sexta-feira, 5 de março de 2021

A minha rinoplastia - parte 5: A questão do queixo e o dia da cirurgia

Por esta altura, sinto alguma pressão para despachar estes posts e apressar-me a responder às perguntas que todos querem ver respondidas - nomeadamente a questão do preço, que me parece ser a que mais curiosidade levanta. Estou a planear um post final, que deverei publicar daqui a menos de duas semanas, quando tiver feito precisamente um mês desde que fui operada, onde farei uma espécie de wrap-up com todas as perguntas mais pedidas, bem como uma foto alusiva aos resultados de um mês post-op. Sinto-me mais confortável se organizar a escrita do meu relato, por partes, cada uma com princípio, meio e fim. Culpem restos de Jornalismo por isso, o meu gosto por escrever, a minha nerdiness, mas é este o meu modus operandi.  Peço desculpa se está a parecer demasiado longo, mas é deste modo que prefiro apresentar a minha experiência. So... bear with me.


Uma cirurgia estética não é algo para o qual o comum mortal tenha meios que possa disponibilizar na hora; É um empreendimento que requer organização financeira, tempo e poupança. A pandemia, curiosamente, permitiu-me isso, apesar de tudo; Sem sair de casa, cortando em tudo o que era supérfluo e tendo o privilégio de continuar a trabalhar em teletrabalho, dei por mim a conseguir poupar mais do que o habitual e a conseguir orientar as minhas metas. Em Julho, senti confiança para decidir que queria a rinoseptoplastia e contactei o doutor nesse mês. A minha cirurgia ficou marcada para 15 de Fevereiro de 2021. A 19 de Janeiro tive a minha segunda consulta com o doutor, desta vez na sua clínica particular, My Face Clinic. Todas as minhas consultas subsequentes passariam a ser feitas aí, e já não nos Lusíadas, onde ele agora apenas opera, mas já não atende.

Nessa segunda consulta, voltámos a rever o meu caso, visto terem-se passado 10 meses desde a última conversa. Foi nesse dia que surgiu também outra questão relacionada com o aspecto do meu nariz: não conseguia deixar de notar, na mesma foto de perfil que havia sido retocada da primeira vez, e que me tinha agradado nessa altura, que o nariz continuava a parecer algo grande. Eu sabia que não queria um nariz demasiado pequeno, mas não deixava de sentir que afinal também não era bem aquilo que eu queria. E estava fora de questão dispender uma pequena fortuna para, no fundo, sentir que o nariz me continuava a parecer, de algum modo, demasiado saliente. O doutor achou estranho, pois dentro do “natural” que eu pretendia, não era possível mexer mais no nariz sem que ele se tornasse descaracterizado, e eu até tinha noção disso e concordava com ele. O que ele apontou prontamente como o motivo para o meu ponto de vista - que não era, de todo, infundado - foi o meu queixo, que era ligeiramente recuado e tinha alguma gordurinha, que o tornava pouco definido, ajudando a que o nariz parecesse sempre mais saliente, com ou sem a rinoplastia. 

Sendo o nariz a parte sempre mais protuberante do nosso rosto, ele só vai parecer ainda maior quanto mais recuado for o  queixo, em relação à nossa dentição superior, ou se, por vezes, for pouco definido. Eu tinha esses dois diagnósticos. Então, o que o doutor me sugeriu, foi fazer-me umas injecções de ácido hialurónico, para dar mais alguma definição e conferir a ligeira mas necessária saliência ao queixo, para que este fosse de encontro à transformação do nariz, e ajudasse à obtenção do perfil natural que eu pretendia. Soube logo no momento que queria fazer também isso. Iria sair ligeiramente fora do orçamento para o qual me tinha preparado, mas avançar com a cirurgia para depois não gostar do meu perfil não era obviamente opção. Se ia fazer um investimento daqueles, era para que ficasse bem feito, e nada menos do que isso. 

O médico passou-me análises e uma indicação para fazer o teste à Covid-19, que teria de testar negativo. Ambos seriam feitos nos Lusíadas, dois dias antes da cirurgia. Também me marcou uma consulta de Anestesiologia, que aconteceu via telefone no dia 10 de Fevereiro, e onde fiquei a saber que iria ser operada sob anestesia geral. Dia 13 fui ao Hospital para fazer as análises e o teste à Covid-19, que testou negativo.

Os dias que antecederam o dia da cirurgia passaram descontraidamente, e bastante rápido, de tal modo, que os vivi sem quase pensar em tudo aquilo. Fevereiro foi um mês em que me mantive bastante ocupada e bem-disposta, e onde senti que nem tive bem tempo para absorver e processar a realidade de que iria fazer uma cirurgia. Talvez a maioria das pessoas, no meu lugar, se sentisse nervosa, entusiasmada ou impaciente. No meu caso, vivi um dia de cada vez, sem nunca pensar muito à frente ou antecipar demasiado. É uma tendência que sinto que tem vindo a crescer em mim, e pergunto-me se tem a ver com a idade ou com a mentalidade presentista que a pandemia me ajudou a cultivar no último ano.



Dia da cirurgia: Acordei às 9h do dia 15, já com tudo pronto. Estava em jejum desde a meia noite, como me tinha sido indicado, pelo que apenas tive de vestir a roupa confortável que me mandaram trazer, e sair de casa. A cirurgia estava marcada para as 12h e iria ter alta no dia, pelo que não foi necessário fazer uma mala de hospital. Cheguei aos Lusíadas pouco depois das 10h, fiz o check-in e levaram-me até ao meu quarto por volta das 10h40, onde deveria vestir a bata cirúrgica e aguardar. Meia hora depois, uma enfermeira veio ter comigo, para que assinasse uns últimos papéis do hospital e fez-me algumas perguntas que já me tinham sido colocadas pela anestesista ao telefone, na semana anterior: peso, altura, se fumava, se bebia, se sofria de certas condições. Depois disse-me que a operação afinal iria acontecer um pouco mais tarde, e deu-me dois comprimidos que teria de tomar: um anti-histamínico, para ajudar no processo da operação ao nariz e um calmante, para relaxar. Depois fiquei sozinha no quarto e mantive-me distraída no telemóvel. O calmante parecia não me surtir efeito nenhum, porque durante toda a hora que se seguiu, pelo contrário, só me sentia era enérgica e entusiasmada, como se a realidade de que ia ser operada só me tivesse atingido naquele momento. Às 12h30, porém, comecei a sentir-me sonolenta e aninhei-me para uma sesta.

Fiquei instalada na ala de Pediatria, devido à lotação dos quartos de adultos, presumivelmente devido ao flagelo da Covid-19. O meu quarto tinha ótimas instalações e era muito acolhedor.

Acordei pouco antes das 14h com nova visita da enfermeira. Creio que só tinha vindo ver como eu estava, pois apenas me disse para me deixar estar, e dormir. Sentia frio e pedi-lhe uma manta, porque apenas estava tapada por lençóis e uma coberta muito leve. Ela ligou o ar condicionado, dizendo que seria o suficiente, e voltou a sair. O quarto ficou quentinho num instante e rapidamente voltei a adormecer. Dormi pelo que me pareceu uma eternidade, e cheguei, inclusive, a sonhar. Já era bem de tarde quando duas enfermeiras entraram para me virem buscar para a operação. Foi tudo um pouco apressado e não tive tempo de voltar a pegar no telemóvel e verificar que horas eram; tive de o deixar na cabeceira, e segui, na maca, por entre corredores e elevadores, até ao bloco operatório.

Deixaram-me numa sala ao lado do bloco, onde me ligaram alguns fios no peito e me colocaram o catéter na mão. Havia um relógio muito grande na parede em frente, onde estavam marcadas as 15h40. Passei mais de três quartos de hora dentro daquela sala, e só depois entrei para o bloco, uma sala cheia de janelas grandes, por onde entrava muita luz natural. O sol brilhava lá fora e estava uma tarde linda. Estava na esperança de ver o doutor e o enfermeiro da My Face, que também iria estar presente. Mas à minha volta via apenas enfermeiras, todas mulheres, todas bem dispostas mas ao mesmo tempo, numa grande azáfama. Pareceu-me serem umas cinco ou seis. Estavam todas protegidas da cabeça aos pés, e pareciam-me todas idênticas. A anestesista estava entre elas, mas como a consulta com ela tinha sido ao telefone, não a sabia distinguir das restantes profissionais de saúde, todas de fato e máscara. Sem as lentes de contacto era difícil ver bem rostos e caras, de qualquer modo. 

Deduzi que a anestesista fosse aquela que fez a "small-talk” da praxe, comigo. Reconheci-lhe aquilo que pensei ser um sotaque nortenho, no qual não tinha reparado ao telefone, mas ela corrigiu-me e disse-me que era madeirense. Comecei então a dizer-lhe o quão tinha adorado conhecer a Madeira no ano anterior, mas rapidamente me silenciou e pediu: “ - Agora vamos começar a acalmar. Vem aí a primeira dose. Vais só ficar um bocadinho tonta por enquanto, mas não tenhas medo.” Respondi-lhe descontraidamente que não, não tinha medo nenhum. Mal disse isto, fiquei imediatamente zonza, porém, ainda consciente. Conseguia ouvi-las e vê-las mas já não conseguia falar-lhes. Tinha a noção de que me ia “apagar” em breve, mas não estava nervosa. Já tinha sido anestesiada antes. Lembro-me de ter sentido alguma decepção por perceber que não ia ver o doutor nem o enfermeiro, antes da operação começar. Teria querido muito vê-los. Mas sabia que estava bem entregue; tudo se tinha atrasado, afinal de contas. Devo ter ficado naquele limbo dormente durante meio minuto – o que me pareceu ainda algo demorado – e depois apaguei.

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