sexta-feira, 19 de março de 2021

A minha rinoplastia - parte 7: Q&A e apontamentos finais

Eis o último artigo. Nem acredito que já fez pouco mais de um mês desde que tenho um nariz novo e que consegui finalmente terminar a escrita deste meu testemunho. Ao dia de hoje, sinto-me extremamente bem. Sinto que já não me lembro sequer do meu antigo nariz, e poder respirar sem qualquer interferência é uma dávida, depois do quão aflitivos foram para mim os últimos anos, sem conseguir respirar a cem por cento. Por dentro, está curado, por fora, está mesmo muito bonito. Gosto muito de ver o novo nariz ao espelho, e, de certo modo, parece que esteve sempre ali. Não estranhei a diferença, que, ainda assim, foi alguma. Não parece, mas ainda está inchado, sobretudo na ponta, mas vai continuar a desinchar no decorrer dos próximos tempos, pois o seu aspeto final só fica estabilizado ao fim de 6-12 meses. Mas está muito natural, e o modo como ficou não faz adivinhar sequer que alguma vez tive outro nariz.


O antes e o depois (1 mês pós-cirurgia). Se, de frente, pouco ou nada parece que mudou, de perfil, a diferença é notória.

Por achar que havia algum interesse e espaço para algumas questões quanto à minha experiência, resolvi fazer deste último artigo uma secção de algumas perguntas e respostas, muitas delas colocadas nos últimos dias, por seguidores no Instagram, e que acho que são bastante pertinentes.


Posso alegar que tenho um falso desvio de septo para ter motivo suficiente para fazer uma rinoplastia?

Já tenho ouvido relatos de pessoas que dão a desculpa de que têm falsos desvios de septo para fazerem uma rinoplastia. Ou pessoas que tentam convencer as outras de que têm problemas respiratórios ou estéticos, inexistentes (como narizes tortos ou partidos, que na vedade não estão), numa tentativa de fazer com que a decisão de fazer uma rinoplastia pareça mais válida e justificável aos olhos de terceiros. Porque haveriam de fazer isso? Fazer uma cirurgia plástica, seja ela qual for, não tem de ter a validação ou permissão de mais ninguém, sem ser a nossa. Não tem de partir da vontade de mais ninguém, que não a nossa. Não tem de ser um tabu, uma vergonha ou um escândalo para ninguém, muito menos para as outras pessoas. Não tem que ter nenhuma outra justificação que não a de que vos dará felicidade ou melhor saúde. Fingir desvios e narizes tortos que na realidade não o são, nada faz por vocês e é um comportamento completamente desnecessário. 

O seguro de saúde cobre uma rinoplastia?

Regra geral, a rinoplastia não é paga pelos seguros de saúde, porque se trata de uma cirurgia estética, vista como um capricho. Há relatos de pessoas que conseguiram que o seguro a cobrasse no seu todo ou parcialmente, porque partiram o nariz num acidente, por exemplo, e tiveram de o reconstruir, com uma rinoplastia de reconstrução. As rinoplastias de reconstrução devolvem o aspeto anterior ao do acidente, apenas. Não melhoram o aspecto do nariz nem o embelezam. É um caso diferente em que creio que os seguros podem intervir a vosso favor. Também depende muito do tipo de seguro, das próprias seguradoras, dos acordos que os diferentes hospitais têm com elas, do hospital em si. Como não tenho seguro de saúde, não sei mais quanto a esta questão, e acho por bem informarem-se, junto das seguradoras e dos hospitais, acerca de todas as vossas dúvidas.

Se também tiver realmente  um desvio de septo ou outro problema a nível do nariz, o seguro de saúde já cobre a rinoplastia, ou a parte da septoplastia?

Uma coisa é bem certa: não vão pagar menos por alegarem terem problemas de saúde que, após exames, se vai constatar que não estão lá. E se houverem, de facto, problemas, como foi o meu caso, os seguros apenas podem cobrir a parte funcional da cirurgia desde que nunca tenha havido um historial de intervenções médicas sobre os problemas respiratórios de que se queixam. Como eu andei anos em hospitais, a ser atendida por médicos, a fazer exames, e fui inclusivamente operada ao nariz, antes da rinoseptoplastia, tudo isso é informação para que os seguros de saúde não possam cobrir a situação: Como é sabido, os seguros de saúde apenas cobrem problemas que se manifestem no futuro, e servem para preveni-los; nunca vão cobrir problemas dos quais já se queixam e dos quais têm um rasto médico. Mesmo que quisesse ter-me metido num seguro, de propósito para a rinoplastia (mesmo esta incluíndo a septoplastia), ele não iria cobrir nada dela, por muito que provasse os meus problemas no septo; porque estes contavam já com um grande historial médico. De qualquer forma, nada como informarem-se e tirarem dúvidas sobre os vossos casos particulares.

Porquê a escolha do serviço privado? Não se fazem rinoplastias no público?

A minha preferência por ser atendida num hospital privado prendeu-se, primeiro, com o facto de que tive más experiências com o serviço público, ao longo de mais de uma década; Desde médicos muito pouco profissionais que desfaziam das minhas queixas e que inlcusive troçavam de mim, até um diagnóstico mal indicado que levou a uma operação excusada, que me colocou num dos maiores sofrimentos por que já passei, e que era completamente evitável. Segundo, porque o doutor que escolhi apenas opera de modo particular, o que é, aliás comum aos melhores cirurgiões plásticos. Não quer dizer que não hajam bons profissionais a operar no público: soube do caso de um rapaz que, após ter ficado com o nariz partido devido a uma rixa, foi operado num hospital público, com muito sucesso, onde lhe reconstruiram o nariz, recorrendo a uma rinoplastia de reconstrução, que , como já referi, não se trata da rinoplastia normal, que embeleza o nariz. Mas são casos completamente diferentes e apenas posso falar por experiência sobre o meu.

A turbinoplastia que fizeste em 2010 ainda é tão custosa hoje em dia?

Já se passaram onze anos, e segundo o meu médico, a medicina evouliu muito, nesse periodo de tempo, sobretudo a nível dos procedimentos cirúrgicos e a nível da recuperação. Já ninguém fica uma semana sem respirar, com um tamponamento até à testa, que, a remover, vai parecer que estamos a ser mumificados na época dos faraós. Não quer dizer que ainda não aconteça, ou que hajam casos diferentes em que recuperações mais suaves ainda não sejam possíveis, mas, regra geral, a medicina já permite recuperações mais pacíficas e muito pouco ou nada dolorosas.

Um desvio de septo requer sempre uma operação?

Depende. Há pessoas com desvios de septo óbvios, que fazem inclusive o nariz parecer torto no exterior, mas que não apresentam queixas no seu dia a dia; e há pessoas que, com desvios mais ligeiros e pouco visíveis do exterior, como era o meu caso, se queixam bastante. Os desvios de septo são responsáveis pela sensação de obstrução nasal permanente, pela dificuldade em respirar de uma ou de ambas as narinas, por ressonar à noite, entre outros. Mas cada caso é diferente, e há pessoas que optam por nunca operar os seus desvios, por não as incomodar necessariamente.

A recuperação é muito desconfortável?

Os únicos desconfortos que senti durante a recuperação da rinoseptoplastia foram a sensação constante de fraqueza por estar, primeiro, sob o efeito dos resquícios da anestesia (que foi muito pesada), e depois sob os efeitos da analgesia. Andei toda a semana muito “mocada” e com pouca energia, mas nunca senti dores físicas. Senti um ardor algo incomodativo nas narinas ao segundo dia, mas passou assim que ajustei a medicação. Há quem diga que não necessitou de medicamentos durante o pós-operatório de uma rinoplastia, mas, como em tudo, cada caso é um caso. Como a rinoseptoplastia envolve a correção de um septo desviado, talvez isso tenha requerido mais cuidados pós-operatório, visto ter sido uma intervenção mais invasiva do que a de uma rinoplastia simples. A nível de nódoas negras, tive sorte; as únicas que tive foram uma “olheira” negra, mais pronunciada no olho direito, uma bastante suave e que nem chegou a escurecer, no olho esquerdo, e umas manchas no queixo devido às injecções.  

Quanto custa uma rinoplastia? E com que gastos extra tenho de contar?

A rinoplastia em Portugal varia entre os 4000€ e os 5000€. A septoplastia sem rinoplastia, no privado, ronda os 3000€. Este valor pode variar conforme as clínicas e os hospitais particulares a que se dirijam. Existem outros valores, para rinoplastias de reconstrução, por exemplo, como já exemplifiquei em cima, que dependem muito do hospital ser público ou privado, da situação ser ou não coberta por seguros, etc. Fora a minha cirurgia, tive de pagar pelas análises ao sangue e pelo teste à Covid, bem como uma taxa de segurança do meu hospital, também relativa à Covid, e ainda a consulta de Anestesiologia. Novamente, estes gastos têm valores diferentes consoante o hospital ou a clínica em que optarem por ser atendidos. Se optarem pelo meu médico, pagam a primeira consulta com ele, na sua clínica particular, mas ele não cobra as consultas seguintes, nem as de pós-operatório. No meu caso, tive também despesa de farmácia, com a medicação que tive de fazer na semana de recuperação, mas há quem passe por pós-operatórios mais simples, que não necessitem de muito, para além do paracetamol.

A clínica My Face tem dois consultórios, um em Lisboa e outro em Coimbra.

Qual o preço das injecções de ácido hialurónico?

Na My Face, as injecções de ácido hialurónico têm o valor de 300€ por unidade. No entanto, não sei se os valores diferem consoante o tipo de intervenção, por exemplo, ou as diferentes áreas do rosto, ou problemas, a tratar.

Sentes preconceito por teres feito uma operação estética?

Até agora não senti preconceito sobre mim, nem nunca o senti por outras pessoas que as façam. Nunca entendi o que é que incomoda tanto os outros acerca de algo que alguém tenha feito a si mesmo, para mudar o seu aspeto, seja por que motivo for. Incomoda-me um pouco que, em Portugal, predomine uma cultura do silêncio e tabu quanto às intervenções estéticas, quando, no entanto, e só falando de rinoplastias, são feitas centenas delas, por ano, no nosso país. O médico que me operou faz entre 200 a 300, anualmente. O que me parece que acontece em Portugal é que, grande parte dos portugueses que vão à faca, não querem admitir, perante os outros, que passaram por procedimentos estéticos, e querem depois fazer meio mundo acreditar que aqueles lábios, seios, glúteos ou nariz lhes surgiram magicamente, do dia para a noite, atribuíndo-lhes desculpas pouco credíveis como a prática de exercício ou a boa genética. Não tenho nada contra quem opta por não fazer um show por ter feito uma plástica, ou que opte pela discrição; pelo contrário, subscrevo. Eu própria mantive sempre uma atitude low profile quanto à minha, por me sentir melhor a lidar com ela, assim. Também acho saudável se, por outro lado, a pesssoa faz questão de expôr mais a sua situação. Não acho é que seja propriamente necessário andar a esconder e a negar as estéticas feitas, sobretudo quando a mudança é óbvia.

Há depois em Portugal muita gente que simplesmente demoniza ou desfaz, das plásticas. Fazem-no muitas vezes porque as consideram como luxos que, não estando ao alcançe de todos, são automáticamente escandalosos ou visto como algo ofensivo. Apesar de, até aqui, não ter sentido preconceito nenhum, sinto muitas vezes que, ao falar sobre o que fiz, tenho sempre de enfatizar que foi, de facto, uma rinoseptoplastia, e que foi necessária à minha saúde. E noto que, apesar de ser verdade, há quem pareça ficar a duvidar. Sobretudo pessoas fora do círculo familiar, que não notaram tanto a diferença do antes e do pós-cirurgia, no exterior do meu nariz, e que, sobretudo, não conviveram com a minha realidade médica. Isto porque é tão comum a mentira de septos desviados fantasma, dada para que os outros dêem à pessoa uma espécie de permissão imaginária, que fará com que a sua intenção em se submeter a uma estética seja mais válida ou justificada.

Acho estes comportamentos tristes e típicos de mentalidades pequenas, como muita da que predomina em Portugal. Desde as pessoas que optam por esconder que fizeram plásticas óbvias, (quer por medo de julgamento, quer por intenção de ludibriar os outros em como nada fizeram), às pessoas que apontam o dedo e exigem justificações que não são da sua conta. As pessoas têm de fazer o que quiserem, se assim gostam, se assim o podem, e sobretudo, porque não estão a incomodar o aspecto, a carteira nem a vida de mais ninguém. Aceito que não se normalize a cirurgia plástica, no sentido de a glamorizar, sobretudo por haver casos de pessoas que abusam delas de modo pouco saudável, mas acho que se deve, sim, normalizar falar sobre ela e permitir que, quem a quiser fazer, seja livre de a fazer sem julgamentos alheios.


Termino por aqui este projecto de escrita, que fico feliz de ter podido iniciar e concluir. Espero que de alguma forma ajude quem pretende enveredar pela mesma experiência, que, relembro, será sempre diferente, de pessoa para pessoa. A minha não podia ter sido melhor, e isso deve-se ao profissionalismo do doutor José Carlos Neves, bem como dos profissionais da clínica My Face e da equipa médica do hospital Lusíadas. 

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