra”. Que há algum valor que eu não vejo, mas que
os outros aparentemente vêem. (Mas também não vêem). E assim se dá valor a
qualquer porcaria que se tente criar. Essas criações prescindem de algo novo,
único ou bom, de modo tão dolorosamente óbvio que os seus autores tentam
compensar esse vazio de valor através do fator choque.
A rapper Nicki Minaj a vender o seu... talento |
Miley Cyrus num dia normal em cima do palco |
Porque é que na Música de hoje em dia tantos Artistas
precisam de chocar? Porque é que tantas artistas femininas, por exemplo, têm de
se despir, dançar em poses pornográficas e abanar o rabo nos videoclipes ou
atuações ao vivo das suas músicas? Porque é que os temas predominantes na
música de hoje são o ter dinheiro, ser-se rico, famoso, ou sexy? Qual é a
substancialidade dessas mensagens agressivas, disfarçadas de empoderamento? O
que é que estes ‘artistas’ têm tanto a provar de modo tão aguerrido, ao seu público, que não seja o
seu talento para a música? Provavelmente não o têm... por isso precisam de
chocar.
Celine Dion, a bem comportada artista feminina que mais discos vendeu na História, que gravou a música do Titanic num só take e a quem muito poucos dedicam o seu tempo cultural |
Porque é que temos de
ser todos vítimas deste mau gosto? Não o sendo. Formando a nossa opinião,
senti-la e dá-la a conhecer quando adquirimos uma obra. Afinal de contas as
galerias de arte ou a indústria da música são um negócio como qualquer outro – se o produto
não vende, será descontinuado. Há que celebrar o que sabemos ser bom e ignorar
aquilo que não o é.
Orgulhosamente porque tentei
colocar o melhor de mim nesta publicação. Tive respeito pelo público
ainda pequenino que sei que me acompanha. E demorei a fazê-lo, porque quis que
fosse bom. E as coisas boas levam tempo. A Arte boa leva tempo. Não querendo com
isto dizer que este artigo seja uma forma de Arte, de todo. Mas é uma forma de
mostrar a minha faceta exigente, aplicada e perfecionista. Qualidades típicas
de qualquer artista. E só por ter feito esta rima, ein? Já serei uma? Obrigada
por lerem até ao fim <3
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